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Para entender as mídias sociais

Não indiquei aqui, por omissão, o volume dois de “Para entender as mídias sociais”, organizado pela dupla colega (pesquisadora e jornalista) – e, mais importante, amiga – Ana Brambilla.

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Mais argumentos contra os ‘especialistas em mídia social’

Eu já falei aqui que estamos sendo invadidos por “especialistas em mídias sociais”, com todos os problemas que isso implica: primeiro, porque desconheço especialistas num assunto tão candente e novo.

Segundo, porque clientes têm sido sistematicamente enganados por pessoas que acham que sabem fazer (e dizem que sabem fazer) gestão de comportamento e administração de comunidades on-line.

Mas minha amiga Ana Brambilla _que desembarca em SP na próxima semana para o Youpix Festival_ detalhou bem essa falsa invasão de especialistas e os riscos que profissionais e clientes estão correndo.

A derrota do cidadão (e o triunfo do jornalismo profissional) revisitados

O texto em que eu detectava a derrota do cidadão para o jornalista profissional na cobertura do terremoto no Haiti suscitou polêmica e debate. Ainda bem, pois exatamente para isso que foi concebido.

A colega Ana Brambilla percebeu algumas coisas como eu: que faltou conteúdo produzido ou atualizado pelo cidadão, especialmente no primeiro momento, e que nunca a mídia formal desesperou-se tanto por contribuição do público sem, entretanto, obter resposta.

Ela cita o trabalho de reportagem de Carel Pedre, a grande referência na cobertura da tragédia (ao lado do canadense Pierre Côté, este reportando de seu país, mas entrevistando, via webcam, muita gente que estava in loco). Ambos são jornalistas _Pedre é um dos mais populares radialistas do Haiti e ainda comanda programas na TV, enquanto Côté há tempos faz transmissões experimentais na web e vive de doações de sua audiência.

Yuri Almeida, aliás Herdeiro do Caos, corrobora minha sensação de que a exclusão digital pode ter sido determinante para explicar o vazio da cobertura cidadã. E cita o poder do rádio como provável canalizador de interesses comuns no cenário da tragédia. Isso só corrobora a tese de que, desta vez, a cobertura foi profissional.

Não estou assumindo a defesa liminar do jornalismo profissional, como fui advertido por quem lembrou do blog de estudantes da Unicamp que estão visitando o Haiti. O blog não foi citado no texto original porque tinha atualização muito deficiente nas horas que seguiram à tragédia, justo quando mais se precisava dele.

Depois de alguns dias, o grupo passou a escrever mais e postou até algumas fotos _uma possível demonstração de que o senso de agilidade, vital ao bom funcionamento do jornalismo, pode ser bastante distinto quando se compara amadores e profissionais.

Quem chegou eventualmente ao Webmanario por obra da busca “Haiti” + “terremoto” pensou estar diante do último bastião de defesa do mainstream. Nada mais equivocado. Os que conhecem o repertório deste site sabem que sou um dos maiores entusiastas da autocomunicação de massas _como tão bem definiu o sociólogo Manuel Castells ao se referir à era da publicação pessoal em seu livro “Comunicación y Poder“, recém-lançado.

O cidadão perdeu para o jornalista na cobertura do terremoto do Haiti, é fato. Que merece ser estudado para entendermos em que circunstâncias isso pode ocorrer de novo, desmontando ou ao menos limitando o mito da testemunha ocular onipresente habilitada a publicar na web algum pedaço da história que testemunhou.

Mídia social, patrulhamento ideológico, visão de futuro e infografia animada: a semana no Webmanario

1. Três perguntas para Ana Brambilla: ‘Quem ignora o que o público diz em mídias sociais não pode ser jornalista’

2. Confecom, uma aberração

3. Visionário, Leo Bogart discorre sobre o presente em artigo de 1984

4. Um gráfico animado impressionante: a evolução da audiência do The New York Times no dia em Michael Jackson morreu

‘Quem ignora o que o público diz em mídias sociais não pode ser jornalista’

Ana Brambilla é minha dupla colega: é jornalista e professora de jornalismo. Mestre em Comunicação, acaba de assumir como editora de mídias sociais do portal Terra. Um desafio e tanto.

E é exatamente sobre mídia social (e jornalismo cidadão, assunto no qual Ana é uma referência) que versa meu bate-papo com ela (via e-mail), o primeiro da série “3 Perguntas Para” que aparecerão com frequência no Webmanario.

Na conversa, ela alerta sobre a importância de o jornalismo profissional estar atento ao que diz e produz e público. E faz uma defesa incondicional do jornalismo cidadão.

Já faz algum tempo que estou fascinado com o fenômeno lan house de periferia e a inclusão digital da população brasileira (NOTA: esta entrevista se deu antes que o IBGE divulgasse que as lan houses só perdem para as residências no acesso à web no Brasil). Já somos o povo que mais tempo passa na web, e nessa faixa social (classes C e D), o avanço na internet é imenso. Sinal de que a rede é um gênero de primeira necessidade ou de que faltam mais opções de entretenimento (notadamente as bancadas pelo poder público)? Até que ponto ficar muito tempo na web é sinal de avanço de um povo?

O tempo on-line, quantitativamente falando, não me parece suficiente para estimar o avanço intelectual de um povo – a menos que essa “intelectualidade” seja reduzida ao “saber mexer” com a tecnologia. É necessário entender, antes, O QUE esse povo anda fazendo on-line, qual o tipo de informação tem acessado, produzido, processado.

Qualquer um que já tenha entrado em uma lan house sabe que o uso de Orkut e MSN é soberano. Considerando que são plataformas de relacionamento e que em termos de contato humano, convivência é um dos traços mais característicos da brasilidade, estas plataformas digitais só vêm intensificar este cimento social de que o brasileiro tanto gosta. Ou seja: se ainda há dúvidas sobre a tecnologia aproximar ou afastar as pessoas, o uso intenso das mídias sociais pelos brasileiros mostra que a aproximação ainda prepondera.

Mas não fiquemos apenas no relacionamento. Há quem use o conhecimento da rede para aprender. Lembro de um vídeo bacana feito pela Regina Casé que mostra as lan houses da periferia e, nele, um rapaz conta que aprendeu a consertar bicicletas em tutoriais publicados no YouTube. Desde então, vem ganhando dinheiro com isso. A web estimula o autodidatismo. E para quem tem vontade de aprender mas não tem grana para investir em cursos, as lan houses podem ser boas salas de aula 🙂

O jornalismo profissional tende a considerar a mídia social uma falácia. Pouco importa o que as pessoas falam ou deixam de falar. O que perde um jornalista por profissão que ignora de própria vontade o que se diz em plataformas de publicação pessoal? Como a mídia social pode ser incorporada no dia a dia de quem trabalha com notícias?
Quem ignora o que o público diz em mídias sociais já devia ignorar o que este mesmo público dizia nas ruas. Ou seja: não pode ser jornalista. Afinal, a razão de existir do jornalismo é GENTE. O público é fonte, o público é (ou deveria ser) a finalidade do nosso trabalho. E se ele – ou o que ele pensa, diz – é ignorado por quem estás nas redações, melhor faz se desprezar o trabalho do jornalista.

Aliás, isso me faz pensar porque os sites noticiosos não estão entre os mais acessados na web. Será que o público se vê neles? Ora, a internet é o lugar onde o público, finalmente, pode se ver. Se o jornalismo praticado no meio digital for igualmente burocrático e limitado às fontes oficiais tal como grande parte dos veículos tradicionais, está fadado a ser engolido por sites de entretenimento ou mesmo pelas redes sociais nos relatórios de audiência. Como não estamos muito distantes disso, alguns veículos estão se dando conta de que devem estar presentes também nas mídias sociais.

E este é um despertar histórico. Afinal, será preciso quebrar paradigmas de linguagem jornalística, de critérios de noticiabilidade, ou seja, conceitos seculares da profissão que mexem nos brios de quem se diz mestre na “arte” de transformar a realidade em notícia. Enquanto empresas de comunicação de vários países contratam seus editores de mídia social, há quem esteja vendo neste novo colega uma oportunidade de expandir a visibilidade de seu próprio trabalho, há quem esteja temendo por novas obrigações em troca do mesmo salário.

Não agradar a todos é natural, J.C. provou disso (não, não me referi a Jornalismo Colaborativo, embora ele também não tenha agradado a todo mundo).

Mas a minha visão da equação jornalismo + mídias sociais é de total interdependência. Jornalista que não souber/quiser/gostar de incorporar as mídias sociais no seu trabalho, não terá lugar no mercado.

Em relação a como as mídias sociais podem ser incorporadas no dia a dia de quem trabalha com notícia, creio em 3 vertentes:

– apuração (busca por fontes, personagens, pautas, testemunhos, opiniões);
– veiculação (linguagem adequada às mídias sociais, grupos e momentos certos para divulgação de determinadas notícias);
– feedback/relacionamento (é muita informação espontânea e barata – na verdade, de graça! Por que não aproveitar para MELHORAR o meu trabalho? E por que não trazer esse aliado para MAIS PERTO da minha rotina profissional?).

Você acompanhou bem de perto a trajetória do Ohmynews, projeto que podemos considerar modelo em jornalismo participativo. E sabe que eu tenho várias restrições a ele (a principal, o adestramento de cidadãos para que se comportem como repórteres, quando a improvisação e desconhecimento de vícios e liturgia da profissão me parecem mais adequados à tarefa). Outro dia o Paulo Querido, jornalista português, disse que o jornalismo cidadão “dá uma notícia por ano”. Eu também tenho aquela sensação e que a noção de notícia de quem colabora com sites jornalísticos é do tipo meu-cachorro-fez-xixi-no- poste. De Gillmor a Querido, passando pelo Ohmynews (que estaria moribundo financeiramente, não?), você também não se decepciona com a qualidade da colaboração na nossa área? Que projetos colaborativos você referendaria hoje como modelos a serem observados? E o Ohmynews, que destino você enxerga pra ele?

E quem disse que o meu-cachorro-fez-xixi-no-poste não pode ser importante? Há um problema enorme nos noticiários colaborativos ancorados pela grande mídia, que pretendem aplicar os mesmos critérios de noticiabilidade para as reuniões de pauta da redação E para o conteúdo que o público manda. Isso reflete o vício do jornalista achar que sabe o que “é importante” para a sociedade, que ele sabe o que o público deve saber. Será? A propósito, o que é “importante” para alguém? Me parece um conceito tão individual que o jornalismo pasteurizou com uma arrogância absurda nos últimos 200 anos. Afinal, o que É importante está no noticiário. Mas importante para que, cara-pálida?

Se os critérios de relevância editorial forem os mesmos para o jornalismo tradicional e para o jornalismo colaborativo, então Paulo Querido tem razão: o público deve dar uma notícia por ano. Só que o erro vem antes disso. Vem na proposta editorial que estes noticiários trazem ao público. Eles querem cópias de si mesmos só que feitas pelas mãos dos outros. E isso é impossível! O público não estudou para isso. O público NÃO RECEBE para isso. Por que vai fazer um trabalho igual ou melhor do que o de um jornalista? O público fala daquilo que interessa a ele, à microssociedade dele. E isso vai do 1º dia do filho na escola até a sujeira na praça ao lado da casa dele. Por isso que o jornalismo colaborativo é quase sinônimo de jornalismo hiperlocal. E aí chegamos num dos pontos que, talvez, tenham jogado contra a trajetória do OhmyNews.

Este noticiário sul-coreano nasceu em âmbito nacional. Para os menos de 50 milhões de habitantes, o OhmyNews dava conta. Mostrava uma realidade que não aparecia nos jornais tradicionais, até mesmo por um vínculo forte que estes mantinham com o poder público, fruto de uma redemocratização tardia, além dos malditos kisha clubs, tradição segregacionista que mina a imprensa do oriente e limita o acesso a determinadas informações das grandes esferas sociais apenas aos veículos maiores, bancados por elas. Eis que o OhmyNews encontrou um nicho e cresceu. Cresceu tanto que não coube mais só na Coreia.

Espalhou a ideia pelo mundo. Foi copiado. Criticado, Ovacionado. Mas se já é difícil fazer um noticiário de cobertura nacional, o que sobra para um noticiário global? Na contramão do jornalismo hiperlocal, o OhmyNews Internacional (versão em inglês) não recebeu grandes investimentos, tem uma infraestrutura tímida e atualização lenta. Ainda assim, segue vivo, dando espaço para muitos cidadãos repórteres do mundo inteiro. Aliás, não conheço outro espaço jornalístico tão cosmopolita.

Para que o OhmyNews tenha futuro, é preciso haver uma mudança no modelo de negócio. Virar uma ONG ou experimentar o modelo de crowdfounding são algumas possibilidades. Vejo que o papel social deles é suficiente para justificar uma dessas duas alternativas. Assim, quero observar de perto o Spot.Us, Ushaidi e o Witness, projetos de crowdfounding ou crowdsourcing que podem nos ensinar modelos interessantes – tanto editoriais quanto financeiros.

O fim daquilo que não acabou

Jorge Rocha, a propósito de festejar uma efeméride em seu “O Jornalismo Morreu!, provocou, e a vibrante Ana Brambilla, como sempre, comprou a briga cujas feridas Beth Saad já tinha exposto.

Em questão, reportagem do caderno Link, de O Estado de S.Paulo, dando conta da morte da blogosfera sob a alegação de que, por esgotamento da fórmula ou outras alternativas à plataforma, as pessoas simplesmente vão parar de blogar. Como se microblogar não fosse blogar.

Do ponto de vista da concepção da pauta, entendo perfeitamente a matéria. Assim como há gente, como Shirky, que recomenda a não utilização do termo ciberespaço (que originalmente significa um espaço diverso e separado do nosso, o que positivamente o ciberespaço não é), faz sentido pensar na obsolência do termo blogosfera a partir do momento em que todos publicamos o tempo todo.

A classificação, e só ela, provavelmente tenha sido passado para trás pela superpopulação num ambiente agora devidamente desbravado e absorvido. É o que pensa, também, a jornalista Alessandra Carvalho, outra convocada por Rocha a se manifestar sobre o tema.

Notem que, se há algum fim, ele é apenas semântico, de um termo. O ato de difundir/apurar/analisar informações via web não depende de mais de um movimento que ameaça abandonar o barco. O barco já está no meio do oceano.

Muito bem diz a Ana ao cravar que “entendo que ‘movimento’ seja um termo grandioso demais para designar os barulhos – ou mais uma vez, o buzz – produzido por um grupo de blogueiros que, em algum momento, quiseram ser ‘profissionais de uma ferramenta só'”.

Beth Saad vai adiante e realça o aspecto complementar das plataformas. “O que temos, claramente, é uma reconfiguração de objetivos, aonde o blog se identifica com o website de destino do usuário para aprofundamento da informação e conhecimento mais amplo da opinião autoral; o Twitter como a “plataforma de embarque” dos usuários da rede num dado tipo de conteúdo; e o Facebook e similares, como plataforma de diálogo e conversação complementar aos comentários postados no próprio blog – quase uma Ágora contemporânea.”

Se você vai deixar de blogar, certamente não será pela perda de eficiência da plataforma e sua incrível conectividade com redes sociais. Tudo é complementar. A mensagem se fragmentou em várias frentes.

O único problema nesse processo, de verdade, é você ficar sem palavras.

Pague para ser um repórter

Considerado a principal trincheira do jornalismo cidadão (eu adoro esse clichê), o site coreano Ohmynews _que só em 2009 já acumula prejuízo de US$ 400 mil (ou cerca de R$ 800 mil)_ agora aposta em doações para sobreviver.

É o próprio fundador e “presidente” da iniciativa, Oh Yeon-ho, quem relata o conto em carta postada na página. A doação é algo muito americano, pouco europeu, nada brasileiro (asiático, confesso, não sei).

Ele recorre a um discurso de “independência” e sugere que 100 mil leitores, doando cerca de US$ 8 mensais, poderiam manter o projeto de pé e, principalmente, menos dependente de publicidade. Pergunto-me, neste caso, se o produtor do conteúdo não é, em boa medida, seu leitor. Logo: pagar para trabalhar?

“Hoje”, diz Oh, “mais de 70% de nosso faturamento vem de publicidade”.

Eu torço o nariz quando o papo vai por aí. Porque toda a mídia formal amealha isso ou mais em anúncios. Porque os leitores, no máximo, pagam a assinatura ou a compra eventual em banca (e isso nunca garantiu a sobrevivência de ninguém).

Ao mesmo tempo, ser bancado por publicidade não pode ser motivo de alegação de falta de independência. Faz parte do jogo.

Sabem como é, o galo que canta primeiro tem culpa no cartório.

Aposto que a Ana Brambilla, especialista em Ohmynews, vai falar sobre o tema em breve.

A aula na Famecos

Alunos do terceiro semestre da PUC-RS pouco antes de aula sobre jornalismo digital (Foto: Alec Duarte)

Alunos do terceiro semestre da PUC-RS pouco antes de aula sobre jornalismo digital (Foto: Alec Duarte)

Ainda em Porto Alegre, participei de uma aula de jornalismo digital dos professores Ana Brambilla e Andre Pase aos alunos do terceiro semestre da Famecos, a faculdade de comunicação da PUC-RS.

Foi uma conversa bem centrada na importância de o jornalista entender que foi desbancado pela tecnologia (o público agora tem acesso aos mesmos dispositivos e pode fazer jornalismo se quiser) e na necessidade de estabelecer uma conversação consistente, produtiva e colaborativa com essa gente.

Na apresentação, mostrei alguns cases importantes de fusão, apropriação e uso de novas ferramentas _mas bem sob a ótica do contexto de circulação e relevância de periódicos no Brasil.

A conversa fluiu tão bem que falamos ainda de campanhas virais na web e do negócio dos jornais gratuitos. E, claro, de um bom exemplo de mobilização da ex-plateia que deixou um site noticioso de joelhos: o #completeog1, que obrigou o produto global a corrigir um problema imperdoável em seu canal de microblog.

Não vejo a hora de voltar.

O futuro do jornalismo é uma câmara de gás?

Jorge Rocha, que há tempos decretou a morte do jornalismo, reuniu um time de debatedores para discutir texto bastante recente de Pedro Doria _precisamente sobre o futuro da profissão, ou melhor, de seu exercício.

O resultado é um post caudaloso que abrange algumas das principais inquietações de quem faz e estuda o assunto, como novos modelos de negócios, o choque de gestão na administração da empresa jornalística em tempos bicudos e a migração (ainda lenta e não gradual) para a plataforma on-line.

Outra questão sempre presente nos textos de Rocha (“afinal, os jornais vão desaparecer?”, como pergunta o professor Philip Meyer) está lá. E as respostas para ela, claro, bastante diversas.

A verdade é que antes mesmos da crise econômica os jornais já estavam diante do maior desafio de suas histórias. Perdem leitores, perdem anunciantes, perdem receita e, mesmo assim, ainda se mobilizam de forma paquidérmica em meio a tantas novidades _principalmente a urgência do estabelecimento de uma política de colaboração com o leitorado.

Como bem diz a Ana Brambilla, uma das debatedoras do “evento” de Rocha, “Jornalista que não responde a e-mail de seus leitores não está apto a trabalhar com o jornalístico digital. Por quê? Porque a cultura digital tem como traço característico a APROXIMAÇÃO entre seres humanos por suas idéias, interesses, a despeito de localizações geográficas ou diferenças intelectuais, financeiras, religiosas etc.”

Terminamos _sim, além de Brambilla, eu, André de Abreu, Conceição de Oliveira, Pedro Markun e Sérgio Leo participamos do, digamos, post coletivo_ levando uma bronca por não termos oferecido uma resposta à pergunta “então, a partir daqui, para onde é que nós vamos, hein?”

De minha parte, a réplica é a pior possível: “no momento, a lugar nenhum. Estamos absolutamente parados olhando a banda passar”.

Discussões para dar e vender

Tem duas discussões bacanas correndo soltas na rede e eu, que gosto de sempre meter a colher, não perdi a oportunidade.

No Novo em Folha, a Ana Estela relembra o caso da frila de O Globo, agora cobrindo o conflito no Oriente Médio, que postou barbaridades (eram suas opiniões pessoais) num blog próprio. Olha só que loucura.

Eu sempre falo uma coisa: tome cuidado com sua vida pregressa on-line. O jornalismo é uma atividade pública. Usar um site pessoal para tomar posições políticas, religiosas e até sobre futebol (sobre futebol, aliás, evite, sua vida pode virar um inferno) exige ter a consciência de que certamente haverá um ônus.

O meu, quando critico veículos jornalísticos aqui, pode significar entrar na lista negra deles, não?

Pelos comentários lá no Novo em Folha, o povo acha que tudo bem, que seria uma invasão tomar uma publicação pessoal como algo público. Eu acho ótimo ter opinião. Mas lembre-se: é provável que a sua fique eternizada na rede e crie, no mínimo, algum tipo de obstáculo ou reparo ao seu desempenho profissional.

Em outra frente, estamos debatendo no Libellus, da Ana Brambilla, o discurso no microblog.

O ponto de partida foi um post da Ana _quem mais conhece sobre jornalismo colaborativo no Brasil_ comentando o levantamento de que 35% dos usuários do Twitter (o site de microblog mais acessado) tem até dez “seguidores”.

A minha posição (por ora, a discussão prossegue): eu tendo a relacionar a baixa conectividade a outros usuários como reflexo da qualidade da micropostagem _ou à ausência dela.

Na medida em que o que vc posta é útil (isso em primeiro lugar), interessante (do ponto de vista intelectual) ou divertido (sim, há espaço para humor no microblog), a teia tende a crescer.

E você, o que é que acha?