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Tiros na corrupção

Num ano em que o holofote sobre a corrupção está mais aceso do que nunca, impossível não lembrar a tragédia protagonizada por Budd Dwyer – secretário do Tesouro do estado da Pensilvânia que, diante das câmeras, se matou após condenado por supostamente receber propina de US$ 300 mil para autorizar a contratação de um serviço público.

Dwyer foi deputado e senador, mas se notabilizou na vida pública como o implacável chefe do tesouro estadual que descobriu – e conseguiu que fossem devolvidos aos cofres estaduais – uma farra de gastos pessoais do governador Dick Thornburgh, no começo dos anos 80. A festa incluía servidores fazendo supermercado e conduzindo os filhos do mandatário, entre outras coisas.

Partiu de Thornburgh, já sem mandato, o início das investigações contra Dwyer, a partir de uma denúncia anônima. Jamais se comprovou que o tesoureiro recebeu o dinheiro, mas o simples fato de ter admitido a possibilidade de suborno (o que aparecia na versão de uma testemunha que, anos depois, disse ter mentido) foi suficiente para sua condenação.

Em 22 de janeiro de 1987, Dwyer reuniu a imprensa, leu uma nota oficial, entregou envelopes com mensagens para familiares a seus auxiliares e sacou, para espanto geral, uma arma que colocou na boca e disparou. Tudo ao vivo, sem cortes, nas cinco maiores emissoras de TV dos EUA.

O caso até hoje é usado como exemplo da falta de escrúpulo da mídia – não pela transmissão ao vivo, mas pela exploração das imagens nos dias seguintes em jornais e telejornais e também pelo fato de cinegrafistas e fotógrafos continuarem a trabalhar mesmo diante do cadáver de Dwyer.

O filme “Honest Man” revê essa trajetória e afirma, com relatos atuais, que Dwyer era inocente e foi perseguido pelo governador que fiscalizou. O suicídio estaria relacionado à ruína das finanças da família, dizimadas no custoso processo judicial. Uma história e tanto.

O dia em que o jornalismo derrotou o futebol

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A última estratégia da presidente argentina, Cristina Kirchner, em sua escalada persecutória ao bom jornalismo foi bem original – mas saiu pela culatra.

Na semana passada, e tudo leva a crer que a pedido do governo, um jogo do campeonato argentino entre Boca e Newell´s teve seu horário alterado para coincidir com a emissão de Periodismo para Todos, o programa que Jorge Lanata (foto) conduz na TV e que invariavelmente pisa no calo da viúva de Nestor praticando investigação e mostrando desmandos estatais, como o passeio de malas de dinheiro na Casa Rosada.

A julgar pelo Ibope, os argentinos têm preocupações muito mais nobres do que um joguinho de futebol: Lanata venceu a guerra de audiência com quase 25 pontos de rating, contra 16 da partida.

A câmera oculta e a ética no jornalismo

O avanço tecnológico e a consequente miniaturização de dispositivos popularizou definitivamente o uso da “câmera oculta” no jornalismo.

Assim como não é adequado um jornalista se passar por um personagem para obter informação, há quem questione a validade ética de se recorrer a um recurso que ludibria a confiança depositada em você por uma fonte.

É debate pra mais de metro, porque o ponto atual é: a câmera oculta passou a ser um fim, não um meio. Vulgarizou-se _e é muito mais fácil fazer jornalismo pegando os incautos no pulo.

É a discussão que o professor Martín Becerra levou ao jornal Pagina 12 em virtude de gravação clandestina que mostrou Luis Siri (a cara mais visível dos protestos sindicais que têm oposto trabalhadores e o diário argentino Clarín) achacando a direção do jornal.

Em português claro, pedindo dinheiro para não liderar piquetes como os que impediram a circulação do jornal há semanas.