Arquivo da tag: web semântica

Consultor discute como dar sentido à massa de dados na rede

Segue abaixo crítica que fiz do livro Pull (publicada ontem pela Folha). Nele, David Siegel consegue explicar a evolução da web semântica, sem entretanto escapar de uma coleção de clichês e do inevitável “você ainda vai ganhar muito dinheiro com isso” que povoam 100% das obras traduzidas sobre o tema para o português.

“Ainda que sem dolo, Tim O’Reilly fez um grande mal à internet ao batizar seu evento para debater o futuro da rede como Web 2.0, termo que se revelou apenas mais um rótulo marqueteiro.

Trata-se de uma evolução impossível de pontuar aleatoriamente em números simplesmente porque alguém decidiu que é assim.

David Siegel é sutil ao prever que, quando todos os aplicativos forem hospedados na “nuvem” (ou seja, na web, não em hardwares), chegaremos à fase 4.0.

Outro rótulo, mas “Pull – O Futuro da Internet e o Impacto da Web Semântica em Seus Negócios” está forrado deles. Alguns, porém, são surpreendentemente bons.

Por exemplo, explicar web semântica como algo “inequívoco”, como faz Siegel, é bem didático e esclarecedor.

E o que isso significa? Que, se eu procurar informações sobre uma pessoa, as chances de chegar a um homônimo serão bem próximas do zero.

Essa é a vantagem de uma estrutura semântica numa rede que, afinal de contas, serve para coletar e organizar informação, pessoal ou não.

É nela que repousa a crença de Siegel em que a economia será revolucionada por armários de dados pessoais com todas as nossas preferências _que poderão, graças à semântica, ser acessadas rapidamente.

Desde que a web é web, ela precisa ser semântica, necessidade básica cumprida com algum louvor _não avançamos por acaso da fase da navegação impessoal em páginas iniciais para a estruturada na busca. Os algoritmos das ferramentas de pesquisa procuram todo o tempo atribuir significado ao conteúdo.

A questão é que o passo definitivo tem de ser dado por milhões de indivíduos, os consumidores e produtores de conteúdo, principais responsáveis pela catalogação inequívoca de seus próprios dados. Ao lado disso, a criação de bancos de dados com todas as nossas transações comerciais e pessoais (já em curso) joga um papel decisivo nesse processo.

Siegel escreve ainda sobre o que seria uma revolução: que a web profunda, ou cerca de 90% da rede, pudesse estar disponível. É um caminho distante, mas que também já começou a ser trilhado.

Hoje, essas informações em boa medida estão escondidas dos mecanismos de busca, mas, aos poucos, começam a ser indexadas.

O centro da atividade on-line é o indivíduo, diz Siegel. Faz todo sentido numa época em que pessoas são muito mais importantes que instituições. O usuário está no controle, mas, para conhecê-lo melhor (e mais rápido), as empresas terão de modificar radicalmente a forma como se relacionam com ele.

Se a obra de Siegel não é uma visão nova ou revolucionária sobre o momento que estamos vivendo agora, ao menos nos reforça o caráter inevitável da transformação.”

A última do link patrocinado

A notícia fala em proibição, enquanto os anúncios oferecem a venda do produto ilícito: clara incongruência que estremece a credibilidade jornalística

A notícia fala em proibição, enquanto os anúncios oferecem a venda do produto ilícito: clara incongruência que estremece a credibilidade jornalística

Viu a imagem acima, uma captura de tela do site de O Globo nessa semana? Pois é, depois ainda me perguntam por que eu combato o uso de links patrocinados ou adsense em produtos jornalísticos.

A notícia do jornal carioca fala na proibição, pela Anvisa, da venda e importação do cigarro eletrônico em todo o território nacional. Pois a publicidade imediatamente abaixo oferece justamente o que? Lotes de cigarro eletrônico em 18 vezes sem juros.

O episódio expõe com clareza o problema, para quem trabalha narrando acontecimentos, de ficar à mercê de uma máquina de busca brilhante mas que possui seus momentos de absoluta imbecilidade _aqueles em que é preciso agir como gente.

Imagine um jornal não saber o conteúdo de um anúncio numa de suas páginas _às vezes eles chegam tarde à redação, é verdade, mas por volta de 19h30 todos sabemos o que é aquilo que está atrapalhando e tomando espaço em nossas páginas.

Propaganda não pode ser aleatória, tem de ser gerenciada.

Para seu própria bem, diga não ao link patrocinado em seu site jornalístico. Pelo menos da forma como o conhecemos hoje.

Web o quê?

Nem bem entendemos direito (falo da profissão como um todo) as potencialidades da Web semântica _professor Francisco Madureira, por sinal, sempre que pode ressalta o aspecto altamente picareta do termo Web 2.0_, e já tem gente falando de Web 3.0. Outra falácia.

Não só falando como aconselhando os profissionais de jornalismo a sobreviverem nessa nova selva. Que, se você prestar bem atenção nos textos do Journalism.Uk que coloquei nos hiperlinks acima, não difere muito da antecessora (é antecessora mesmo? Ou se trata da mesma coisa?).

É comum os que acompanhamos a evolução tecnológica colocarmos a carroça na frente dos bois. As ferramentas estão aí, postas. Cabe ao profissional de jornalismo, antes de mergulhar no desconhecido, compreendê-las e procurar descobrir qual o melhor uso para elas. Não existem fórmulas prontas, como tantos tentam fazer crer.

A midiosfera de Jeff Jarvis

Sucedam-me na tarefa de dar um nome em português para a “press-sphere” teorizada recentemente por Jeff Jarvis, um dos caras que melhor têm analisado as mudanças que a tecnologia está trazendo ao exercício do jornalismo.

Há dias eu devia algumas linhas sobre tese tão singela e, ao mesmo tempo, tão certeira. Por sorte, já houve quem tenha tentado decupá-la. E de forma tão crítica e lógica que também vale a pena escutar.

O desenho acima, por exemplo, mostra como era o mundo da produção da informação. Tínhamos o planeta, a mídia intermediando tudo e, por fim, nós, os pobres mortais, na base do organograma (é a representação mais simples e adequada que já vi na vida).

Pois bem, as conexões pessoais, profissionais e cidadãs atuais _turbinadas e capitaneadas pela web_ colocaram a mídia dentro de um conjunto de pessoas e instituições que se interrelacionam como se coexistissem numa grande bolha.

E só não enxerga isso quem não quer. Consumidores e empresas conversam em outro nível (a própria palavra “consumidor” já é considerada ultrapassada, pois sugere passividade, algo que positivamente não existe mais). O diálogo entre cidadãos e governo, idem, evolui positivamente.

Numa época em que pessoas comuns (a ex-audiência) agora podem relatar fatos acompanhados de fotos, vídeos e sons, por que achar que o modelo mídia-toda-poderosa-sem-questionamento se manteria intocado?

Daí Jarvis chegou à midiosfera. E ao gráfico abaixo. Vamos pensar sobre isso?