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Prazer, newsletter

Agora preste atenção nesta notícia:

“A Folha passa a oferecer um serviço gratuito de envio por e-mail das principais notícias do dia.

Para inscrever-se no serviço, basta incluir seu e-mail no campo “receba nossa newsletter”, que aparece nas páginas do site da Folha.

A newsletter é enviada de madrugada com chamadas para os principais destaques do jornal naquele dia.

O jornal tem também newsletter em inglês e espanhol, que podem ser acessadas nas páginas da Folha Internacional.”

Estou absolutamente sem palavras: estamos praticamente em 2015 e o maior jornal brasileiro passa a oferecer um serviço que nasceu praticamente junto com a internet comercial, em 1995.

Não deixa de ser, veja bem, um reconhecimento à eficácia do e-mail – cuja morte é decretada dia sim e no outro também e, no final das contas, continua cumpridor.

Antes tarde do que nunca?

 

Eleição no Brasil reabilitou o e-mail, diz empresa americana

O relato do trabalho da Blue State Digital na campanha de Dilma Rousseff, revelado por Fernando Rodrigues, tem um ponto que é sensacional _e que, se verdadeiro, derruba um paradigma recente de uso de ferramentas digitais.

Lá pelas tantas, a empresa que ajudou Barack Obama a se eleger em 2008 conta que, nessa incursão em eleições brasileiras, “ao se conectar a mais de 1 milhão de pessoas, o programa de e-mail produziu mais tráfego [audiência] do que o Twitter, Facebook e Orkut [da campanha] combinados”.

É uma informação que vai de encontro a tudo o que se anda escrevendo, analisando e levantando sobre o uso do correio eletrônico.

Ora, se numa ação específica durante seis meses foi possível atrair mais gente a um site usando o velho conceito de newsletter do que agregando pessoas em redes sociais, está seriamente em xeque a afirmação de que caiu assustadoramente o uso do e-mail, objeto de pensatas ponderando que a ferramenta foi abandonada pelo público jovem em detrimento, justamente, da vida conectada em tempo real nas mídias sociais.

Cabe observar esse fenômeno com muito mais atenção a partir de agora.

Se for isso mesmo, não só o mail, como a newsletter, estão plenamente reabilitados.

Análises sobre 2010

A edição especial da newsletter Jornalistas&Cia, que perscruta todas as semanas as coisas da nossa profissão, traz um balanço do ano que se pretende uma avaliação do desempenho da imprensa brasileira em 2010.

Muito do que deveria ser dito está lá.

É ótimo quando o decano Audálio Dantas, diretor de redação da revista Negócios da Comunicação, joga uma perspectiva diferente a respeito da discussão sobre o novo marco regulatório das comunicações, que Lula deixou claro ser uma missão primordial de Dilma Rousseff e seu partido, o PT, no próximo governo.

“Por que, em vez de tentar abater o projeto antes mesmo que ele possa levantar voo, não propor um amplo debate sobre seu conteúdo?”, convida Dantas, coberto de razão.

Carlos Chaparro, também nosso velho conhecido, destaca uma revolução na prática da profissão que vimos reforçada no ano que está terminando: a das fontes.

Claro, num tempo em que somos furados por nossos entrevistados, que têm acesso a ferramentas instantâneas de difusão de conteúdo (como a gente), naturalmente a atenção do jornalismo se voltou para instâncias pessoais de publicação.

Daí a explosão das redes sociais e de sua influência na pauta jornalística em 2010.

Uma opinião importante vem de Eugenio Bucci, agora claramente falando sobre a cobertura da eleição presidencial. “A sociedade não é, como nunca foi, manipulada pelos humores de editores de dois ou três jornais ou de duas ou três emissoras de tevê”

Acrescento: tem de parar esse patrulhamento insuportável sobre as mídias. Os mesmos que patrulham, aliás, são aqueles que dizem que várias delas perderam a relevância. Perderam, é? Então por que patrulham? Perderam, reitero. E que deixem de patrulhar.

Em breve falo mais sobre o capítulo eleições do último J&Cia.

Com a palavra, a fonte

Cesar Maia, prefeito do Rio, distribui de segunda a sexta uma newsletter com opiniões, informações sobre sua atuação pública e divagações. Ela, que já foi um blog (daí o pouco feliz, mas engraçado, nome de “Ex-blog”), pode ser assinada aqui.

Alertado por Leopoldo Godoy (que comanda o “8bitsemeio“), resolvi trazer aqui largo trecho do boletim desta terça-feira, no qual o político discorre sobre como enxerga a imprensa e este “novo” meio, a Internet. Vale lembrar que Maia, certamente, tem uma intimidade com o computador que muitos jornalistas (vergonha!!!!) não têm. Há quem diga, inclusive, que ele _em vez de administrar a cidade_ passa o dia diante do laptop.

Enfim, não é esse o propósito aqui. Apenas reproduzo abaixo o que o prefeito escreveu como um registro de uma fonte relevante comentando o nosso trabalho. Alguma coisa observada por Maia é absolutamente verdadeira. E passível de reflexão.

Atualização: só depois me toquei que talvez fosse bacana comentar item a item as opiniões de Maia. Vamos lá? Em bold, minhas intervenções:

PARTE DA IMPRENSA NÃO ENTENDE A INTERNET COMO UM MEIO DE COMUNICAÇÃO!

1. O prefeito do Rio comentava a este Ex-Blog, que achava curioso que sempre que ele responde uma pergunta por e-mail, de TV, Rádio ou Jornal, o veículo cita esse fato: – O prefeito respondeu por e-mail que… Curioso porque nunca dizem que o ministro respondeu por telefone, ou o deputado respondeu num gravador, ou que respondeu cara a cara num restaurante ou em seu gabinete. Por que a internet merece um destaque negativo, ou um “caco” como se fosse uma forma menor de responder a indagação de um repórter?
Hum… será? Dizer que alguém falou a um gravador claro que não, é bobagem, mas alguns jornais têm como padrão informar como se deu a conversação com um entrevistado. No caso do e-mail, pode se tornar informação essencial, pois justifica eventuais questões não rebatidas pelo repórter, naturais num papo pessoal.

2. A internet é um veiculo de comunicação, tanto quanto o telefone e a palavra, e ao mesmo tempo um meio de comunicação como a imprensa. Mas -como sempre- em períodos de mudança de padrão tecnológico, o hábito dificulta a compreensão de quem por anos opera da mesma forma, com saudades da gravata desapertada, da mesinha com papéis, da máquina de escrever, de um telefone que levava horas para chegar ao entrevistado, do bom papo no bar…
Pura verdade. A resistência a mudanças é uma característica do ser humano, não poderia ser diferente com os jornalistas. Ainda há profissionais em “redações de papel” que não checam e-mails (simplesmente por não considerar a tarefa importante) ou que gritam aos quatro cantos que, se fazem papel, fazem on-line, “afinal, jornalismo é jornalismo”. Não é.

3. Para os jornais só vale a entrevista com um gravador na mão e um fotógrafo do lado. Para o rádio só vale a entrevista com um gravador, estúdio ou telefone e a voz ao vivo. Para a TV só vale a entrevista com as imagens editadas do entrevistado respondendo.
É evidente que, para as mídias TV e rádio, as sonoras (declarações gravadas) são essenciais. No jornal papel, recomenda-se gravar todas as entrevistas para segurança jurídica (combater eventuais desmentidos). Na Internet, se eu tiver áudio e vídeo agregado ao texto, terei cumprido ainda melhor meu papel.

4. Na entrevista por e-mail a resposta vai editada e sucinta. Não há pergunta-pegadinha, não há foto, não há imagem editada, não há voz… Mas por outro lado há a vantagem -cada dia maior- de entrevistar, consultar, perguntar, esclarecer, a qualquer hora do dia e da noite. Ontem com equipamentos fixos, os comentários eram de que o entrevistado ficava sentado atrás de um micro, o dia inteiro. Mas esses comentários permanecem num quadro em que os equipamentos são móveis e miniaturizados, com antena e portanto a disposição do entrevistado e do repórter o dia inteiro em qualquer lugar.
É o que comentei no item 1: por e-mail, é mais difícil para o repórter retrucar e corrigir declarações sabidamente equivocadas. Em compensação, a disponibilidade e agilidade citadas por Maia são, até aqui, insuperáveis. Tanto que ele próprio, volta e meia, é pego por um jornalista mais ágil que responde ao mail-resposta com ponderações (Maia se comunica muito por e-mail), não é respondido e cita que sua réplica foi ignorada _ao menos até o horário de fechamento.

5. Num período de transição como ainda estamos por aqui, tudo isso choca e se torna incompreensível para uma cultura tradicional de imprensa. Isso atrasa a comunicação especialmente num mundo rápido. Alguns jornais pensam que a edição do jornal na internet deve ser uma reprodução eletrônica do jornal, quase que como uma cópia página a página. Na verdade o veículo com isso não muda. Todos os jornais do Rio fazem isso, pensando a internet como extensão do jornal. Não é!
Meia verdade: passamos desse estágio já, mas caminhamos lentamente. A Internet chegou aos jornais brasileiros exatamente assim, como a versão on-line da edição em papel. Hoje temos, em maior ou menor nível, atualização diária. Mas ainda grassa nas redações de papel um analfabetismo tecnológico assustador. Tanto que são poucos os veículos que possuem profissionais polivalentes, ou seja, que transitam pelos dois meios.

6. Na edição do jornal na internet com as matérias devem ser listadas verticalmente, sem diagramação, sem leads e ou manchetes ou destaques, o editor é cada leitor pessoalmente. Uma micro-noticia pode ser a noticia relevante para quem lê e não a que o editor daquela página gostaria. A ausência de fotos nas páginas internas na edição internética, rompe com a hegemonia da imagem e garante a hegemonia do texto, do conteúdo e a hierarquização feita pelo consumidor.
Aos trancos e barrancos e de forma oblíqua, Maia toca no ponto que muitos jornalistas (nem os exclusivamente on-line) perceberam: que a edição é, de fato, do leitor. Não apenas por causa do feed, mas pela possibilidade de escolher a ordem a leitura ou procurar o que deseja numa máquina de busca (os atalhos que fazem prever a gradual desimportância da home page).

7. O que hoje é percebido como mau uso do tempo ou ausência física, será em breve o cotidiano da imprensa, com a internet como vanguarda ou pelo menos entendida como meio com características próprias. A agenda externa fechada evita que a presença da cobertura da imprensa dramatize o contato com a população, sempre pronta para dizer o que a faz aparecer no dia seguinte ou no mesmo dia nas páginas, voz ou tela. E aí temos uma caricatura e não um retrato do fato, independente que a avaliação do repórter seja essa ou aquela, para abrir (rádio e jornal), ou fechar (TV) a matéria.
Não entendi nada. E você?

8. A liberdade de imprensa não pode ser vista só, como a liberdade dos meios de comunicação. É também a liberdade dos entrevistáveis que podem escolher seus métodos. Amanhã muitos que ainda não sabem, saberão que perderam tempo nestes tempos de mudança, e que o mundo da comunicação já não era/não é o mesmo.
A tecnologia assegura não só a liberdade do entrevistado, como também a da ex-audiência, cada vez mais dotada de recursos antes exclusivos dos profissionais de comunicação. É o “We the Media” preconizado por Dan Gillmor. Aqui, o prefeito acertou na mosca.