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A participação do público na TV Globo

Acho muito legal a série “Parceiros”, pelo qual a TV Globo estimula jovens não-jornalistas a produzir conteúdo jornalístico relacionado à comunidade onde vivem.

A emissora é, de longe, quem mais está dando voz ao seu público, mergulhando de cabeça na concepção da participação das pessoas no processo de constituição do noticiário. É um caminho sem volta.

O único porém: o treinamento que esse pessoal recebe, de alguma forma, pode adestrá-los como repórteres, fazendo com que a gente perca justamente o que é mais bacana na colaboração: a ausência de vícios que os profissionais carregamos.

Escândalo de escutas ilegais reabre discussão sobre controle da mídia no Reino Unido

Como era de se esperar, o escândalo de escutas ilegais (e outras cositas más) perpetradas por veículos do grupo NewsCorp, de Rupert Murdoch fez recrudescer, na Inglaterra, a discussão sobre o controle da mídia.

Stephen Coleman, professor de comunicação política na Universidade de Leeds, aborda o aspecto de responsabilidade da mídia, mas abre uma avenida que pode transformar o mero controle: que a nova regulamentação se preocupe ainda em capacitar jornalistas e investir em pesquisas sobre ética e procedimentos.

“Não há nenhuma habilidade específica para se tornar um jornalista, mas padrões básicos que precisam estar no foco”, diz ele.

Correspondentes comunitários fazem a diferença

Vale a pena prestar atenção no blog Mural, obra do jornalista Bruno Garcez, que fez um treinamento com 20 moradores da periferia de São Paulo, agora convertidos em “correspondentes comunitários”.

Uma ótima ideia e que efetivamente traz algo de novo para o jornalismo.

Já tinha falado sobre o Mural no ano passado, mas vale a relembrança porque, agora hospedada na Folha.com, a página tem trazido material consistente e bastante interessante.

Reflexão na produção jornalística

Eu sou um homem de papel, mas há muito ligado ao on-line.

A diferença básica entre as plataformas é que, quando seu ciclo de notícias tem 24 horas, há tempo para juntar lé com cré, e hierarquizar melhor o conteúdo.

Em tempo real, é muito difícil fazer isso. Tarefa para alguns poucos gênios.

Daí me lembrei da TV e as lições que ela transmite. O entretenimento traz, embutido, muito do jornalismo que deveríamos fazer _em papel e on-line, depende aí o tempo que temos e o nível de nossa massa encefálica.

Como essa experiência de maio de 2006, quando o programa Fantástico, da Globo, preparou por seis meses o ator Osvaldo Mil para ser um falso vidente _que enganou muita gente na chamada “Operação Bola de Cristal”.

A série apresentada pela “revista eletrônica dominical” tem 40 minutos e foi, originalmente, exibida em quatro episódios de dez minutos cada.

Ali, o parapsicólogo Jayme Roitman e o mágico/ilusionista gaúcho Khronnus _com a narração de Cid Moreira_ expuseram as táticas que podem levar um picareta a convencer plateias (como de fato ocorreu) de seu inexistente poder paranormal.

Como as leituras fria (onde prevalece a observação do gestual e do vestuário) e quente (aqui vale vasculhar o lixo do cliente ou receber dicas que pessoas de seu entorno).

O programa mostra ainda como se constrói um pilantra: Angelo, o vidente criado por Mil, é treinado a ser verborrágico (maneira de dificultar a compreensão do que se diz) e adepto do espelhamento, outra estratégia de gurus que nada sabem sobre passado ou futuro _consiste em aproveitar brechas que as próprias pessoas dão ao fornecer, sem se dar conta, informações que depois serão usadas para iludi-las (a chamada falsa memória).

Tem muito mais coisa sensacional: técnica do arco-íris (quando se abarca tudo, quase em 360 graus, tornando a chance de erro mínima), o despacho do erro (“isso não é pra você”, suscitando a dúvida), a necessidade da cara fechada (vidente que ri muito não tem credibilidade).

Enfim, é uma aula de produção e jornalismo. Provar para as pessoas que elas podem ser facilmente enganadas é um baita serviço.

Quatro anos depois, enfim chegou a hora de citar esse excelente trabalho.

O que é preciso para ser jornalista, a saga

Com Ana Estela (editora de Treinamento da Folha de S.Paulo), termina provisoriamente a série “O que é preciso para ser jornalista”, da qual orgulhosamente fui um dos pioneiros.

A série consiste de pílulas de jornalistas da Folha opinando, via de regra em menos de um minuto, sobre características que um jornalista precisa ter. O conjunto da obra é bem importante. Várias dicas legais.

O chato é que amanhã vou falar de novo do blog Novo em Folha, blog de verdade, criado pela Ana e tocado (principalmente) pela Cristina Moreno de Castro, aliás @kikacastro. Aí, fica parecendo marmelada…

A Cris ganhou uma pérola de presente. Mas amanhã eu ‘repercuto’.

A Era da Conversação

O jornalista perdeu o monopólio sobre a apuração/interpretação/difusão de notícias (por sinal, direito fundamental da pessoa). Hoje, os cidadãos têm acesso aos mesmos dispositivos tecnológicos que a mídia profissional. A era da publicação pessoal provocou um processo inescapável de conversação entre imprensa _antes o filtro universal dos acontecimentos_ e seu público.

Os conceitos condensados acima foram o tema das quase oito horas do curso “A Era da Conversação”, que ministrei à nova turma de trainees da editoria de Treinamento da Folha de S.Paulo.

Não será a única discussão do povo sobre o mundo digital e as mudanças que ele impôs ao exercício do jornalismo. Pelo contrário, esses focas passarão por treinamento multimídia, experimentarão novas plataformas e possibilidades de fazer bom jornalismo, ou seja, contar uma boa história.

Os slides da aula 1

Os slides da aula 2

Roteiro de links para acompanhar a apresentação

A bibliografia do curso

O jornal entende, neste momento, que nada melhor do que o trabalho de base para começar para valer um processo de integração de suas redações em papel e na web. Trabalho árduo que supõe conquistar, no menor prazo possível, a convergência de conteúdos.

Sim, conquistar, porque só se chega à convergência depois que compreendemos, individualmente, de que forma as múltiplas plataformas estão à nossa disposição para prestar um serviço mais eficiente ao leitor/usuário e seguir praticando bom jornalismo. É pensar como o seu produto (o texto que você acabou de escrever para um jornal impresso) pode ser complementado numa tela de telefone celular, num vídeo, num bate-papo na internet, numa enquete, numa lista de discussão.

No curso conversamos bastante sobre o microblog, grata surpresa jornalística em meio à enxurrada de ferramentas e sites de redes sociais. O Twitter, seu expoente máximo, foi convertido pelos usuários num espaço basicamente informacional, extrapolando o entendimento da pergunta “O que você está fazendo agora?” que convida, inocentemente, os internautas a prová-lo.

Finalmente, debatemos a facilidade de mobilização e vigilância que o público (o nosso público) adquiriu com o avanço tecnológico.

A cereja no bolo foi assistir a um fenômeno bem diante de nossos olhos: descoberto em sala de aula, o #completeog1 movimentou a sexta-feira da internet brasileira e teve como consequência uma reação quase imediata.

Era a ex-plateia nos lembrando que, agora, é ela que está no comando.