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O golaço do portal do Estadão

É impossível deixar de registrar a estreia de Pedro Dória como editor-chefe de conteúdos digitais de O Estado de S.Paulo.

É uma notícia importante: Dória entende tanto de jornalismo quanto compreende e estuda a web. No texto em que anunciou o acerto com o jornal, na semana passada, disse tudo. “Continuo convicto de que a Internet é uma conversa com múltiplas vozes. O objetivo é participar ativamente deste diálogo.”

Com mais jornalistas que defendam essa bandeira em postos estratégicos, certamente as ferramentas on-line serão usadas plenamente pelos jornais, o que infelizmente ainda não acontece.

Muita sorte a ele.

“A sociedade deveria dar incentivos e benesses para o jornalismo”

A turma do Jornalistas & Companhia, que acompanha sempre de perto o noticiário que envolve o bastidor da mídia brasileira, fez uma ótima entrevista com Ricardo Gandour, o homem que comanda o conteúdo dos veículos do Grupo Estado _entre eles o mais nobre, o jornal O Estado de S.Paulo, um dos maiores do país.

No papo, Gandour falou sobre praticamente tudo.

Mostrou, como tem sido praxe entre os executivos dos maiores jornais brasileiros, otimismo com o atual momento econômico de sua empresa (“A situação financeira é boa. Esperava-se que fosse tragicamente menor”).

Comentou sobre o Jornal da Tarde, o patinho feio da empresa (mas com uma imensa ficha de bons serviços prestados ao jornalismo) e passeou um pouco pelo o avanço tecnológico e sua influência nas redações, prometendo uma pauta que já nasça multimídia _ou seja, pensar conteúdo para diversas plataformas, que é a verdadeira definição de convergência.

Mas o que achei mais interessante: Gandour cobrou, da sociedade, mais envolvimento na hercúlea tarefa de repensar o papel do jornalismo impresso e, assim, garantir sua sobrevivência. Para ele, a sociedade “deveria dar incentivos e benesses porque a atividade jornalística é de interesse público”.

Faz sentido, mas será que ela está disposta?

Mais considerações sobre o diploma

Uma questão tem passado despercebida na discussão sobre a obrigatoriedade de um diploma em jornalismo para exercer a profissão: o fato de que as principais empresas jornalísticas do país (cito as Organizações Globo e os veículos do Grupo Estado, entre os quais o jornal O Estado de S.Paulo) exigem o pedaço de papel para contratar seus profissionais de redação.

Assim como não houve qualquer sinalização de mudança nessa postura, não haverá (garantem minhas fontes) alteração dessa exigência mesmo que o STF, seja lá quando for, pregue o caixão deste entulho autoritário que erroneamente é defendido como se fosse uma conquista _quando, na verdade, é uma prisão, uma masmorra.

Sim, para efeito do empregador, existir ou não obrigatoriedade é um mero detalhe. As empresas continuarão com o direito de exigir a formação que seja de seus jornalistas. Até mesmo de jornalismo, um curso (hoje, mas isso é passível de mudança) com bem menos profundidade intelectual do que vários outros.

Mesmo nas companhias menores, onde (dizem) se contrata a torto e a direito sem registro como jornalista (como se nos grandes portais de internet não ocorresse a mesma coisa).

Vou repetir que essa discussão deixou de ser importante a partir do momento em que a tecnologia deu uma imprensa pessoal para cada um. Quem quiser, faz jornalismo, não precisa nem ter ligação com a mídia dita formal.

Para encerrar com humor, então, uno-me à campanha do André Forastieri, que ironicamente pede a exigência de diploma de jornalista profissional para blogueiros. Aliás, o sindicato de jornalistas do Rio Grande do Sul já tinha levado essa proposta, como se fosse séria, a público.

Meu deus, que vergonha desses meus “colegas” de diploma…

ATUALIZAÇÃO: Ana Estela, no Novo em Folha, discorre claramente sobre a importância da formação do candidato a jornalista, não do tipo de papel que ele porta ao se apresentar numa redação.

Oito casos de convergência analisados bem de perto

Já saiu do forno o livro “Jornalismo Integrado: Convergência de Meios e Reorganização de Redações“, editado pela Universidade de Navarra.

A obra estuda em profundidade oito casos de jornais que optaram por integrar suas redações em papel e on-line. São eles: Daily Telegraph, Tampa News Center, Schibsted, O Estado de S.Paulo, The New York Times, Guardian, Clarín e Financial Times.

O estudo de cases é muito relevante neste momento, em que diversos outros veículos estão optando pela fusão de conteúdos para, enfim, atingir a tão sonhada convergência (quando todo o trabalho jornalístico é pensado em várias dimensões e plataformas).

Como aperitivo, o capítulo sobre o Daily Telegraph, considerado modelo mundial no tema.

ATUALIZAÇÃO: Minha amiga Ana Estela, aí embaixo, nos comentários, faz uma observação bem importante: “Era bom ressalvar que o livro é francamente integracionista e que tem gente ali no meio que vende consultoria para quem quer fazer Redações integradas… Ou não?”

Sim, completamente. Salaverría, por exemplo, viaja o mundo vendendo um modelo que não foi ele quem criou. Tem sido assim com alguns outros personagens de Navarra: ocuparam bastante espaço, mas com um discurso difuso e que, muitas vezes, assemelha-se a autoajuda.

Em bom português

Para quem não leu no original, o Estado de S.Paulo de ontem traduziu (e publicou em duas páginas) o artigo de Walter Isaacson defendendo o micropagamento como uma solução para tirar o jornalismo impresso (o americano, diga-se) do fundo do poço.

Sem recorrer à tradução do texto, a Folha de S.Paulo também debateu o assunto no final de semana (para assinantes do jornal ou do UOL).

Você já sabe o que eu e outras pessoas pensamos, mas como o debate chegou ao Brasil, veremos o que de novo acontece nesta semana.

Estadão, 134 anos

Hoje o jornal O Estado de S.Paulo completa 134 anos (o veículo costuma contar 129, subtraindo os cinco pelos quais passou ocupado por censores da ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas).

Trata-se de uma das publicações jornalísticas mais influentes e relevantes do Brasil.

No presente, o “Estadão”, como o conheço desde criança, tenta sobreviver à sobredose de informação que veio como consequência das novas tecnologias.

Tem tido sucesso em algumas frentes, como oferecer produtos diferenciados (um suplemento gastronômico, por exemplo) todas as semanas.

Em outros aspectos, peca tanto quanto seus concorrentes diretos ao dar espaço demasiado ao “aconteceu ontem”, noticiário hardnews que é fartamente explorado horas antes pela Internet.

A verdade é que os jornais brasileiros ainda não mergulharam na viagem sem volta da convergência. Apostam em paliativos aqui e ali (como remissões e mais remissões em suas páginas impressas), mas só.

No momento em que ocorre uma ofensiva bélica no Oriente Médio, é inadmissível assistir a enviados especiais que não produzem um único conteúdo on-line, uma única imagem, seja ela foto ou vídeo. Nossos repórteres não estão preparados para usar smartphones como o Nokia N95 _uma verdadeira estação de TV ambulante.

Esse desafio é, para O Estado de S.Paulo e seus concorrentes, o grande passo para garantir pelo menos mais 134 anos de vida.

Projeto em Jornalismo Impresso I – Aula 10

Estamos chegando ao final do curso de Projeto em Jornalismo Impresso I. Ao mesmo tempo em que buscamos a definição de um modelo a ser produzido em conjunto no próximo semestre, discutimos o contexto da imprensa em papel e seus desafios perante a crise econômica e o fortalecimento de novas mídias.

Nesta sexta (7/11) debateremos o livro “O Destino do Jornal”, de Lourival Sant’Anna, que permeou parte de nossas discussões nos últimos meses. Nunca perdemos de vista a desatualização flagrante da obra _algumas entrevistas foram realizadas há mais de dois anos, uma eternidade no cenário atual de transformação.

Porém a tese de mestrado do repórter especial de O Estado de S.Paulo tem vários aspectos esclarecedores, como pesquisas qualitativas que mostram, ainda que de forma tortuosa (o leitor é assim, não consegue se expressar direito sobre o jornal que lê e muito menos sobre o que desejaria ler), para onde caminha o novo leitorado.

Beth Saad, professora da USP que orientou a pesquisa de Sant’Anna, é quem faz a observação que melhor ajuda a compreender o momento hesitante dos jornais impressos brasileiros: eles são absolutamente refratários a mudanças.

Quem faz jornalismo como o jornal?

No livro “O Destino do Jornal”, de Lourival Sant’Anna (repórter especial de O Estado de S.Paulo), Rodolfo Fernandes, diretor de Redação de O Globo, desenvolve um conceito bastante interessante num momento em que estamos precisamente discutindo a vida útil dos jornais impressos.

Para Fernandes, nenhum outro meio faz o tipo de jornalismo que o jornal em papel consegue fazer. Não há, segundo ele, concorrência com o veículo _sobre o qual pairam previsões sombrias de esgotamento da fórmula e encerramento de atividades.

“Não vejo ninguém fazendo”, diz ele. É uma observação que merece reflexão. Por que, afinal de contas, se o jornal conseguir se mobilizar num nicho onde não há ninguém, teoricamente sua sobrevivência estará garantida.

Pegue especificamente as últimas edições dominicais dos jornalões brasileiros (por jornalões leia-se O Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo). Que resultado teria, na Internet, o levantamento em 168 cidades brasileiras feito pelo Datafolha e que virou manchete do jornal, um mapeamento sobre o jovem brasileiro?

Outro aspecto detectado por Fernandes é definitivo. “O jornal não é mais um meio de comunicação de massa. Ponto”. É fato que a substancial queda na circulação nos últimos anos provaria cabalmente. Desde o ano passado, porém, houve uma lenta e gradual recuperação, no Brasil e no mundo.

Ponto favorável aos jornais de papel é a inegável capacidade, ainda intocada, de pautar seus concorrentes de outras mídias, especialmente a TV e o rádio _a Internet, como eu já disse certa vez, “acorda jornal”, ou seja, começa o dia reproduzindo reportagens de jornais do mundo inteiro.

Agora, qualquer um que se debruça sobre o tema concorda que, se não abrirem mão de relatar prioriamente o hard news, o “aconteceu ontem”, os jornais tendem a perder ainda mais sua relevância. A análise, a contextualização e, principalmente, a compreensão histórica de qualquer notícia é o caminho para um novo cardápio que desafie o ataque de véspera proporcionado por TV e Internet.

É o dilema entre a modernidade e o registro histórico do dia que passou, função que o jornal impresso desempenhou com habilidade por séculos.

Aí a discussão vai se concentrando no formato que, como dizem alguns, é “chato” (conceito vago e impreciso). Curioso, mas todas as pesquisas qualitativas realizadas com leitores de jornal reafirmam a “portabilidade” do produto.

Alguma vantagem há de existir em algo que não precisa ser colocado na tomada. Voltaremos ao tema.