Todo paulista é bicha, mas leia antes as letras miúdas

O carioquíssimo Bernardo Mello Franco, gaiato que só ele (e ótimo repórter, diga-se), decidiu do nada enviar ontem uma capa histórica da imprensa brasileira. A manchete choca: “Todo paulista é bicha”.

Bem, choca quem, como eu, apesar de gaúcho (mais motivo pra piada), fala com esse sotaque da Mooca.

Tudo a ver com a irreverência do jornal que, vitaminado pelo humor carioca-mineiro de gente como Jaguar, Ziraldo e o Sérgio Cabral do bem (o pai), sobreviveu entre 1969 (meses antes de eu nascer) e 1991 com linguagem irreverente que seria precursora do chamado “humor moderno”, hoje representado no Brasil por um bando de gente chata que se faz passar por jornalista (enquanto a turma do Pasquim, formada basicamente por jornalistas, também tinha orgulho da opção pelo humorismo).

Imagine essa capa vista de longe, na banca _aliás, Bernardo não mandou tão do nada assim, ela é de 14 de julho de 1971, ou seja, fez anos outro dia.

Letrinhas miúdas (“que não gosta de mulher” aparecia entre TODO PAULISTA e É BICHA) aliviavam o insulto. Mas pra quem via de longe…

A propósito, foi o Pasquim quem popularizou (para alguns, foi o criador) do termo bicha como sinônimo de homossexual.

E eu agora pergunto: nos tempos do modorrento politicamente correto, isso seria possível?

11 Respostas para “Todo paulista é bicha, mas leia antes as letras miúdas

  1. Conta tantas mamães de família nas redações; sem cigarros movendo os textos; e com os assessores de imprensa elaborando metade do jornal, é impossível, sim.

  2. Não seria possível – infelizmente – no Atual Mundo do Politicamente Correto

  3. Claro que hoje uma coisa dessas não seria possível.

    Primeiro porque os jornalistas (e até muitos humoristas), já devidamente adestrados na ideologia do politicamente correto, se auto-censuram.

    Segundo porque se alguém ousasse cometer tal heresia, logo a publicação seria censurada mesmo, na tora, mediante ações judiciais relâmpago, exigindo não só a apreensão imediata dos jornais, mas também punição severa e exemplar para seus responsáveis.

    Tudo isso acompanhado de muito chororô gayzista, com ONGs e Ministério Público na parada, parlamentares serviçais da causa fazendo discursos inflamados, a minoria barulhenta repetindo aquelas famosas e confiáveis estatísticas de que um milhão de homossexuais morrem a cada fração de segundo vítimas de “homofobia”, alarmando que o jornal estaria incitando a “violência homofóbica”, e tudo aquilo mais que a gente já sabe.

    Saudações e parabéns pelo blog, muito bom.

    • É exatamente essa a questão: tanto patrulhamento leva, naturalmente, a uma autocensura triste e inimaginável…

      abs e obrigado pelo elogio!

  4. Não sei se seria impossível não… O Meia Hora faz umas manchetes bem interessantes!

  5. Alec, caro, o comentario do leitor livrexpress comprova o quanto ainda estamos atrasados (e como é bom que piadas assim, como as feitas contra negros na mesma época, fiquem de molho). Ele menospreza a violência homofóbica no país e chama de chororô ‘gayzista’. Sera que nao ouviu falar dos casos de gays que tiveram os olhos arrancados no Rio, do irmão gêmeo na Bahia espancado e morto porque abraçava o irmão (mas pensaram que fosse gay), sem falar nos espancamentos da Paulista? Sim, o Pasquim tinha sacadas ótimas, mas representava o hétero branco da Zona Sul, que sempre se achou acima dos demais… Felizmente o mundo mudou, mas a violência ainda não. Triste ler gente educada ainda achando que dá pra tirar sarro sem maiores consequências. Abraço

    • É verdade, Raul, a democracia e a livre expressão têm esse aspecto negativo: dar voz à imbecilidade.

      Saudades de você, meu caro!

  6. Se você conhecesse a história saberia que a contribuição do jornal “Lampião de Esquina”, em contraponto as abordagens pejorativas do esteriótipo gay do jornal Pasquim, foi muita mais relevante. E claro ninguém falava “bicha” né, foi ele quem inventou (risos) e se foi que contribuição gigantesca parabéns. Abraços.

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