Arquivo da tag: O Estado de S. Paulo

A história se repete

O Diário de S.Paulo, que um dia foi o Diário Popular, escancara sua crise e passa a ocupar, a partir do dia 14 de novembro, as instalações que outrora foram da Agência Estado, no Limão.

O jornal, numa parceria com o Grupo Estado, também vai a gráfica da casa para imprimir suas edições.

O curioso é que a história se repete: foi o Diário Popular quem ocupou o prédio, no centro de São Paulo, que servia à Redação de O Estado de S.Paulo quando da mudança para o prédio onde atualmente se encontra.

A visão do Estadão nos Anos 70

Não deixa de ser uma fina ironia: foi a visão de novos negócios, ainda nos anos 70, do grupo que edita o jornal O Estado de S. Paulo (envolto numa crise insolucionável que parece espreitada por um trágico epílogo) que, com todos os sobressaltos, é responsável pela sobrevivência de seu principal produto, o jornal impresso – ao Jornalistas&Cia, a direção da empresa tentou dar algumas respostas para esse difícil momento.

A conta aqui é simples: pioneira como agência noticiosa e, posteriomente, com base em outros serviços agregados, a Agência Estado, fundada em 1970, responde hoje por quase 80% do faturamento de todo o grupo. É de onde sai o dinheiro que financia os outros departamentos, notadamente jornal e rádio, ambos deficitários.

É uma demonstração de que a ousadia e o passo à frente da concorrência podem ser determinantes para a sobrevivência de um negócio. Ainda que estejamos falando de um modelo que luta a duras penas para seguir existindo, é inegável que aquele passo, há mais de 40 anos, foi crucial.

Em tempo: o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) suspendeu as cerca de 50 demissões ocorridas na semana passada em O Estado de S. Paulo por conta de nova reformulação (ou “redesenho”). Hoje as partes devem se reunir no tribunal numa audiência de conciliação.

O Estado de S. Paulo põe 137 anos de história no ar

Já está no ar uma preciosidade: a história, digitalizada, de 137 anos de O Estado de S. Paulo, um dos mais importantes jornais brasileiros.

É edição por edição desde 4 de janeiro de 1875 quando, sob o nome de A Província de São Paulo, o produto circulou pela primeira vez.

Tá esperando o que pra ir lá?

África do Sul torna crime jornalismo investigativo

Reproduzo matéria publicada ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

Preocupante, mas distante do tal “controle social da mídia” que, sabiamente, a presidente Dilma Rousseff engavetou em nosso país.

“O Parlamento da África do Sul deixou de lado objeções de líderes históricos da luta contra o apartheid e aprovou ontem, com maioria esmagadora, uma nova lei de sigilo que, segundo críticos, foi elaborada para proteger a elite corrupta do país do jornalismo investigativo. A nova legislação determina, por exemplo, pena de até 25 anos de prisão aos responsáveis pela publicação de informações de Estado consideradas sigilosas.

O partido governista Congresso Nacional Africano (CNA) usou sua maioria para garantir a aprovação por 229 votos a favor e 107 contra. Opositores da Lei de Proteção da Informação afirmaram que tentarão derrubá-la na Corte Constitucional, assim que o presidente Jacob Zuma sancionar o texto, como é esperado.

O críticos da nova lei, entre eles Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu, batizaram a sessão parlamentar de ontem de “terça-feira das trevas”, em alusão a uma lei similar contra a liberdade de imprensa aprovada nos anos 70, sob o apartheid.

Tutu, que recebeu o Nobel da Paz em 1984 por seu papel decisivo na luta contra a segregação racial, afirmou que, para os sul-africanos, “é vergonhoso pedir que aceitem uma lei que pode ser usada para tornar ilegais as denúncias e o jornalismo investigativo”.

Contradições em rede

Inspiradoras as contradições entre Alexandre Matias, em O Estado de S. Paulo, e Antonio Prata, na Folha, sobre as funcionalidades da internet. Ela estimula o ócio, sim, mas conecta e organiza pessoas.

Sabemos separar pepitas de ouro do cascalho?

Na era da informação massificada, não estamos sabendo interpretar, contextualizar _mas, principalmente, decifrar_ esses códigos.

É o resumo do ótimo artigo de Massimo Pigliucci, filósofo e professor de filosofia da Universidade Municipal de Nova York, numa colaboração para o Project Syndicate.

“Falta-nos a habilidade elementar de interpretar toda essa informação _a capacidade de encontrar as pepitas de ouro em meio ao cascalho”, afirma Pigliucci.

É por isso que o bom jornalismo, aquele que hierarquiza e desvenda, não apenas relata sem reflexão, tem uma longa vida pela frente.

Janelas paulistanas

Inspirador o ensaio do fotógrafo Helvio Romero com o tema Janelas Paulistanas, na versão eletrônica de O Estado de S. Paulo.  E o texto de apresentação é irretocável.

“Uma viagem poética pelas fachadas da cidade. Um mosaico de cores formas e contrastes. A São Paulo antiga, a São Paulo moderna, os bairros de classe média, os bairros da periferia. Janelas decadentes, janelas enfeitadas, janelas coloridas, janelas divertidas. Janelas com gente, janelas com bichos, janelas com plantas, janelas desabitadas. Janelas, janelas, janelas, janelas… Janelas por onde São Paulo é vista. Janelas por onde olhamos São Paulo”.

O Estadão e sua posição sobre o link externo, esse direito

Aleluia: demorou, mas alguém relevante no ecossistema de notícias tocou na ferida do link externo, esse direito, como bem definiu o professor Jeff Jarvis.

Em entrevista ao Jornalistas & Cia., Pedro Doria, editor-chefe do Estadão.com, foi claro ao falar sobre a missão do site Economia & Negócios, que nasce também com uma interessante integração embutida em papel (terá uma versão semanal na edição impressa de O Estado de S. Paulo).

“Quando elas [as notícias] estiverem em sites de outros veículos, principalmente estrangeiros, nosso leitor será informado do link. Queremos fidelizá-lo não só pela qualidade editorial e credibilidade de nossos veículos, mas também por tratar a informação _quer dizer, a boa informação_, esteja onde ela estiver, como um bem valioso para quem atua ou acompanha a área econômica”, disse Doria à newsletter que perscruta os bastidores jornalísticos brasileiros.

É claro que, se a opinião de Doria vale para um produto econômico, vale para qualquer outro. Mais do que presença no DNA da internet, o link externo é uma prestação de serviço importante na plataforma. É por meio dele que se encurtam distâncias e o usuário pode ir aos finalmentes.

Pedi ao Doria que detalhasse um pouco mais o assunto. E, de fato, a lógica por trás do raciocínio é tão simples que basta um parágrafo para resumi-la.

“Não há leitores exclusivos na web – todos leem o que lhes interessa em todos os sites. Editar a informação é obrigação jornalística. É ajudar o leitor em sua busca por informação. Facilitar sua vida. Se vamos criar um site de Economia, devemos ajudá-lo também indicando o que ler sobre economia em outros cantos da internet”.

De novo: isso vale para todas as editorias. Já passou da hora de a grande mídia derrubar de vez o tabu do link externo. Há um belíssimo exemplo e, antes que digam bobagem, iniciativas semelhantes (mas esporádicas) aqui e ali. E sem a defesa terminante, diga-se.

A defesa do link externo é muito mais do que disputa por audiência: estamos a falar da estrutura que deu essa cara democrática à web e, ao mesmo tempo, de uma obrigação para quem ainda desempenha (ou acha que desempenha) o papel de gatekeeper.

Duas coisas realmente novas no webjornalismo nacional

A home page da ESPN Brasil: a busca é a rainha

A home page da ESPN Brasil: a busca é a rainha

Tenho falado isso reiteradamente em aulas, palestras e eventos, mas só agora me dei conta de que nunca publiquei aqui: duas experiências ótimas que estão em curso em sites brasileiros e que, verdadeiramente, representam um oásis na paisagem de mesmice das páginas noticiosas da web nacional.

Foi minha colega Daniela Bertocchi quem me chamou a atenção, há meses, para essas “inovações” _as aspas se justificam porque não são grandes descobertas, mas em se tratando de Brasil, são boas iniciativas.

São duas home pages. A primeira, da ESPN Brasil, que conseguiu se livrar da amarra da página inicial manchetada e cheia de texto e, valorizando acima de tudo a busca _que é a forma como as pessoas navegam na internet, se você ainda não percebeu isso_, apresenta um visual limpo e, ao mesmo tempo, bastante gráfico (as chamadas são fotos, repare).

A outra coisa bacana, e que já está no ar há tempos, é a capa do caderno Link, de O Estado de S.Paulo, que destaca antes de qualquer outra notícia uma nuvem de tags _aqui questiono apenas a escolha das palavras-chave, uma das atribuições do jornalista atual, que poderia ser mais refinada.

Estes dois assuntos estiveram na pauta da visita que fiz, nesta semana, aos alunos do sexto semestre da PUC de Campinas, a convite do “duplo colega” (como ele bem próprio definiu) Edson Rossi, o professor da turma e comandante do Boeing chamado portal Terra.

Na visita, aconteceram algumas coisas extraordinárias.

Pela primeira vez fui confrontado, pelos estudantes, com textos que escrevi aqui no Webmanario. Isso deu um outro caminho à discussão que, como sempre, tratava da importância da conversação com o público para a manutenção de um jornalismo moderno e saudável.

Houve diálogo e troca de impressões e insights _exatamente como eu, e tanta gente, sugere ao ainda arrogante e retrógrado jornalismo profissional praticado hoje.

A conversa começou justamente exibindo a imagem de um ferido nos atentados de Madrid-2004 (como você pode conferir nos slides do papo) checando seu celular, a plataforma do presente (e do futuro) para quem, como a gente, trabalha com distribuição de conteúdo.

Falamos da crise dos jornais e de Alan Mutter, que detectou a “quebra” da circulação dos jornais quando a penetração de banda larga residencial num país atinge 30%, um assunto em que os alunos de Rossi mostraram estar bastante bem informados.

Foi mais uma chance incrível de trocar experiências.

Espero voltar em breve a Campinas e ao agradável campus da PUC.

A home do Link, canal (e caderno impresso) de tecnologia do Estadão: bom exemplo de navegação temática e comandada pelo público

A home do Link, canal (e caderno impresso) de tecnologia do Estadão: bom exemplo de navegação temática e comandada pelo público

100 anos de infografia

O brutal crescimento do tráfego marítimo no Brasil infografado pela edição de 18 de agosto de 1909 de O Estado de S. Paulo

O brutal crescimento do tráfego marítimo no Brasil infografado pela edição de 18 de agosto de 1909 de O Estado de S. Paulo

O entendimento de que um infográfico deve usar conceitos de comparação e proporcionalidade é muito antigo, como prova gráfico publicado no jornal O Estado de S. Paulo na edição de 18 de agosto de 1909 (é o que você vê acima).

A relíquia está na web graças ao blog dos 100 anos que o jornal paulistano colocou no ar há semanas _e que poderia muito bem ser monetizado, desde que oferecido editado por temas e empacotado num outro formato. São poucos os conteúdos jornalísticos que podem ser cobrados na internet. Este é, certamente, um deles.

"Origem e Evolução dos Gráficos na Espanha, 1856-1936", Fermín Vílchez in Malofiej 14

"Origem e Evolução dos Gráficos na Espanha, 1856-1936", Fermín Vílchez in Malofiej 14

Chiqui Esteban, diretor de novas narrativas do jornal on-line espanhol La Informacion, notou que essa produção do Estadão de cem anos atrás era bem parecida com o que se publicava na imprensa de seu país 20 anos depois (imagem ao lado).

O último grito: o infográfico em ondas do NYTimes, bom apenas porque é do NYTimes

O último grito: o infográfico em ondas do NYTimes, bom apenas porque é do NYTimes

Daqueles para a moda do gráfico em ondas difícil de entender mas considerado brilhante por ter sido executado pelo New York Times não foi um pulo. Demorou. Muitíssimo.

Como não foi menos árdua a chegada a trabalhos como os que reconstituem o acidente com o voo 3054 da TAM, infográfico mais acessado da história do El Pais.

Contra este último, o uso de linguagem de videogame para espetacularizar a notícia. De informação, pouco _ou nada, se levar-se em conta a situação em que o infográfico foi ar, sem vídeos ou áudios complementares adicionados bem depois.

Velho ou novo, o importante é que o infográfico não perca seu sentido de existir: expor, com clareza, dados que facilitem a compreensão da notícia.