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A morte de José Alencar e alguns segredos do jornalismo

Para quem é de fora do jornalismo, é difícil entender a previdência de certas medidas que tomamos para garantir uma vida com o mínimo possível de sobressaltos. Uma delas, e que mais choca, é o hábito de deixar pronto o obituário de personalidades relevantes do noticiário.

Neste quesito, José Alencar merece uma citação à parte. Nunca um obituário esteve tão pronto. Foram várias as oportunidades em que ele esteve a ponto de ser publicado _nem só on-line: numa noite de novembro do ano passado, pessoas foram chamadas de volta à Redação porque havia o rumor da morte do mineiro. Foi assim por várias vezes.

E os plantões? Quantas vezes fomos ao trabalho sob o risco de a morte acontecer _e modificar todos os planos da edição do dia? O temor acabou não se justificando (a morte, no final das contas, ocorreu numa terça-feira, e bem cedo para os padrões jornalísticos).

Outra crueldade oculta do jornalismo é a avaliação de quanto tempo e espaço dedicar a um morto. Para nós, é evidente que José Alencar valia muito mais como vice-presidente. Ao deixar o poder, paulatinamente foi perdendo a relevância.

São, enfim, pequenos segredos do jornalismo.

O obituário on-line do Jornal do Brasil

Alunos da disciplina Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa II de Jornalismo da Uerj, sob a coordenação do professor Marcelo Kischinhevsky, produziram uma espécie de obituário do Jornal do Brasil que, como todos sabemos, deixou neste ano de circular em papel e sobrevive apenas na versão on-line (onde, aliás, foi pioneira entre os veículos de comunicação nacional).

Trabalho interessante que merece ser visitado.

Mais um obituário do jornalismo impresso

Quando as pessoas falam sobre determinada coisa com viés choroso e nostálgico, está claro que aquilo está fadado a desaparecer.

É o que fez o escritor espanhol Gustavo Martín Gazo, em artigo publicado esta semana pelo jornal El Pais. Ele falava sobre o jornal impresso.

“É difícil imaginar como seria nossa vida sem jornais impressos. Como teriam sido, por exemplo, as épocas obscuras de nossa história recente sem a ajuda a imprensa escrita. Sem o auxílio, acima de tudo, dos que mantiveram a crença em sua razão, na liberdade pessoal e nos valores democráticos. Pois exatamente isso devem ser os jornais: companheiros leais, discretos e sensatos a quem recorrer a cada manhã não apenas para encontrar justificativa para nossas ideias ou alimentar nossos rancores”, escreve Gazo num artigo, digamos, mimoso.

“Falar com as fontes, os rios e os animais. E assim brotar essas chamas que nos consolam de nossos pecados, nos acompanhem e nos ajudem a viver”, prossegue ele, que faz uma interessante relação entre a capacidade de narrar (inclusive com texto “literário”) e o apelo que os periódicos exercem hoje .

Um artigo que é quase um obituário do jornal impresso, um ode, um lamento em formato de chorumela. Vale a pena ler.

A morte de Fidel: a matéria de gaveta mais célebre de Miami

Não são apenas fogos de artíficio, armazenados por ansiosos exilados cubanos, que estão cuidadosamente guardados em Miami. O obituário de Fidel Castro também.

É o que revela um dos mais experientes editores do jornal The Miami Herald, Manny Garcia. “Aqui no jornal, Fidel Castro equivale a uma pedra no rim: uma dor constante que parece nunca acabar, e que você reza para ir embora”, relata.

Outro editor do jornal, Tom Fiedler, diz que os planos para a cobertura da morte do líder da Revolução Cubana, de 82 anos, remontam à década de 90 e “são mais detalhados do que o plano americano para a invasão do Iraque”.

Não é só lá. Todo jornal minimamente planejado tem pelo menos um caderno especial já pronto sobre a vida e a obra (contestadas, ambas) de Castro. É assim com todas as personalidades relevantes cuja morte não seria exatamente uma surpresa.

É, talvez, o aspecto da profissão que mais choque os estudantes de jornalismo. “Como assim, você torce para alguém morrer?”

Não é torcer, mas estar preparado _planejamento é tudo para o sucesso de uma cobertura jornalística (só não digo que é condição sine qua non porque já participei de coberturas catastróficas do ponto de vista organizacional que, no final das contas, e por vários outros elementos, acabaram dando certo).

Lembrei de dois casos em que o “planejamento” acabou sendo revelado, inadvertidamente, aos leitores: o caso do UOL, que “matou” o ex-governador Mário Covas dois anos antes da hora, e o recente vacilo da Bloomberg, que colocou no ar por instantes o obituário de Steve Jobs, da Apple.

São as agruras do jornalismo.