Por que a fotografia não participa com a mesma intensidade das discussões que nós, jornalistas de texto e de infografia, há tantos anos, travamos sobre as mudanças que a tecnologia impôs ao exercício da profissão?
Mais: qual motivo leva o gestor de uma integração de equipes a não levar em conta (ou exigir) a participação do fotógrafo no processo? Quer dizer que o trabalho mudou para todo mundo, menos para ele, o “retratista” (como dizemos nós, os canetinhas)?
Digam-me o que leva a fotografia a ser a única plataforma de narrativa jornalística a não ter se preocupado com novas formas de contar uma história, a nem mesmo ter se animado a incentivar seus profissionais a fazer vídeos, tarefa cobrada do povo do texto, mas jamais discutida com quem, de fato, tem muito mais afinidade com a “nova” atribuição do profissional multimídia?
E editar slides (ou galeria de fotos, como queira) com coerência editorial e objetivo de complementar o fato descrito em texto?
Tudo que eu estou afirmando acima, é claro, tem suas exceções. Mas é notório que o engajamento das editorias de fotografia, e aqui falando exclusivamente de jornalismo, tem sido pra lá de pífia. É como se não tivesse a ver com a história, com as novas habilidades exigidas do jornalista. Virou uma função à parte, vivendo num espaço que não existe mais.
A versão francesa da revista on-line Slate notou exatamente isso. Que o fotógrafo abraçou, em causa própria, o domínio do tratamento (ou manipulação, em português sempre fica mais severo) de imagens, uma característica da era da tecnologia.
Mas abandonou todo o resto.
O fotógrafo, via de regra, não dialoga com o público e desempenha uma única função. A mesma que fazia quando a imprensa em papel possuía a monopólio da informação e ditava as regras.
Nem mesmo velhos conceitos característicos da web, como o uso de imagens em tamanho menor que as versões impressas _um convite a novos enquadramentos e edição (o famoso “corte”)_ estão claramente absorvidos.
Mas tudo isso vale só para a redação. No âmbito pessoal, estrelas do Flickr e do Facebook, eles tendem sempre a ser melhores do que no dia a dia. Parece que entendem, no âmbito pessoal, a mensagem dos novos tempos.
Com a palavra, os fotógrafos.