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As jornalistas e a CLT

Está na lei: mulheres que trabalham aos domingos precisam entrar num esquema de revezamento quinzenal, ou seja, não podem cumprir três domingos seguidos de jornada. É o que reza o artigo 386 da CLT, a Consolidação das Leis Trabalhistas do Brasil.

Específico, o texto trata dessa exceção como uma concessão exclusiva das trabalhadoras. Por ele, e vamos pensar no nosso quadrado do jornalismo, apresentadoras de programas dominicais, por exemplo, não deveriam participar de todas as edições de seus produtos mensais. Muitos menos as correspondentes ou enviadas a eventos especiais (como a Olimpíada) que duram mais de dois finais de semana.

Parece loucura, mas há ao menos uma redação de TV em São Paulo que tem tentado cumprir a medida à risca.

Prisioneiros do ecrã

Ficou cada vez mais evidente, agora que a integração física entre os que se dedicam à operação papel e à operação on-line é uma realidade no jornalismo brasileiro, que o segundo grupo tem de oferecer muito mais horas de trabalho – ganhando, via de regra, bem menos.

“On-line days” que promovi em alguns veículos com o objetivo de mostrar as agruras do tempo real àqueles que tinham exclusivamente tarefas para o produto impresso foram pedagógicas e escancararam esse abismo trabalhista.

Agruras como o risco, numa reles ida ao banheiro, de ser pego de calças curtas (ou, no caso, arriadas) por um fato relevante que exige publicação imediata.

Agathe Muller e Benjamin Rieth fizeram um pequeno texto e uma coleção de vídeos que abordam essa disputa de classes no jornalismo global.

Trabalhar em casa: coisa de vagabundo?

Primeiro foi o Yahoo (o que possui todo um simbolismo, embora a chefa tenha voltado ao trabalho apenas dez dias após parir), e agora a Best Buy (o gigante varejista de eletrônicos) seguiu: trabalhar em casa, não.

As regras na Best Buy foram menos duras que as do Yahoo, quem inventou o trabalho em casa, podemos dizer. Nas lojas, o gerente terá autonomia para determinar quem pode agir remotamente e quando. No Yahoo, nem isso: acabou.

Eu insisto: o ambiente corporativo é moldado pela cultura da interrupção. Sem mudar o design e as práticas na empresa, de nada vai adiantar tirar as pessoas de casa.

O tal do coworking

Quando um sujeito opta pelo trabalho freelance, tudo o que ele quer é se distanciar de ambientes de trabalho tradicionais, certo? Quase.

O coworking está ganhando espaço no país e já há várias possibilidades para quem pretende “trabalhar individualmente de forma coletiva”, se é que você me entende.

Lá fora, a coisa já é mais do que uma realidade. Está virando até recomendação.

De toda forma, apenas o fato de não ser uma estruturada viciada como a das redações (e de boa parte dos ambientes de trabalho) já está valendo.

Liberdade de expressão e mídia social

Liberdade de expressão sobre o ambiente de trabalho em redes sociais. É isso que o National Labor Relations Board (a agência que regulamenta as relações de trabalho nos EUA) está discutindo neste momento. E, ao que tudo indica, com plena simpatia à causa dos empregados.

Em decisões recentes, ao avaliar recursos de pessoas demitidas por terem feito referências ao trabalho em sites como o Facebook, o órgão considerou ilegais quaisquer restrições a esse tipo de manifestação.

O movimento, agora, é fazer grandes corporações reescreverem suas regras de comportamento interno em mídia social excluindo tudo aquilo que a agência considera abusivo. Por exemplo, proibir o direito há muito tempo garantido pela Constituição de que trabalhadores discutam em público problemas relacionados ao emprego.

Há níveis entre o que pode e o que não pode – e as sutilezas são grandes, como mostra matéria do New York Times.

Como cobrar por seu trabalho na internet

Em 1998, Michel Lent já falava sobre essa dúvida existencial que persiste até hoje. E o texto está incrivelmente moderno.

As redes sociais e o mundo corporativo

Para quem não viu a Folha de ontem trouxe a opinião de sete empresas sobre o uso de redes sociais por seus funcionários.

E, para quem não sabe 2, há redações em que o acesso a elas é impedido.

Como se não se tratasse de uma ferramenta de trabalho.

O LinkedIn de R$ 13 bi e seu desafio: atrair o usuário nos momentos de ócio

Sabia-se havia meses que a abertura de capital do LinkedIn seria um estrondo.O lançamento das ações da rede social das relações de trabalho só colocou um preço no negócio de Reid Hoffman: R$ 13 bilhões.

Faz sentido o debate sobre uma provável nova bolha das pontocom, mas não pelo que aconteceu na quinta-feira.

Não é o LinkedIn o símbolo da supervalorização de ideias cujo maior capital é o potencial futuro. Ele é um dos personagens desse jogo.

Ainda temos de descobrir como ganhar dinheiro de verdade com a multidão que usa esse tipo de serviço _100 milhões, no caso do site de Hoffman (o líder Facebook tem 670 milhões de consumidores).

De interface pouco amigável e funcionalidade prática discutível, o LinkedIn de R$ 13 bilhões (que tinha a perspectiva de captar modestos R$ 285 milhões) assusta mais por outro motivo: como torná-lo atraente a ponto de a gente acessá-lo quando não está pensando em trabalho?

Baseado na experiência forrada de lazer e futilidade da rede social número um (sim, falo dele, o Facebook),  Hoffman terá de tirar vários coelhos da cartola.

Ainda sobre a crueldade oculta do jornalismo…

…a foto abaixo dispensa qualquer tipo de comentário. Mas é nosso trabalho.


E assim continuamos aquela conversa sobre obituários

Espanha discute ‘tornar normal’ o horário de trabalho dos jornalistas

Não sabia que a Espanha tinha uma “Comissão Nacional para a Racionalização dos Horários”, aliás, que eu saiba nenhum país tem uma repartição pública dessas.

Ignacio Buqueras y Bach, presidente do órgão, diz que sua tarefa é “sensibilizar a sociedade espanhola sobre a necessidade de usar melhor o tempo e racionalizar a agenda diária de maneira que sejam mais flexíveis e humanos e favoreçam a conciliação da vida pessoal, familiar e profissional”.

Buqueras assina texto em que inclui os jornalistas como beneficiários dos objetivos de sua pasta.

Diz que marcar entrevistas coletivas para depois das 18h implica “esforço adicional” para as Redações, cita casos de profissionais que foram rechaçados pelos filhos em detrimento das babás (quem, afinal, fica com eles) e replica citações de coleguinhas sobre a insalubridade de se jantar às 23h todos os dias, entre outras barbaridades incompatíveis com o exercício da profissão.

E a gente aqui, se perguntando por que o jornalismo parece ter piorado de uns tempos pra cá.

Santa burocra, Batman.