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Sensação de déjà vu


Esta semana o UOL mudou o desenho de sua homepage e, imediatamente, começaram as comparações com seus concorrentes.

A sensação de déjà vu é inevitável, mas design é moda. Em 2009, já falávamos do triunfo do branco nas páginas iniciais de portais como uma tendência.

De lá para cá, uma mudança importante: a linkagem externa, que apontei como um entrave em 2009, se não virou regra, ao menos não é mais tabu.

E o R7, heim?

O Brasil ganhou um novo portal de notícias,  o R7, que tem por trás a Rede Record _e, claro, o dinheiro da Igreja Universal do Reino de Deus.

O site, nitidamente, prioriza notícias de entretenimento e parece formulado para o público das classes B e C (mas isso é uma suposição minha, não possuo esta informação).

De resto, fica a sensação de mais do mesmo, ou seja, que o R7 não apresentará nenhuma novidade nem acrescentará algo ao panorama on-line brasileiro. Pouco para algo que foi tratado, pela Record, como uma espécie de descoberta da internet.

Falamos em breve sobre isso.

O jornal vai dormir internet, a internet acorda jornal

“O jornal vai dormir internet; a internet acorda jornal”. A frase é recorrente em meus cursos de jornalismo on-line, e a cada dia tem se mostrado mais verdadeira.

O jornal dorme internet porque absorve naturalmente, durante o dia, hardnews e features publicadas pelos veículos on-line. Ao mesmo tempo, estes ainda não sabem como movimentar suas capas nas primeiras horas da manhã sem beber nas páginas dos impressos e suas investigações exclusivas.

Já houve quem disse (e fico devendo esses insights, os acharei) que, se subitamente o jornalismo impresso acabasse hoje, portais e sites de notícias teriam graves dificuldades em mudar suas capas pela manhã até que, e ao sabor dos acontecimentos, alguma coisa acontecesse.

A blogosfera, então, perderia boa parte de sua munição _repare como, via de regra, o que estimulam posts e comentários são textos publicados em produtos em papel.

É claro que tudo isso, além de polêmico, carece de comprovação científica. Eu creio, vejamos mais para a frente como demonstro.

Jornalismo é jornalismo, não importa a plataforma. É por isso que on-line e papel têm de se complementar de fato. Entendendo o melhor de cada _e oficializando o que já acontece na prática.

Leia também: Aconteceu ontem: análise e opinião resolvem?

Como avançar sem desinformar

Alguns escritos sobre o estado do jornal impresso

Nada mais desatualizado do que o jornal de hoje

Opine: um jornal precisa de manchete todos os dias?

Cai mais uma falácia da Internet

Scott Karp, do analítico e indispensável Publishing 2.0, mostra hoje, com números, que o temor de vários portais de Internet ao não direcionar seus usuários para sites externos não tem qualquer fundamento.

Karp pegou o relatório Nielsen de audiência na Web norte-americana (os dados são relativos a maior deste ano) e notou que o líder, seja por qual critério for, é o Drudge Report _nada menos do que uma coleção de links de notícias publicadas por outros meios.

Logo, o serviço que o Drudge oferece se mostrou fundamental a ponto de seus leitores abusarem de cliques e tempo de uso dentro dele.

Portanto, a equação sobre “mandar o usuário a outros lugares na Internet e ele nunca mais voltar” se resolve desde que você seja relevante e tenha atrativos suficientes para fazer esse público retornar quantas vezes forem necessárias. Falando português ainda mais claro: quantos mais links você mostrar, maior fidelização (uma palavra da moda) do seu cliente, o leitor, conseguirá.

É mais uma falácia dos tempos de Internet, seguida à risca especialmente por sites brasileiros (que têm asco de prestar serviço e mostrar coisas bacanas a seus usuários), que não resiste a uma análise mais apurada.

Mais do mesmo

Alguns ficaram incomodados com o título “Em clima de luto, família morta em Unaí é enterrada”, que a edição eletrônica do “Correio Braziliense” utilizou neste domingo para relatar a chacina familiar que abalou a cidade goiana de Unaí.

Primeiro, não é fácil escrever sobre o assunto. Pode reparar que, nessa hora, se existe chapéu a ser preenchido, dificilmente ele fugirá de “tragédia” ou “morte”. Nas capas dos jornais impressos ou nos on-lines.

Mesmo assim, difícil não notar as redundâncias, como se o redator estivesse andando em círculos. O dia em que um enterro (de pessoas mortas) não se realizar sob clima de luto, avisem-me, porque temos uma história.

O “morta” também é um vício jornalístico que dá pano para outras interpretações. Surgiu, no impresso, como opção a “assassinada”, bem maior e mais factível de fazer estourar um título. “Morta”, ainda em jornalês, também pode significar pessoa falecida por doença ou causas naturais. Na “Folha de S.Paulo” certamente você leria algo como “A ex-primeira-dama Ruth Cardoso, morta em junho…”

Certamente, não foi o único exemplo de título infeliz do dia. A editoria de esportes é sempre pródiga em mesmices, imprecisões ou tolices.

O dia em que a imprensa apurou a imprensa

Não bastasse o papelão na cobertura do falso acidente de avião ontem em São Paulo, algumas redações insistiram na mentira nas horas que se seguiram à tragédia que vitimou o bom jornalismo. Algumas (caso do Terra) nem sequer publicaram correção (veja errata).

Disse a redação do IG que a notícia sobre a queda do avião da Pantanal tinha partido da assessoria de comunicação da Infraero _é exatamente a justificativa da Globonews, origem do erro crasso copiado em série sem checagem pelos portais.

Nos bastidores, porém, conta-se que ninguém, em nenhum portal que embarcou na barriga, tirou o telefone do gancho e fez qualquer ligação. A informação categórica da rede de TV fechada bastou. Conhecendo a “apuração-cópia” como a que vi por dentro de um portal, não duvido.

Mário Vítor Santos, ombudsman do portal, ouviu Léa Cavallero, responsável pela assessoria da Infraero. Seu depoimento é destruidor. Fala em despreparo e conclui com um brilhante “foi um caso da imprensa apurando a imprensa”.

Santos termina apontando diretamente para a redação do próprio portal. “A apuração foi precária, a confirmação foi mambembe, os critérios para que a notícia chegue ao leitor foram frouxos. O iG precisa submetê-los a uma completa revisão para garantir que entrega aos internautas notícias dignas do nome.”

Construtivo, o Comunique-se bolou uma matéria com dicas para a cobertura de supostos acidentes aéreos (incluindo os contatos telefônicos das assessorias das principais autoridades aeroportuárias). Esperemos que ela seja lida e seguida à risca da próxima vez.

Repetindo: enquanto os portais de Internet se preocuparem mais com a concorrência do que com seu público, esse tipo de absurdo irá se repetir.

A barriga repercute

“A prática de cozinhar e assumir informações (certas ou erradas) da TV e rádio é comum em portais da Internet, mas não deveria ser adotada pelo UOL.”

A barriga sobre o avião que não houve segue repercutindo. A frase acima é da ombudskvinna (sim, é esse o feminino de ombudsman) do UOL, Tereza Rangel.

Deixei claro, no post anterior, que discordo dessa visão. Não vejo como “cozinhar”, mas como atribuir. Foi isso até que fez o portal se salvar em parte, na minha opinião, da catastrófica terça-feira do avião inexistente.

Mário Vitor Santos, ombudsman do IG, comentou a derrapada.

O Comunique-se também discute o tema (exige senha) .

Falamos mais nesta quarta.

O avião não era avião, e o jornalismo on-line coleciona mais um papelão

O jornalismo on-line protagonizou mais um papelão nesta terça-feira no episódio do avião que teria caído em Moema, na zona sul de São Paulo. No início das contas, era apenas um incêndio que nem sequer feridos graves deixou.

Coube aos portais Terra e IG, especialistas neste tipo de precipitação, o novo avanço de sinal ao cravarem, sem citar fonte alguma, que uma aeronave tinha despencado sobre prédios na maior cidade do país (veja as duas reproduções de tela que acompanham este post).

Tudo bem que a barriga de verdade partiu da Globonews, que anunciou o suposto acidente (e o registrou em gerador de caracteres, com todas as letras) usando a Infraero como fonte noticiosa _o que a empresa negou com veemência, conforme mostra ótima linha do tempo editada pelo site da Revista Imprensa.

Por que o jornalismo on-line, então, embarcou na barriga dos outros?

É característica desta mídia (com a qual concordo), inspirada no padrão médio de acesso de seus usuários (a maior parte deles em horário de expediente), ver TV, ouvir rádio e ler jornais e revistas para seu público, refletindo este conteúdo na rede. São, sim, tarefas importantes e necessárias.

Citar estes veículos como “fonte”, portanto, é altamente legítimo e, ao final das contas, uma prestação de serviço ao consumidor _o UOL, por exemplo, manchetou com “Avião da Pantanal cai na zona sul de SP, diz TV”, cuidado que seus concorrentes não tiveram.

Posso falar com conhecimento de causa sobre o Terra, onde trabalhei por quase três anos em três funções diferentes. A direção editorial da empresa construiu o site em cima de uma agilidade que não corresponde à necessidade ou expectativa do internauta. Ninguém fica atualizando portais para ver quem deu primeiro determinada notícia.

Esse fenômeno é comentado por Paulo Pinheiro (outro ex-Terra, aliás) no texto “A ditadura do ctrl c + ctrl v“, em que toca na ferida ao constatar, com absoluta correção, que os portais da Web se preocupam muito mais com a concorrência do que com seu público leitor.

No Terra, isso chega a níveis absurdos. Profissionais são pressionados a atualizarem capas mesmo sem disporem de material suficiente _a boa e velha apuração_ recorrendo, para isso, a simplesmente copiar outros veículos. Essa política já culminou com demissões sumárias e até abandono de emprego (sim, um jornalista se levantou e foi embora ao receber uma ordem absurda do gênero).

Não existisse essa urgência criada por uma velocidade em que as pessoas não estão (nem jamais estarão), neste momento trataríamos aqui apenas da gravíssima barriga da Globonews _essa sim notável por se tratar de um produto tão cuidadoso (e ao mesmo tempo ágil) na divulgação de notícias.

Em tempo: Folha Online e G1, ao chamarem por “Incêndio atinge prédio na zona sul de SP”, sem mais esclarecimentos, escaparam incólumes do papelão.

Em tempo II: o blog do Gjol conta que até no exterior a barriga dos sites brasileiros provocou estragos.

Entretenimento não pode ser levado a sério?

Um ângulo interessante sobre jornalismo cidadão surgiu depois que li uma entrevista de Hayden Hewitt, um dos fundadores do Liveleak.com _basicamente um repositório de vídeos amadores.

Primeiro que caiu minha ficha: na verdade, o cidadão está por trás de poucas iniciativas jornalísticas. A maior parte delas são registros de entretenimento.

“Alguns vêem como entretenimento, enquanto outros levam mais a sério”, disse Hewitt. Seu site bombou com as cenas de hooliganismo gravadas por amadores há 20 dias, após um jogo de hóquei no Canadá.

Aí fiquei pensando que, de certa forma, é um pouco a birra que jornalistas tradicionais têm quando olham portais de internet. Torcem o nariz, sendo que entretenimento e jornalismo brigam por espaço nas home pages. E o jornalismo, sempre é bom lembrar, é apenas um pedacinho do conteúdo dos portais.

Daí, quando o proprietário de um site que usa material produzido pelo usuário diz que há entretenimento e também quem leve a sério, paro pra pensar. “Uai, entretenimento não pode ser sério?”

Presenciei uma notícia. E agora?

A interação ainda é tratada como um aspecto menor pelos grandes portais de Internet brasileiros. Hoje, a participação do usuário é oferecida quase como se fosse um doce, um agrado. Está lá nos sites apenas porque é bonito e _alguém disse em algum momento_ que é preciso ter.

A interação não é o futuro, é o presente da Internet. E há quem defenda que nem sequer ocorra interação: simplesmente que todo o conteúdo noticioso seja produzido pelo internauta. Falarei disso mais para adiante. Há prós e contras e vale a pena escrever um livro para abordar tudo. Por ora, defendo a mediação (a coexistência pro-am, entre profissionais e amadores).

A questão hoje aqui é o que é possível fazer quando presenciamos uma notícia? Telefones celulares com câmera e gravadores digitais (enfim, a bendita tecnologia) deram ao cidadão comum (ou ao candidato a jornalista) a chance de assumir o posto de repórteres onde os repórteres não estão ou comeram bola.

Nesse ponto, o Wikinotícias é uma ferramenta inadequada. Despreparada para a apuração original, a plataforma é útil apenas para a prática de edição de texto (ou seja, reescrever e aprimorar conteúdo já existente). É o que temos feito e continuaremos a fazer.

Vários portais oferecem o doce para você que captou um flagrante. Imagens (fotos, mas especialmente vídeos) são infinitamente mais bem-vindas do que textos. A primeira experiência do gênero (o Foto Repórter do Estadão, lançado em 2005) originalmente convidava os leitores do jornal a tentar publicar um instantâneo nas páginas do impresso (e com remuneração, o que persiste até hoje).

Fosse a data inaugural do projeto, digamos, 18 de março de 2008, certamente solicitariam vídeo _evidentemente, por questões técnicas insuperáveis, a serem encaminhados para a versão on-line da mídia).

Depois vieram as iniciativas de IG (Minha Notícia), Terra (Vc Repórter), Globo (Eu-Repórter) e G1 (Vc no G1), todas bem semelhantes: abertas a qualquer coisa, apenas para provar que a interação existe, que eles gostam de você e que te dão espaço. Ah, e sem a possibilidade de ganhar nada além da satisfação de ver sua “obra” no ar (como se os blogs não resolvessem essa prosaica questão, né?).

A Folha também ensaia abrigar conteúdo produzido pelo usuário, mas ainda não existe um canal permanente (o doce só é dado em ocasiões especiais, como acidentes ou shows/festas populares). Algo do tipo “só enviem quando eu mandar”.

Mas a dica mais importante se você quiser praticar reportagem e publicar num grande portal é: todos esses modelos de colaboração envolvem cadastros, muitos deles exigindo senhas do próprio site em questão (ou seja, mais cadastros e formulários).

Logo, antes de presenciar uma notícia, cadastre-se nos links que eu dei acima. Nada é mais chato do que, na urgência de reportar um fato, se deparar com uma burocrática seqüência de perguntas e cliques quase inúteis. E lembrem-se: jamais ponham dados confidenciais na rede.