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O artífice do paredão pago

Bill Keller não desiste. Em entrevista à Folha de S.Paulo, um dos artífices do paredão de conteúdo pago do NYTimes _que tem, entre seus diferenciais, entrada aberta via mecanismos de busca e redes sociais_ faz a comparação errada entre o modelo do iTunes para vender música e a possibilidade de cobrar por material jornalístico generalista.

Música, relembremos, não é perecível e via de regra é executada centenas de vezes pelo comprador _que lê uma única vez o noticiário do dia (e só naquele dia) em muitos lugares disponíveis.

Feito o parêntesis, em boa medida a ideia de Keller tem prosperado (como falei outro dia aqui). É uma ótima notícia para o jornalismo que tenta desesperafdamente se tornar sustentável em outras plataformas que não papel, TV e rádio.

Notícias sobre o paywall do NYT

Já são quase 300 mil pessoas pagando para acessar o The New York Times na web. Estes resultados podem estar colocando em xeque algumas “certezas” sobre a cobrança on-line.

Mais uma pensata sobre o paredão do conteúdo pago do NYT

Interessante leitura de Darmon Kiesow sobre o paredão de conteúdo pago erguido pelo New York Times em seu site: “a ideia não é proteger o impresso, mas promover a plataforma móvel”.

Vale ler.

Notícias sobre o Times e leitores que fogem do conteúdo pago

Atualização sobre a audiência na internet do The Times e do Sunday Times: juntos, perderam 1,2 milhão de usuários únicos desde maio, quando passaram a cobrar por conteúdo.

Outro dado revelador: a carteira de assinantes dos sites é bem menor do que a audiência de 1,6 milhões de visitantes únicos que eles alcançaram em julho.

Claro: descobrir que é preciso pagar para navegar é o melhor convite para a retirada sumária.

A burrice do conteúdo pago não tem fim

A burrice do muro do conteúdo pago não tem fim.

O caso do Wall Street Journal, então, detectado pelo professor Ramón Salaverría, é lapidar.

O veículo cobra por seu conteúdo (aliás, tem cerca de 1,3 milhões de assinantes pagantes), mas exibe as notícias _redigidas no clássico formato da pirâmide invertida_ com os primeiros parágrafos abertos a qualquer internauta.

Ou seja: o principal da informação é de livre acesso. Ainda mais numa estrutura de pirâmide invertida, na qual as coisas desimportantes figuram no pé, justamente o que o WSJ quer cobrar.

“É como se te dessem o carro e quisessem cobrar pelos tapetes”, diz Salaverría, que sentencia (com toda razão): “a pirâmide invertida não serve para quem cobra por conteúdo”.

Mais um motivo para não cobrar por conteúdo

Mais um efeito, este colateral, da decisão de alguns veículos de cobrar por conteúdo: além de sumir dos sites de busca (a exceção são alguns acordos que permitirão acesso via Google a conteúdo protegido pelo paredão da cobrança), eles vão desaparecer também das matérias de empresas que têm por hábito fornecer links externos.

A BBC já anunciou que colocará, na maioria dos casos, avisos para os eventuais links que direcionem a conteúdo pago. Mais: a médio prazo, há a chance deles simplesmente sumirem do site britânico por uma questão de tempo e espaço.

Enquanto acham que estão protegendo seu valioso tesouro, os adeptos do micropagamento estão conseguindo, isso sim, ficar ainda mais escondidos e ensimesmados.

O erro dos jornais que investem contra o Google News

Folha e O Globo aderiram, na semana passada, à Declaração de Hamburgo, um documento da indústria dos jornais que clama pelo “respeito às leis de propriedade intelectual para textos jornalísticos reproduzidos na internet”.

O problema é que a carta (PDF), como quase sempre acontece quando neófitos tentam falar ou legislar sobre a web, imagina ser capaz de definir limites absolutamente incontroláveis porque a internet, e quem não sabe disso parou no tempo, é dominada pelo usuário, não por grandes corporações.

Primeiro que os publishers deixam claro que a cobrança por conteúdo é uma prioridade _quase uma panaceia que estabelecerá paredões pagos cujo único efeito prático será o desaparecimento das marcas (e de seu conteúdo) da internet “legal”.

Claro, se você se fecha totalmente a assinantes, se esconde do resto do mundo que usa as ferramentas de busca para encontrar o que deseja. Sem contar que nem isso garante a proteção ao seu rebanho _seu conteúdo será distribuído de um jeito ou de outro, e na maioria das vezes por pessoas que amam você.

Outro erro da indústria jornalística é investir contra agregadores como o Google News. Pode ter certeza de que eles não estão usurpando seu conteúdo, mas o divulgando e levando a lugares que você jamais esperava alcançar.

E não me venham falar no exemplo do The Wall Street Journal, que a cada dia amplia sua carteira de assinantes on-line (eles já são bem mais de um milhão). Informação econômica (e que se reverte em dinheiro) é precisamente a única que o ser humano não está disposto a compartilhar.

Bem por isso Rupert Murdoch adiou recentemente seu plano de cobrar pelo acesso aos sites jornalísticos sob o seu comando. É que é preciso uma justificativa muito forte para fazer as pessoas pagarem pelo que é de graça há tempos na internet.

Trabalho para um psicólogo mesmo.