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A internet sitiada

O fim do serviço Google News é apenas o primeiro efeito colateral da legislação que a partir de 1º de janeiro muda muita coisa na internet da Espanha.

A Lei de Propriedade Intelectual estabelece, além da obrigatoriedade de agregadores remunerarem produtores de conteúdo (o motivo da saída de cena do serviço noticioso do Google), a criação de uma superpoderosa comissão que deliberará sobre o fechamento de sites e retirada do ar de links.

Medieval – e aparentemente até o patronato dos jornais achou exagerado.

Seis anos de cadeia por linkar na internet

O que você acha de seis anos de cadeia para proprietários de sites que linkarem (e auferirem alguma vantagem comercial) para material com direitos autorais protegidos na web?

é realidade na Espanha.

Os crimes nossos de cada dia

Pode perceber: é cada vez mais frequente a divulgação, pelo jornalismo tradicional, de imagens postadas por pessoas em redes sociais. Especialmente pessoas que se envolvem em alguma tragédia humana, como vítimas de homicídio.

Apesar da visibilidade pública na rede, certamente essas fotos e vídeos não podem ser apropriadas por ninguém. Ou seja: claramente aqui há uma violação de direitos.

Já há, em alguns tribunais brasileiros, processos que questionam precisamente isso, o festival de uso indevido (pelo jornalismo formal, repito) de fotos de mortos e seus assassinos (estes, pela tênue questão do interesse público, ainda são questionáveis).

É um pouco como o entendimento (equivocado) de que vídeos publicados no YouTube são públicos e podem ser reproduzidos a bel-prazer. Nada mais errado.

Nessa seara da ética e da legislação digital, ainda temos um longo caminho a percorrer.

Foto incrível de urso vira objeto de disputa nos EUA


Um fotógrafo (ainda que seja frila de um jornalzinho de colégio) pode separar seus cliques entre “pessoais” e “de serviço”?

Bem resumidamente, é essa a discussão entre o CU Independent (ligado à Universidade do Colorado) e Andy Duann, aluno da instituição. Duann flagrou o momento em que um urso que invadiu o campus era abatido por uma dose de tranquilizantes e viu a foto correr o mundo creditada para o veículo. Ele diz não querer dinheiro, apenas o crédito da imagem – que foi retirada do repositório da AP, primeira a distribuir a foto, justamente por causa do imbróglio.

Como bom foca, Duann diz que jamais pensou que seu clique era bom (muito menos que seria reproduzido tantas vezes. “A foto estava fora de foco”, resume.

Não sabe o que é notícia, mas se preocupa com o nominho que acompanha uma imagem. Começamos bem, garoto.

ATUALIZAÇÃO: Ah, e como não poderia deixar, o “falling bear” virou meme.

ATUALIZAÇÃO II: Uma semana depois do incidente na Universidade do Colorado, o “falling bear” morreu atropelado.

E os canetinhas, como ficam?

A UPP (União dos Fotógrafos Profissionais da França) encontrou uma imagem forte para sua campanha de respeito aos direitos autorais.

Não podemos nos esquecer que, ainda assim, o fotógrafo é um privilegiado com relação a seus colegas de caneta, que não têm a assinatura de obras como prerrogativa e muito menos são remunerados por eventuais revendas de seu material – ok, esta última é uma prática cada vez mais em desuso, mas a que só fotógrafos têm acesso.

Podíamos, todos os jornalistas de texto, fazer um esforço para adquirir alguns dos (poucos) direitos a que nossos queridos retratistas (o termo é carinhoso, viu?) já foram contemplados.

Um debate sobre direito autoral

Interessante, no sentido de motivar a discussão, a pretensão do Ecad (Escritório Central de Distribuição e Arrecadação) de cobrar R$ 350 mensais de blogueiros que embedam clipes musicais do YouTube.

O debate aqui é o seguinte: o ato de embedar é igual ao de linkar? Há argumentos que podem levar às duas conclusões, mas é inegável que existe um pedágio (o de tempo de permanência) cobrado pelo blog que embeda.

De toda forma, o histórico do Ecad é tão desagradável e sem transparência que, liminarmente, sou contra qualquer pleito que ele capitaneie.

ATUALIZAÇÃO: Alguns dias depois o YouTube respondeu  publicamente ao Ecad entendendo que a cobrança é indevida.

Finalmente um golpe de mestre dos jornais

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) anunciou sexta-feira no Rio, no encerramento de seu congresso anual, que está negociando com agregadores estímulos para que os internautas busquem notícias diretamente nos sites que os hospedam.

“Nossa meta é buscar formas adequadas de remuneração de nossos conteúdos, para que o jornalismo de qualidade continue a desempenhar o papel que tem e sempre teve em sociedades democráticas”, disse Judith Brito, presidente da entidade.

Como seriam essas “formas adequadas”? Ainda não sabemos ao certo, mas discute-se a redução dos textos exibidos em agregadores (como o Google News) e critérios de indexação que consigam distinguir entre o que pode ou não ser exibido por meio do Protocolo de Acesso Automático a Conteúdo.

Toda essa discussão, direitos autorais à frente, sempre teve como pano de fundo a sobrevivência dos jornais. A novidade, agora, é que os agregadores aceitaram negociar.

Se os jornais conseguirem ganhar dinheiro com algo que claramente ajuda a promover seu conteúdo, terá sido um golpe de mestre.

Nenhum estímulo para alcançar a fonte original de uma notícia pode ser maior do que o agregador (que, com frequência, possui audiência várias vezes superior aos veículos que se incomodam em aparecer neles).