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O massacre da escola e o fetiche da velocidade

O “jornalismo formal” costuma apontar o dedo para as redes sociais como um exemplo de falta de acuração e cuidado com a informação. Claro, acuração e cuidado com a informação são apanágios do “jornalismo formal”.

Daí um rapaz de 24 anos que teve toda a família assassinada pelo irmão mais novo (também morto) é apresentado pela mídia tradicional como sendo o assassino.

Definitivamente estamos caminhando com muita pressa. Esse fetiche da velocidade foi extraordinariamente dissecado na tese de mestrado que Sylvia Moretzsohn defendeu na UFF em 2000.

“Antes de mais nada a informação deve ser rápida para ser considerada eficiente. A velocidade, portanto, parece ganhar vida própria, e passa a ser o valor fundamental a ser consumido”, escreve a pesquisadora.

E isso agora é pra todo o sempre. Um ônus que o jornalismo em tempo real impôs aos nosso tempo. E que vale inclusive para a rede social.

Internet, velocidade e controles de qualidade

A internet não será um bom lugar para praticar o jornalismo até que existam controles editorais de qualidade.

O debate entre David Simon e Aaron Sorkin, roteiristas de séries e filmes de sucessos como The Wire ou A Rede Social, foi um dos pontos altos da semana passada em Cannes (a cidade francesa abrigou mais uma edição do festival de criação publicitária).

A conversa era sobre produção de conteúdo e, tenho de deixar claro, discordo da sentença que abre este texto, citada no papo.

Não existe lugar bom ou ruim para praticar o jornalismo, ele está posto, e em todas as fronteiras.

Simon (ex-jornalista) foi o mais crítico de todos à velocidade de ferramentas como o Twitter _hoje absolutamente dominados pelo jornalismo. Ele pediu mais critérios e profundidade.

É, aquele velho problema da superficialidade e rapidez. Mas jornais impressos têm o timing de 24 horas e estão forrados de erros e informação ligeira (também faço um e sei do que falo).

Talvez a maior curiosidade da conversa tenha sido Sorkin revelar que tinha ouvido falar do Facebook “como sabia sobre um carburador” antes de adaptar o roteiro que ganharia o Oscar.

Ah, e Piers Morgan absolutamente deslumbrado com o poder de drive de audiência (para a TV) que o microblog possui.

Currículo gigante engana o jornalismo

Essa poderia valer como discussão da velocidade versus qualidade no jornalismo on-line, mas na verdade atinge o jornalismo como um todo: a percepção de que um currículo gigante foi instalado num prédio em Campinas e, dias depois, a descoberta de que se tratava de uma ação de marketing de uma instituição de ensino.

A questão central aqui era: o currículo levava a crer que se tratava realmente de uma pessoa interessada em expor suas habilidades para conseguir uma possível oportunidade de emprego. No currículo constavam endereço e telefone do “pretendente”.

Daí me pergunto se era mesmo necessário publicar algo que não é notícia (pelo menos, não hardnews) sem a necessária checagem dos elementos _que neste caso inclusive iriam enriquecer ainda mais a reportagem, porque se alguém está atrás de emprego, provavelmente não teria como bancar uma publicidade daquele porte.

Bem, não houve tempo para nada: a falsa notícia foi ao ar, o que dá um ar de superioridade ainda maior para aqueles que bolaram a estratégia publicitária. Com a colaboração, mais uma vez, do jornalismo.