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Os crimes nossos de cada dia

Pode perceber: é cada vez mais frequente a divulgação, pelo jornalismo tradicional, de imagens postadas por pessoas em redes sociais. Especialmente pessoas que se envolvem em alguma tragédia humana, como vítimas de homicídio.

Apesar da visibilidade pública na rede, certamente essas fotos e vídeos não podem ser apropriadas por ninguém. Ou seja: claramente aqui há uma violação de direitos.

Já há, em alguns tribunais brasileiros, processos que questionam precisamente isso, o festival de uso indevido (pelo jornalismo formal, repito) de fotos de mortos e seus assassinos (estes, pela tênue questão do interesse público, ainda são questionáveis).

É um pouco como o entendimento (equivocado) de que vídeos publicados no YouTube são públicos e podem ser reproduzidos a bel-prazer. Nada mais errado.

Nessa seara da ética e da legislação digital, ainda temos um longo caminho a percorrer.

O preço de um erro

chavez_elpais_fake

Custou R$ 650 mil – afora o incalculável passivo de imagem – a publicação de uma foto fake do presidente venezuelano Hugo Chávez pelo jornal espanhol El Pais na semana passada. É a imagem que você vê acima (ela foi negociada por R$ 40 mil).

A empresa que edita o jornal saiu à caça dos exemplares já na rua, e promoveu uma reedição de emergência sem a barbaridade. Em seu site, a imagem ficou impávida como Muhamad Ali por eternos 30 minutos.

É o que nos conta o próprio jornal, em reconstituição passo a passo da decisão de publicar a imagem, oferecida por uma agência que não prima exatamente pela primícia noticiosa – o mais surpreendente para mim, e isso já se sabia desde aquele dia, é que a ficha do periódico só caiu por causa da repercussão em redes sociais. Ou seja, o jornal estava completamente nu. E foi descoberto.

Estamos numa época, portanto, em que as pessoas avisam em tempo real  que o jornalismo profissional fez uma barbeiragem. Mais: uma era em que as pessoas, atuando juntas, acabam fazendo o que a gente deixa de fazer.

Para piorar, um italiano assumiu o “atentado jornalístico” justificando que sempre faz isso: espalha cascas de banana para checar quais os níveis de filtragem e apuração da imprensa formal.

É uma grande história porque extrapola o campo do folclore das barrigas jornalísticas e penetra no turbulento mundo da conspiração política.

Preocupante ou auspicioso?

Um homem no banheiro feminino

Duas anotações pessoais sobre o enfant terrible da hora dos sites de rede social, você me permite?

1) O Pinterest combate bravamente a ditadura do texto. Ali o contato com as pessoas que te seguem ou por você são seguidas é absolutamente dispensável. A comunicação se dá por meio de imagens.

Trocam-se escassas palavras, e na verdade o que você tem a dizer em texto pouco importa. Sua reputação é proporcional ao seu senso estético. Subjetivo.

Fazia falta uma rede onde falar com pessoas não é o foco.

2) Para um homem, acessar o Pinterest equivale a entrar no banheiro feminino. E é ótimo, passa a (falsa) impressão de que invadimos a cabeça das mulheres e entendemos seu mundo – ainda que enquanto elas olham cabelo, look e sapato, cobiçamos sex appeal, bunda e peito. Também gosto do Pint porque ele me dá a sensação de que sou o intruso espada do Saia-Justa, uma antiga aspiração.

O site pinta como um ponto de encontro estético bem simpático, sem chatices inerentes aos sites de mídia social que têm o texto – e nosso brilhante pensamento vivo – como principal funcionalidade.

Armadilhas da colaboração na rede

Investigação jornalística. É essa receita de Julien Pain para evitar que falsas notícias acabem indo parar nas páginas do Observers, site colaborativo francês.

Chato, mas sempre tem alguém usando o jornalismo participativo para tentar trapacear, seja enviando uma foto não original ou, ainda pior, um relato fraudulento.

No caso de quem trabalha no dia a dia com mídia social, monitorar o que as pessoas estão dizendo na rede pode significar minutos preciosos na antecipação de um acontecimento _desde, claro, que ele seja verídico.

Identificar o autor da informação, contextualizá-la e organizá-la são algumas dicas da Slate francesa para evitar barrigas vindas das redes sociais.

Outro aspecto bacana é o técnico: descobrir informações sobre imagens postadas (e isso não é muito difícil mesmo sem ferramentas pagas) pode, por exemplo, revelar uma data que inviabilizaria a associação com uma determinada notícia.

Contatos imediatos

Fortíssima candidata a foto do ano: índios nunca antes vistos pela civilização, apavorados, empunham arco e flecha e tentam se defender do gigante pássaro de ferro ruidoso e que traz o vendaval. A imagem, registrada de um helicóptero no Acre, é de autoria de Gleison Miranda, da Funai.

Apesar de monitorar o grupo há 20 anos, o órgão desconhece detalhes sobre sua origem.

Uma grande matéria jamais feita, não?