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‘É preciso humildade para entender a importância do discurso do público’, diz editor de Época

Conheci Sérgio Lüdtke, 49 anos, hoje editor da revista Época, numa viagem em que pretendia entender a interação e integração de redações no Grupo RBS, que sempre trabalhou com o conceito de rede _jornal, rádio, jornal e web mesclados, em boa medida com os mesmos jornalistas-grife passeando por todos.

Lüdtke é um dos defensores do conceito de “perseguir a audiência” (diferente de Paco Sánchez, aqui também entrevistado, que teoriza que a originalidade do conteúdo fará seu público o encontrar).

Perseguir a audiência significa, muitas vezes, dialogar com “gente que dá um carteiraço ao contrário, você quase nunca sabe com quem está falando”, como diz Lüdtke. Mas ele não desiste nunca. “É preciso humildade para entender a importância do discurso do público”, afirma. Leia a entrevista completa abaixo.

Às vezes eu acho que somos jornalistas diferentes. Entendemos a importância do discurso do público, damos valor a ele, buscamos nossa audiência… Estamos errados?
Estou convicto de que estamos certos, mas é preciso admitir que temos a facilidade histórica de contar com a internet. Como ela é o primeiro meio a possibilitar a interação com o público pelo próprio meio, é uma via em dois sentidos, a percepção da audiência que conseguimos no jornalismo online não era possível aos profissionais de jornal, rádio e TV. A experimentação de um diálogo franco e intenso com o público nos permite entendê-lo melhor, conhecer suas opiniões, mas também suas deficiências, suas incompreensões. Creio que é essa possibilidade de leitura da realidade, reforçada pela enorme capacidade de mensuração dos meios digitais, que nos diferencia. Não quer dizer que sejamos diferentes, mas temos tudo para ser.

Há uma distância, no entanto, entre a possibilidade e a efetividade. Para entender a importância do discurso do público é preciso também uma dose de humildade. Não é fácil, em meio a tantas atividades, parar para dar atenção – e às vezes até razão – a sujeitos cuja identidade não é revelada, autenticada ou reconhecida. Gente que dá um carteiraço ao contrário, você quase nunca sabe com quem está falando. Mas esses sujeitos anônimos são aqueles para quem sempre trabalhamos, desde o surgimento do primeiro jornal, e que agora também podem – e querem – ter um nome. Eles podem ser a extensão dos nossos olhos e nossos ouvidos, ser a nossa quase onipresença. Nosso trabalho é editar.

Você pode, melhor do que ninguém, falar sobre a importância do clique. Temos nossos mantras, mas vários deles ainda engatinham no quesito consumo de massa. Na maior parte das vezes funciona mesmo o que todo mundo quer ver, ou melhor, o que todos os portais estão publicando, numa mimetização impressionante. Até que ponto essa imitação dos sites noticiosos ajuda quem prega colaboração e participação no processo de construção das notícias?
A internet pode se estabelecer como um meio de massa, mas a quase totalidade de seu conteúdo não. Os portais, principalmente aqueles que têm na origem grupos de comunicação que já operavam outras mídias, levam para a internet a reprodução de seu modelo offline. E ao apostar editorial e publicitariamente em volume de audiência, deixam de lado aquilo que é a melhor possibilidade da internet: a de, independente do volume de pessoas conectadas, falar de um para um. Acredito que isso vá mudar muito nos próximos anos. A fragmentação é irresistível, mesmo numa área aparentemente muito concentrada como a das redes sociais. Não que não haja espaço para o mainstream, para o blockbuster, para a celebridade, mas esse é um terreno em que todos fazem mais do mesmo. Todos se repetem. É onde ainda faz diferença a idéia de Home de portal: tem mais cliques quem tem mais audiência e faz as escolhas mais adequadas a seu público. Mas isso só gera volume e uma posição no Ibope. O que, reconheço, não é pouco. Até por que a publicidade, que igualmente herdou o modelo, também vende volume. Não acredito que esse modelo vá prevalecer.

Os portais, por outro lado, podem usar inteligentemente a força de suas urls para promover o conteúdo gerado pela audiência, principalmente de usuários pouco experientes. Lembro que há alguns anos tínhamos que pedir à audiência para mandar fotos da mãe, do cachorro ou até da sogra. Era uma futilidade necessária para gerar a experimentação necessária, testar a usabilidade das ações. Hoje isso já é uma rotina, mas está na hora do editor-chefe do portal pensar nisso além da rotina e de uma forma menos burocrática.

O jornalismo colaborativo é apenas uma moda? Essa coisa de aplaudir o ‘meu-cachorro-fez-xixi-no-poste’, às vezes louvado como colaboração, faz algum sentido? Não temos nós, os ‘profissionais’, que sermos confrontados por eles, os ‘amadores’, e não nos colocarmos numa eterna posição de mediador?
Não acho que seja moda, mas devemos evoluir numa relação que preserve a responsabilidade com o conteúdo que oferecemos a nossa audiência. Seria impossível competir – se essa fosse a intenção – com a capacidade de captação de uma legião de olhos e ouvidos atentos e equipada com celulares, câmeras e gravadores. Além disso, independente da nossa vontade ou concordância, as pessoas já possuem seus espaços na web e lá publicam e compartilham o que bem entendem. Estamos na era do Eu.com. Nosso desafio está mais na capacidade de identificar, valorizar e descobrir formas de agregar esses conteúdos para oferecê-lo ao nosso público do que no confronto ou menosprezo com aquilo que é gerado pelo público.

Blogar serve para que?

Blogar saiu de moda, e faz algum tempo eu falava exatamente sobre os “diários pessoais” na web com o professor André Rosa (o Marmota, na blogosfera), um precursor desta plataforma.

Assim, conversamos sobre as mudanças que o avanço tecnológico trouxe para a profissão. Rosa (que ministra cursos ligados à web no Comunique-se) é definitivo: o desdém pelas novas mídias está deixando para trás os jornalistas que não querem se ocupar delas.

Você é uma das primeiras pessoas de meu entorno a “ter um blog”, isso deve ter sido em 2000, um pouco depois da pré-história. O que você acreditava que faria na época com aquela ferramenta e como enxerga a transformação pela qual passou o relato cotidiano em ordem cronológica reversa, que já foi até padrão em home page de site noticioso importante?
Foi em 2002, já na “idade da pedra polida”. Já naquela época, duas coisas me chamaram atenção. A primeira: não vou precisar mexer em códigos HTML e FTP num serviço de hospedagem gratuito para atualizar um site. A segunda: podia usar este espaço como “válvula de escape”, para textos que não tinha razão de escrever onde trabalhava. Com o tempo, percebi que esta facilidade em publicar trouxe outros objetivos à baila, desde a busca por reputação (técnica, literária, entre outros temas…) até a tal “monetização”. Com outros impactos visíveis, como empresas perdendo dinheiro diante de comentários maldosos de consumidores na rede, o blog definitivamente deixou de ser visto como “diário virtual”. Ainda sobre essa transformação, dá pra enxergar uma curva, quase como uma parábola: um início de descobertas, uma explosão até o auge e, finalmente, uma queda no volume de usuários, passada a euforia. Agora, quem ainda mantém blogs são aqueles que ainda os consideram úteis. E é curioso como este mesmo ciclo está acontecendo agora com o Twitter, não? E vai se repetir com a próxima tecnologia que irá mobilizar um grande número de usuários no futuro, graças a sua facilidade…

O jornalista é, antes de tudo, um teimoso? Essa coisa de “eu conheço quem sabe” nos dá um incremento exponencial no muxoxo ao contato com novas tecnologias, como se pudéssemos recuperar o tempo perdido no período de uma ligação para algum guru de mídia?
Quanto a teimosia, não tenho dúvidas! Mas não sei ao certo se isso reflete na relação dos jornalistas com tecnologias. Tanto é que muitos profissionais pioneiros na web tiveram que lidar com provedores de conexão discada, servidores de hospedagem, scripts gratuitos, entre outras “gambiarras” capazes de resolver problemas como narrações ao vivo, fóruns de debates, chats com convidados… Entre outras coisas que hoje são indispensáveis em qualquer cobertura. Por um lado, é evidente que nem todo jornalista precisa entender todas as tecnologias, e historicamente isso nunca foi um “problema” – quem trabalha em jornal terá mais dificuldades para lidar com TV, por exemplo. Agora, optar pelo desdém da rede neste cenário implica outro ônus, que vai além do simples uso das ferramentas: entender a mudança de lógica, que está mexendo com a profissão. Talvez isso não se resolva com um telefonema (ou e-mail) a um especialista.

O que o avanço da tecnologia fez com o jornalismo que nós ainda não percebemos claramente? Digo, quais devem ser nossas prioridades num mundo em que pessoas, instituições e governos conversam entre si, sem a nossa mediação?
Essa é a pergunta do milhão, Alec. Tem um paper do Nic Newman que traz um balanço interessante do movimento das mídias sociais, ressaltando as eleições do Irã como um desses exemplos a serem analisados com calma. Esse mesmo documento traz uma observação óbvia, mas que ultimamente anda me incomodando um pouco. Ele lembra que, nos últimos 15 anos, tivemos três fases distintas envolvendo ferramentas de publicação e seu uso pelo mainstream, especialmente os sites de notícia: os quadros de aviso num primeiro momento; os blogs num segundo; e finalmente os sites de relacionamento e outras ferramentas, como Twitter, Facebook. E estas fases se sobrepõem, o que representa um volume sem precedentes na participação das pessoas, dentro ou fora destes sites de notícia. O que ainda não percebemos claramente é de que forma essa profusão de mensagens, muitas vezes fragmentadas, repetitivas ou mesmo irrelevantes, poderão fazer sentido. O desafio do jornalista não está apenas em filtrar e encadear estas mensagens – como muitos já sugerem, tornar o profissional um “gatekeeper” constante – mas em desenvolver um ambiente que represente uma “quarta fase”, dentro desta linha sugerida pelo Nic Newman. Meu palpite é a de que, para isso, serão priorizadas questões como a própria relevância destas participações. Mas é só um palpite, lógico.

‘Não existe mais informação exclusiva’, diz Marcelo Träsel

Com Marcelo Träsel, jornalista, professor e pesquisador, minha relação é antiga: dividimos opiniões e compartilhamos dúvidas (e soluções) durante um bom período de trabalho no portal Terra. De lá para cá, ele se especializou na análise da influência das novas mídias no exercício do jornalismo. E é assertivo ao dizer que o copia e cola acabou com a informação exclusiva “microssegundos” depois que ela é publicada. Notícia virou commodity, acrescento eu.

Na conversa que você lê abaixo, fiz questão de falar sobre apuração distribuída, seu objeto de pesquisa mais recente. Träsel defende a prática (que consiste em “repartir trabalho” com os leitores, como analisar uma lista extensa de documentos). Para o professor, que comanda uma concorrida pós em Jornalismo Digital na PUC-RS, trata-se de ótimo exemplo de jornalismo participativo _neste caso, o trabalho dos leitores terá, sempre, de passar por filtro e mediação do jornalismo profissional antes de ser publicado.

Falamos ainda de como o leitor-colaborador é maltratado pelo mainstream, que oferece apenas o doce da visibilidade em troca de material exclusivo.

Pesa contra a apuração distribuída o tabu (ou a ignorância, como queira) do mainstream, que acredita que a partir do momento em que disponibiliza abertamente um documento (ou conjunto deles) que obteve com exclusividade, está dando o ouro para o bandido, ou seja, municiando a concorrência com informações que em tese deveriam ser exclusivas. A colaboração do público nunca é lembrada, num primeiro momento. É sempre o menos importante. A discussão sempre começa com “tempos de proteger esse conteúdo a sete chaves e descobrirmos nós mesmos o que ele traz de valioso”. Há um antídoto contra isso? O que dizer aos veículos que ainda protegem informação muitas vezes corriqueira da visibilidade pública e resistem a apelar ao crowdsourcing?

O crowdsourcing e outras formas de participação do público não são adequadas para todas as culturas empresariais. Admiro mais uma empresa que resiste a esse tipo de projeto por apego às rotinas de trabalho e valores jornalísticos da época da mídia um-todos do que as empresas que introduzem o crowdsourcing e seções com graus variados de participação apenas para surfar na onda do “jornalismo cidadão”. E são muitas. Abrir espaços para comentários num webjornal é muito fácil. Difícil é realmente levar em conta a opinião e a informação produzidas pelo público no cotidiano da redação.

Feita essa ressalva, voltemos à questão: o crowdsourcing é uma ferramenta que libera os repórteres de tarefas repetitivas e de pouca exigência técnica, garantindo mais tempo para minerar pautas inovadoras e informação realmente inédita. O verdadeiro ouro do jornalismo não são os documentos, mas o enfoque, o gancho, a pauta. Documentos em si mesmos não dizem muita coisa. Devem ser acompanhados de contextualização, de contrapontos das partes envolvidas. A meu ver, faz mais sentido destacar cinco repórteres para repercutir da melhor forma possível os dados do que condená-los a passar dias garimpando documentos, trancados na redação. Até porque, cerca de 10 microssegundos após a publicação dos dados arduamente refinados, toda a concorrência vai dar CTLR+C e CTRL+V e foi-se a exclusividade. Não existe mais informação exclusiva.

Não custa lembrar também que o papel do noticiário é informar a sociedade, seja por quais meios forem, e não alimentar o ego dos repórteres com furos.

O Guardian tem aquele projeto bem bacana, de ter jogado quase 500 mil notas fiscais na rede e pedido a seus leitores que o ajudem a achar problemas nelas. Mas já surgiram poréns: circula a informação de que assessores parlamentares são contumazes frequentadores do projeto, seja desqualificando provas ou validando outras, sempre de acordo com os interesses de suas siglas políticas. Isso, de certa forma, não sugere que a apuração distribuída é apenas um ponto de partida, algo que exigirá retrabalho, filtros e mais filtros, além de muitíssima apuração, depois? Não pode, em resumo, atrasar o andamento de uma apuração, por mais incrível que pareça?

Embora existam distorções, creio que no fim das contas as estratégias de apuração distribuída sempre vão trazer vantagens para uma equipe de reportagem. Como em todos os sistemas abertos à participação, atores envolvidos nos fatos podem tentar avacalhar a análise dos dados, inserindo contrainformação. Porém, no caso do Guardian mesmo, o sistema permitia a qualquer pessoa revisar as páginas já analisadas e denunciar abusos. Além disso, o número de participantes é tão grande (naquele caso, cerca de 24 mil pessoas) que as distorções provavelmente acabam soterradas pelas intervenções válidas. Pode-se até pensar num sistema que apresente o mesmo documento a, digamos, três participantes diferentes, e avise se houver inconsistências na análise.

Como afirmei acima, porém, os dados em si mesmos não dizem muita coisa. Portanto, o resultado de um projeto de apuração distribuída é, sim, apenas um ponto de partida. Além de contextualizar e repercutir os dados, também é papel dos repórteres verificar todas as informações. Igualzinho a qualquer outro tipo de reportagem.

Não custa lembrar, ainda, que assessores de políticos e profissionais de relações públicas interferem em reportagens realizadas sem ajuda do crowdsourcing usando os métodos mais variados. Um sistema automático ao menos elimina o perigo da influência pessoal e do suborno.

Pra mim o crowdsourcing, para ser bem-sucedido, envolve uma relação de troca. Muitas vezes noto gente que nunca fez nada por mim (ou seja, jamais me deu uma informação útil ou se engajou em algum projeto do meu interesse) pedir auxílio na web. Aliás, acho frequente essa atitude na grande mídia. Parece que ela sempre quer algo de você, mas nunca dá nada em troca _melhorando: acha que seu conteúdo basta. É falha na conversação, reage tal um mamute ante situações novas, é refratária e teme novas tecnologias, segrega o conteúdo produzido pelo usuário a um gueto qualquer em seu site… Tudo pra dizer que reclama-se muito, especialmente no Brasil, do qualidade do colaborador. Mas acho que ele é maltratado, a grande mídia não precisa mudar de atitude?

Quanto a essa questão, vejo dois problemas principais:

1- A mídia se aproveita do material produzido pelo leitor, mas dá em troca apenas “visibilidade” e muitas vezes sequestra esse material. Basta ler os termos de cessão de direitos da maioria dos sistemas de colaboração do leitor para perceber isso. Em geral, ao enviar um texto, áudio ou imagem, o leitor abdica de todos os direitos sobre esse material – até mesmo o direito de publicar esse material em sua conta no YouTube, álbum do Flickr etc.

As colaborações enviadas passam a ser propriedade da empresa de comunicação, o que, convenhamos, é ridículo e absurdo. Se produzi uma foto e a enviei de graça a um jornal, tenho de no mínimo manter os direitos de uso. Os setores jurídicos vêem a colaboração do leitor como uma doação, quando, na verdade, é um compartilhamento, uma concessão, um empréstimo. É justo que o leitor faça o mesmo empréstimo a outros jornais e distribua a informação via redes sociais. O interesse da sociedade é que a informação seja disseminada o máximo possível, e não que empresas de comunicação transformem a participação do público em uma fonte de matéria-prima barata.

Seria muito justo se as notícias produzidas com base em dados e imagens enviados pelo público fossem distribuídas sob licença Creative Commons, por exemplo, já que a empresa não pagou por elas. Talvez seja pedir demais.

2- As informações enviadas pelo público interferem muito pouco na rotina das redações. São raros os casos em que uma equipe dedicada a isso vai atrás das lebres levantadas pelos colaboradores. Envolver-se com os assuntos de interesse dos colaboradores seria a melhor forma de pagá-los pelo compartilhamento de informação e contribuiria muito para melhorar, do ponto de vista social, a cobertura da imprensa.

As pautas enviadas pelo público são um excelente termômetro da sociedade e uma forma de adequar a cobertura ao interesse real da comunidade. É claro, pouca gente se interessa por notícias de Brasília e isso não significa que se deva seguir cegamente os dados de audiência e extinguir a editoria de política. Talvez, porém, pudesse haver menos governo federal e mais governo municipal, Câmara de Vereadores e Assembléia Legislativa na imprensa regional. Mais bairro e menos país.

Percebo que as colaborações enviadas por leitores nos bons projetos de webjornalismo participativo em geral se preocupam em cobrir essa lacuna da cobertura. São mais voltadas ao buraco na rua, aos ônibus superlotados, ao terreno baldio cheio de lixo. Alguns jornais têm aproveitado essa fonte inesgotável de pautas e designado repórteres para aprofundar os temas. A maioria, porém, enxerga as seções de webjornalismo participativo como um tipo de parquinho onde o leitor pode brincar de ser jornalista. É um desperdício.

Paulo Querido: ‘As redações são insubstituíveis’

Pouca gente sabe, mas o Webmanario tem fortíssimos laços lusófonos. Há meses em que 40% de sua audiência provém d’além-mar. E a conversa com meus colegas de lá tem sido muito rica. Bem por isso publico os textos aqui cedo, para que meus amigos africanos e europeus possam acessar o quanto antes.

Daí que eu resolvi falar com Paulo Querido, 49 anos, jornalista como nós. Um cara que (eu também) passou pelo jornalismo esportivo e agora navega por outros mares. Um pioneiro das ferramentas que facilitam, na internet, a prática do jornalismo. E um crítico feroz dele, especialmente o formal _melhor dizendo, o burocrático.

Sem mais delongas, eu queria saber dele se as redações vão acabar. Isso, as redações, esse bando de pessoas reunidas em torno de um objetivo, que é preencher espaço e lapidar unidades de informação, usando design de notícias, até o momento do fechamento.

“As redacções têm funções insubstituíveis”, me conta Querido. Leia o contexto e a íntegra da conversa abaixo.

Portugal parece ter adotado o microblog como plataforma pessoal de publicação, e vc é um dos pioneiros desse movimento (não tenho números, mas a relação usuários de internet versus usuários de internet com conta ativa no Twitter deve ser extraordinariamente alta em seu país). Passado o hype, já deu para entender exatamente de que forma o mainstream está usando o microblog num ambiente em que vários outros usuários parecem sempre estar passos à frente do jornalismo profissional? Você aprova o uso que a imprensa formal tem dado à plataforma?
A utilização do Twitter em Portugal não segue fielmente a evolução noutros países. Um exemplo? Ao contrário do que se passa no Brasil e também nos EUA, cá praticamente ninguém da cultura/entretenimento ganhou protagonismo no Twitter. À excepção de 3 ou 4 humoristas e 1 músico, não há “celebs” portuguesas na plataforma.

Dada essa e outras bizarrias lusitanas, não espantará que os media sigam o mesmo caminho de desentendimento.

A maior parte passou ao lado. Apenas a televisão pública e um pequeno jornal online em formação (o Diário2) tiram algum partido do Twitter, fazendo um uso correcto da plataforma. Os outros não fazem sequer ideia do que é o Twitter: limitam-se a despejar títulos de matérias para lá, usando o Twitterfeed, e não mostram critério para a gestão dos followers.

Manuel Castells diz que a política é essencialmente midiática. Partindo desse conceito, você acha que a leva de políticos embarcados ao Twitter tem conseguido transmitir mensagens positivas para seus propósitos eleitorais ou, todo o oposto, estão fervendo num caldeirão de conversação onde a última palavra parece ser sempre a do público?
Portugal passou 3 actos eleitorais em 2009, o ano do Twitter. Diversos políticos e governantes, bem como jornalistas de política, usaram o Twitter. Penso que, mais que transmitir mensagens positivas, o melhor uso foi ao nível de estabelecer diálogos com retransmissores com alguma influência, por um lado, e, mais importante, usando o Twitter como um grupo de foco, como se faz na publicidade; o Twitter foi essencialmente um tubo de ensaio para frases, soundbytes, discursos e temas.

Sua visão sobre o jornalismo tradicional é bem peculiar. Somos de um tempo em que só podíamos recorrer a ele, mas hoje há tantas alternativas para iniciativas pessoais que, fosse na nossa época, é muito provável que jamais tivéssemos trabalhado numa redação formal por horas a fio. Onde isso vai parar? As redações deixarão de existir? O trabalho jornalístico poderá ser todo ele feito de maneira remota, recorrendo a novidades tecnológicas de concepção e acabamento do produto e de comunicação entre os jornalistas?
Não creio que as redacções deixem de existir. Seguramente que diminuirão de importância e de tamanho, à medida que se deslocalizam para a Internet muitos dos processos e rotinas do trabalho jornalístico. Sim, muito trabalho é feito (com vantagem) remotamente, mas subsistirá uma parte do trabalho que demanda presença física e, sobretudo, contactos verticais.

Os aspectos da cadeia hierárquica da produção do jornalismo, e também da socialização profissional dos jornalistas, não podem desaparecer. As redacções têm funções insubstituíveis. O video com mais qualidade, a edição de som cuidada, as reuniões entre equipas que perseguem os mesmos objectivos ou temas, o secretariado, as relações com a empresa, a formação…

Não há maneira mais prática de dar respostas adequadas a estes ítens do que ter uma redacção. Do que não tenho dúvidas: o jornalismo é cada vez mais necessário e a sociedade depende crescentemente dele para estar bem informada.

O fim anunciado de um dos seus transportes, o papel de jornal, e os problemas de adaptação do futuro modelo económico são obstáculos que estarão rapidamente ultrapassados porque a verdade é esta: a procura de notícias está a aumentar, é uma questão de tempo até os media acertarem com os melhores mecanismos para a oferta.

Wikipedia: ‘é um contrasenso acreditar que um projeto on-line pode superar questões de disputas de poder’

Minha conversa nesta semana é com Carlos d’Andrea, jornalista graduado pela UFMG, especialista em Gestão Estratégica da Informação e mestre em Ciência da Informação pela ECI/UFMG, além de coordenador do curso de Jornalismo da UFV, em Viçosa (MG).

O tema, a Wikipedia, umas das especialidades dele. E minha eterna preocupação: afinal, existe democracia dentro de um projeto colaborativo tão ambicioso e grande como o de Jimmy Wales?

Quem não é nativo digital tem uma dificuldade flagrante em compreender o processo de construção de reputação em projetos colaborativos de massa, como a Wikipedia. Não entende-se, por exemplo, que a frequência de participação dá muito mais pontos que a qualidade dela _ainda mais se for única. A Wikipedia é realmente um ambiente democrático e aberto à edição da inteligência coletiva? Quem manda na Wikipedia?
Acho que temos várias questões nesta pergunta. Há sim uma dificuldade não só dos usuários que não são nativos digitais, mas também dos que estão “presos” aos modelos tradicionais de produção de conteúdo e mesmo dos que associam a idéia de colaboração à simples criação de um espaço pessoal para publicação – blogs, por exemplo. Na Wikipédia, um espaço em que todos atuam no mesmo conteúdo em busca de um consenso provisório (e improvável) sobre um tema, torna-se indispensável o aperfeiçoamento de mecanismos de reputação para hierarquizar minimamente a participação do público.

A mensuração poderia ser mais quali do que quantitativa? É improvável que desse certo. Sabemos que mensurar qualidade de uma informação, ou de uma ação, é algo tão subjetivo que inviabilizaria o funcionamento do projeto na escala em que ele se propõe. Além do mais, a Wikipédia está baseada numa lógica operacional e ideológica calcada no TRABALHO. Mais do que gênios ou doutores, o projeto espera atrair operários, isto é, pessoas a se debruçar sobre ele de forma exaustiva.

Dizer se a Wikipedia é ou não um “ambiente democrático e aberto à edição da inteligência coletiva” é complicado. Em grande parte, é, mas é tão baseado em regras e hierarquias internas que passa a ser uma “democracia” que poucos compreendem e/ou têm a disposição de se engajar. É como se tantos fossem analfabetos que as eleições ficam sob suspeita…

Seria fácil dizer que quem manda na Wikipédia são os administradores, que são usuários que foram eleitos e possuem prerrogatigas técnicas. Mas talvez mais do que eles o que determina os rumos do projeto é uma forte vinculação ideológica com a proposta seguida por eles e a rígida estrutura organizacional que, ainda que voluntária e parcialmente descentralizada, norteia os editores.

Pedro Doria, diretor de mídias digitais do Grupo Estado, imagina o modelo de “matérias abertas” para o jornalismo do futuro/presente. Nesse caso, não com a participação direta do público, mas de jornalistas profissionais _pelo menos num primeiro momento. Você vê alguma esperança para o wikijornalismo prosperar, já que a própria Wikipedia é um sucesso também pela rapidez com que informações recentes sobre personalidades sejam agregadas aos verbetes?
Discuto uma possível “wikificação do jornalismo” em um artigo recém publicado em português no livro Metamorfoses Jornalísticas 2 e na revista BJR. Lá faço uma distinção que, aparentemente, é bem parecida com a que o Doria propõe: wikis só de jornalistas (ou pessoas previamente autorizadas) e wikis abertos, como a Wikipédia.

Acho que como os wikis têm um potencial tremendo como ferramenta para edição de conteúdo jornalístico, principalmente numa época em que a rapidez de produção tem se confundido com uma fragmentação excessiva do conteúdo publicado. A cobertura de eventos duradouros e temas mais complexos pode perfeitamente ser editada em um wiki, que serveria ainda como plataforma para armazenamento a longo prazo. A abertura ao público pode (e deve) acontecer de acordo com o grau de visibilidade do veículo e do assunto.

As frequentes situações de vandalismos em artigos de maior destaque na Wikipédia, inclusive daqueles vinculados a personalidades ou eventos recentes, mostram que a abertura total é inviável – tanto que na Wikipédia os editores tomam frequentemente medidas mais duras, com a proteção do artigo.

Eu não acho a Wikipedia democrática, ela é regida por uma liturgia que em muito lembra o poder fisicamente constituido. Se você pudesse mudá-la, onde mexeria?
Sim, lembra o “poder fisicamente constituído”, principalmente porque advém dele. Acho que todos nós gostaríamos, mas é um contrasenso e inocente acreditar que um projeto on-line poderia facilmente superar questões fundamentais de nossa sociedade, como disputas de poder e intolerância.

O grande desafio da Wikipédia – e se eu pudesse, mexeria nisso, claro – é aumentar a coordenação do trabalho e não associá-lo ao uso abusivo do poder. Há um outro aspecto que me incomoda muito na Wikipédia: no geral, sua interface ainda é muito pouco amigável para o usuário leigo.

Refiro-me primeiramente à própria linguagem de marcação usada no software MediaWiki, que é um empecilho para uma edição mais estruturada por um novato. Esta questão culmina, por exemplo, na dificuldade para se entender os processos internos de votação, discussão, socialização etc. Se a Wikipédia mensurasse a participação dos editores através de um karma (visualmente, inclusive) mais objetivo, como fazem sites de ediçao colaborativa (Digg), seus processos nternos seriam mais transparentes.

Mídia social, patrulhamento ideológico, visão de futuro e infografia animada: a semana no Webmanario

1. Três perguntas para Ana Brambilla: ‘Quem ignora o que o público diz em mídias sociais não pode ser jornalista’

2. Confecom, uma aberração

3. Visionário, Leo Bogart discorre sobre o presente em artigo de 1984

4. Um gráfico animado impressionante: a evolução da audiência do The New York Times no dia em Michael Jackson morreu

‘Quem ignora o que o público diz em mídias sociais não pode ser jornalista’

Ana Brambilla é minha dupla colega: é jornalista e professora de jornalismo. Mestre em Comunicação, acaba de assumir como editora de mídias sociais do portal Terra. Um desafio e tanto.

E é exatamente sobre mídia social (e jornalismo cidadão, assunto no qual Ana é uma referência) que versa meu bate-papo com ela (via e-mail), o primeiro da série “3 Perguntas Para” que aparecerão com frequência no Webmanario.

Na conversa, ela alerta sobre a importância de o jornalismo profissional estar atento ao que diz e produz e público. E faz uma defesa incondicional do jornalismo cidadão.

Já faz algum tempo que estou fascinado com o fenômeno lan house de periferia e a inclusão digital da população brasileira (NOTA: esta entrevista se deu antes que o IBGE divulgasse que as lan houses só perdem para as residências no acesso à web no Brasil). Já somos o povo que mais tempo passa na web, e nessa faixa social (classes C e D), o avanço na internet é imenso. Sinal de que a rede é um gênero de primeira necessidade ou de que faltam mais opções de entretenimento (notadamente as bancadas pelo poder público)? Até que ponto ficar muito tempo na web é sinal de avanço de um povo?

O tempo on-line, quantitativamente falando, não me parece suficiente para estimar o avanço intelectual de um povo – a menos que essa “intelectualidade” seja reduzida ao “saber mexer” com a tecnologia. É necessário entender, antes, O QUE esse povo anda fazendo on-line, qual o tipo de informação tem acessado, produzido, processado.

Qualquer um que já tenha entrado em uma lan house sabe que o uso de Orkut e MSN é soberano. Considerando que são plataformas de relacionamento e que em termos de contato humano, convivência é um dos traços mais característicos da brasilidade, estas plataformas digitais só vêm intensificar este cimento social de que o brasileiro tanto gosta. Ou seja: se ainda há dúvidas sobre a tecnologia aproximar ou afastar as pessoas, o uso intenso das mídias sociais pelos brasileiros mostra que a aproximação ainda prepondera.

Mas não fiquemos apenas no relacionamento. Há quem use o conhecimento da rede para aprender. Lembro de um vídeo bacana feito pela Regina Casé que mostra as lan houses da periferia e, nele, um rapaz conta que aprendeu a consertar bicicletas em tutoriais publicados no YouTube. Desde então, vem ganhando dinheiro com isso. A web estimula o autodidatismo. E para quem tem vontade de aprender mas não tem grana para investir em cursos, as lan houses podem ser boas salas de aula 🙂

O jornalismo profissional tende a considerar a mídia social uma falácia. Pouco importa o que as pessoas falam ou deixam de falar. O que perde um jornalista por profissão que ignora de própria vontade o que se diz em plataformas de publicação pessoal? Como a mídia social pode ser incorporada no dia a dia de quem trabalha com notícias?
Quem ignora o que o público diz em mídias sociais já devia ignorar o que este mesmo público dizia nas ruas. Ou seja: não pode ser jornalista. Afinal, a razão de existir do jornalismo é GENTE. O público é fonte, o público é (ou deveria ser) a finalidade do nosso trabalho. E se ele – ou o que ele pensa, diz – é ignorado por quem estás nas redações, melhor faz se desprezar o trabalho do jornalista.

Aliás, isso me faz pensar porque os sites noticiosos não estão entre os mais acessados na web. Será que o público se vê neles? Ora, a internet é o lugar onde o público, finalmente, pode se ver. Se o jornalismo praticado no meio digital for igualmente burocrático e limitado às fontes oficiais tal como grande parte dos veículos tradicionais, está fadado a ser engolido por sites de entretenimento ou mesmo pelas redes sociais nos relatórios de audiência. Como não estamos muito distantes disso, alguns veículos estão se dando conta de que devem estar presentes também nas mídias sociais.

E este é um despertar histórico. Afinal, será preciso quebrar paradigmas de linguagem jornalística, de critérios de noticiabilidade, ou seja, conceitos seculares da profissão que mexem nos brios de quem se diz mestre na “arte” de transformar a realidade em notícia. Enquanto empresas de comunicação de vários países contratam seus editores de mídia social, há quem esteja vendo neste novo colega uma oportunidade de expandir a visibilidade de seu próprio trabalho, há quem esteja temendo por novas obrigações em troca do mesmo salário.

Não agradar a todos é natural, J.C. provou disso (não, não me referi a Jornalismo Colaborativo, embora ele também não tenha agradado a todo mundo).

Mas a minha visão da equação jornalismo + mídias sociais é de total interdependência. Jornalista que não souber/quiser/gostar de incorporar as mídias sociais no seu trabalho, não terá lugar no mercado.

Em relação a como as mídias sociais podem ser incorporadas no dia a dia de quem trabalha com notícia, creio em 3 vertentes:

– apuração (busca por fontes, personagens, pautas, testemunhos, opiniões);
– veiculação (linguagem adequada às mídias sociais, grupos e momentos certos para divulgação de determinadas notícias);
– feedback/relacionamento (é muita informação espontânea e barata – na verdade, de graça! Por que não aproveitar para MELHORAR o meu trabalho? E por que não trazer esse aliado para MAIS PERTO da minha rotina profissional?).

Você acompanhou bem de perto a trajetória do Ohmynews, projeto que podemos considerar modelo em jornalismo participativo. E sabe que eu tenho várias restrições a ele (a principal, o adestramento de cidadãos para que se comportem como repórteres, quando a improvisação e desconhecimento de vícios e liturgia da profissão me parecem mais adequados à tarefa). Outro dia o Paulo Querido, jornalista português, disse que o jornalismo cidadão “dá uma notícia por ano”. Eu também tenho aquela sensação e que a noção de notícia de quem colabora com sites jornalísticos é do tipo meu-cachorro-fez-xixi-no- poste. De Gillmor a Querido, passando pelo Ohmynews (que estaria moribundo financeiramente, não?), você também não se decepciona com a qualidade da colaboração na nossa área? Que projetos colaborativos você referendaria hoje como modelos a serem observados? E o Ohmynews, que destino você enxerga pra ele?

E quem disse que o meu-cachorro-fez-xixi-no-poste não pode ser importante? Há um problema enorme nos noticiários colaborativos ancorados pela grande mídia, que pretendem aplicar os mesmos critérios de noticiabilidade para as reuniões de pauta da redação E para o conteúdo que o público manda. Isso reflete o vício do jornalista achar que sabe o que “é importante” para a sociedade, que ele sabe o que o público deve saber. Será? A propósito, o que é “importante” para alguém? Me parece um conceito tão individual que o jornalismo pasteurizou com uma arrogância absurda nos últimos 200 anos. Afinal, o que É importante está no noticiário. Mas importante para que, cara-pálida?

Se os critérios de relevância editorial forem os mesmos para o jornalismo tradicional e para o jornalismo colaborativo, então Paulo Querido tem razão: o público deve dar uma notícia por ano. Só que o erro vem antes disso. Vem na proposta editorial que estes noticiários trazem ao público. Eles querem cópias de si mesmos só que feitas pelas mãos dos outros. E isso é impossível! O público não estudou para isso. O público NÃO RECEBE para isso. Por que vai fazer um trabalho igual ou melhor do que o de um jornalista? O público fala daquilo que interessa a ele, à microssociedade dele. E isso vai do 1º dia do filho na escola até a sujeira na praça ao lado da casa dele. Por isso que o jornalismo colaborativo é quase sinônimo de jornalismo hiperlocal. E aí chegamos num dos pontos que, talvez, tenham jogado contra a trajetória do OhmyNews.

Este noticiário sul-coreano nasceu em âmbito nacional. Para os menos de 50 milhões de habitantes, o OhmyNews dava conta. Mostrava uma realidade que não aparecia nos jornais tradicionais, até mesmo por um vínculo forte que estes mantinham com o poder público, fruto de uma redemocratização tardia, além dos malditos kisha clubs, tradição segregacionista que mina a imprensa do oriente e limita o acesso a determinadas informações das grandes esferas sociais apenas aos veículos maiores, bancados por elas. Eis que o OhmyNews encontrou um nicho e cresceu. Cresceu tanto que não coube mais só na Coreia.

Espalhou a ideia pelo mundo. Foi copiado. Criticado, Ovacionado. Mas se já é difícil fazer um noticiário de cobertura nacional, o que sobra para um noticiário global? Na contramão do jornalismo hiperlocal, o OhmyNews Internacional (versão em inglês) não recebeu grandes investimentos, tem uma infraestrutura tímida e atualização lenta. Ainda assim, segue vivo, dando espaço para muitos cidadãos repórteres do mundo inteiro. Aliás, não conheço outro espaço jornalístico tão cosmopolita.

Para que o OhmyNews tenha futuro, é preciso haver uma mudança no modelo de negócio. Virar uma ONG ou experimentar o modelo de crowdfounding são algumas possibilidades. Vejo que o papel social deles é suficiente para justificar uma dessas duas alternativas. Assim, quero observar de perto o Spot.Us, Ushaidi e o Witness, projetos de crowdfounding ou crowdsourcing que podem nos ensinar modelos interessantes – tanto editoriais quanto financeiros.