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Imperícia jornalística alimenta corporativismo

Uma “reportagem” da revista feminina popular Viva Mais está provocando algum barulho em redes sociais por esses dias.

Em resumo, o texto incentiva as leitoras a se transformarem em fotógrafas “em um dia”, amealhando um salário inicial que pode chegar a R$ 4 mil.

Uma fonte mencionada na matéria foi à web para manifestar seu repúdio à forma como suas informações foram utilizadas pela revista. Bravo.

Porém, erra a mão ao acusar “desrespeito aos fotógrafos”, em vez de simplesmente provar (e ele prova, publicando a íntegra da troca de mensagens com o autor do texto) uma sacrossanta imperícia jornalística.

Qualquer coisa além disso é mero corporativismo. As pessoas nãoprecisam da Viva Mais para decidir fotografar – aliás, se é que você não reparou ainda, há montes de gente por aí registrando seu cotidiano, profissional ou amadorísticamente.

Agora só faltava acharmos que, para fotografar, é preciso pertencer a uma classe especial de pessoas. Bobagem.

O texto da revista é apenas mais uma lápide para o jornalismo. Fiquemos por aí.

 

Será mesmo o fim da matéria?

Essa aqui passou batida, mas é bem interessante: Jeff Jarvis, da Universidade de Nova York, discute o fim da matéria (no jargão jornalístico, como chamamos a reportagem).

Num longo texto, Jarvis (nosso velho conhecido, e que já há algum tempo não nos visitava nestas páginas) discorre sobre uma série de exemplos em que repórteres foram orientados a fazer exatamente isso _ reportar _ seja via Twitter, Tumblr, posts e fotos e vídeos em blogs etc.

A conclusão é que a conexão entre uma história não se perde se não nos ativermos à ditadura do textão fechado.

Tendo a concordar que a leitura, hoje, é fragmentada. A tese, portanto, me parece bem válida.

A primeira matéria sobre o Facebook…

…na grande imprensa coube a Rebecca Trounson, que na edição do Los Angeles Times de 23 de janeiro de 2005 (praticamente um ano depois do lançamento oficial do site) descreveu a incrível performance do produto, que já tinha 1,5 milhões de usuários em 300 universidades americanas.

Interessante é ler a notícia on-line hoje e ver um anúncio AdSense, no pé, convidando o usuário a ingressar no Facebook…

Reflexão na produção jornalística

Eu sou um homem de papel, mas há muito ligado ao on-line.

A diferença básica entre as plataformas é que, quando seu ciclo de notícias tem 24 horas, há tempo para juntar lé com cré, e hierarquizar melhor o conteúdo.

Em tempo real, é muito difícil fazer isso. Tarefa para alguns poucos gênios.

Daí me lembrei da TV e as lições que ela transmite. O entretenimento traz, embutido, muito do jornalismo que deveríamos fazer _em papel e on-line, depende aí o tempo que temos e o nível de nossa massa encefálica.

Como essa experiência de maio de 2006, quando o programa Fantástico, da Globo, preparou por seis meses o ator Osvaldo Mil para ser um falso vidente _que enganou muita gente na chamada “Operação Bola de Cristal”.

A série apresentada pela “revista eletrônica dominical” tem 40 minutos e foi, originalmente, exibida em quatro episódios de dez minutos cada.

Ali, o parapsicólogo Jayme Roitman e o mágico/ilusionista gaúcho Khronnus _com a narração de Cid Moreira_ expuseram as táticas que podem levar um picareta a convencer plateias (como de fato ocorreu) de seu inexistente poder paranormal.

Como as leituras fria (onde prevalece a observação do gestual e do vestuário) e quente (aqui vale vasculhar o lixo do cliente ou receber dicas que pessoas de seu entorno).

O programa mostra ainda como se constrói um pilantra: Angelo, o vidente criado por Mil, é treinado a ser verborrágico (maneira de dificultar a compreensão do que se diz) e adepto do espelhamento, outra estratégia de gurus que nada sabem sobre passado ou futuro _consiste em aproveitar brechas que as próprias pessoas dão ao fornecer, sem se dar conta, informações que depois serão usadas para iludi-las (a chamada falsa memória).

Tem muito mais coisa sensacional: técnica do arco-íris (quando se abarca tudo, quase em 360 graus, tornando a chance de erro mínima), o despacho do erro (“isso não é pra você”, suscitando a dúvida), a necessidade da cara fechada (vidente que ri muito não tem credibilidade).

Enfim, é uma aula de produção e jornalismo. Provar para as pessoas que elas podem ser facilmente enganadas é um baita serviço.

Quatro anos depois, enfim chegou a hora de citar esse excelente trabalho.

O futuro do dinheiro: sua carteira nunca mais vai ser a mesma

Não sei se é generalizado, mas eu, ao menos, sempre tive o sonho de poder sacar dinheiro no computador de casa, ou no meu notebook em qualquer lugar. Talvez seja a última coisa que a tecnologia nos falta regalar.

A Wired trouxe outro dia uma bela pauta/matéria sobre o futuro do dinheiro. “Flexível, sem atrito e (quase) de graça”, diz o título. Ainda sem as notinhas saindo pelo teu drive de DVD, mas vá lá.

Não, não vou resumir o texto: ele merece ser apreciado com calma (é grande, mas vai lá depois porque a matéria é boa). Discute várias ideias sobre possíveis moedas virtuais _além de debater o já batido, mas brilhante, PayPal.

Típica contribuição de vanguarda que ajuda a gente a entender essa mudança toda. E que certamente antecipa soluções para diminuir a angústia de quem, como eu, sonha com um dinheirinho vivo saindo do meio do teclado.