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Lucidez, recusa, ironia e obstinação: a liberdade de imprensa para Camus

Obrigatório: o manifesto sobre a liberdade de imprensa redigido por Albert Camus em 1939 e que ficou engavetado até agora.

Nele, o francês estabelece quatro pilares para o livre exercício (“mesmo sob censura”) da profissão: lucidez, recusa, ironia e obstinação.

“Se ele [jornalista] não pode dizer o que pensa, pode não dizer o que não pensa ou o que acredita ser falso. E é assim que se mede um jornal livre: tanto pelo que diz como pelo que não diz”.

Ponto final.

A liberdade de imprensa em Cuba

“Não pode existir liberdade de imprensa onde reina o capital, onde reina o mercado, onde existe concentração do poder econômico e político”.

É verdade, mas quem disse isso tem pouco a acrescentar a este debate: é Rogélio Polanco, hoje embaixador de Cuba na Venezuela, deputado e diretor do jornal Juventud Rebelde quando deu o depoimento acima à cineasta argentina Carolina Silvestre, que em 2008 rodou o documentário não jornalístico “Hechos, no palabras“.

Digo não jornalístico porque estão ali todos os argumentos a favor do interessante e suis generis regime cubano – e nenhum contra.

Apesar disso, o filme é um bom pedaço da colcha de retalhos para tentar entender o que torna o país tão fascinante.

O verdadeiro Brasil x Argentina

O verdadeiro Brasil x Argentina hoje é o confronto pela liberdade de imprensa.

Enquanto o Casal K fomenta o ódio ao mainstream, mais especificamente ao Grupo Clarín (guardadas as proporções, a nossa Globo), em nosso terreiro membros poderosos do governo admitiram que estiveram no limite de processar meios de comunicação por reportagens com exaustivo trabalho de investigação por trás, diga-se.

No Brasil, o salto de 499 produtos jornalísticos que recebiam propaganda oficial em 2003 para quase 6 mil hoje foi lido como espécie de cabresto, de curral eleitoral. Assim como a política de benefícios que tem o Bolsa Família como carro-chefe.

É tudo verdade, mas é bom ouvir Eduardo van der Kooy, experiente editor do Clarín, pra entender no que somos bem diferentes dos hermanos _no futebol, ambos são habilidosos e beneficiados pela arbitragem.

Van der Kooy descreve um vazio de poder político que obrigou o jornalismo argentino a se tornar um ator dos acontecimentos, mais do que um mediador. E isso numa era em que a imprensa como filtro universal dos acontecimentos desmilinguou-se.

No Brasil, claramente perdemos esse protagonismo. Que, neste caso, pode ser ainda pior. Nenhum protagonismo exagerado, muito menos de quem não deve ser notícia, é bom para um país.

Jornalistas ganham programa de proteção e casa de refúgio

Os jornalistas mexicanos, país onde assassinatos , agressões, ameaças e intimidações o colocam entre os mais perigosos do mundo para a gente, ganharão uma rede de proteção e uma casa para refugiar perseguidos.

A iniciativa, que envolve o governo do Distrito Federal e ONGs ligadas aos direitos humanos, chega em boa hora: nos últimos dois anos, 16 coleguinhas perderam a vida no país (muitos envolvidos em coberturas sobre o tráfico de drogas).

Aliás, hora de a gente pensar nisso no Brasil também. Temos tantos problemas quanto os mexicanos no quesito ameaça à liberdade de imprensa.

Em defesa da liberdade na Internet

Hoje o editor do blog mais popular (e mais bacana) do mundo, o Boing Boing (indicado aí na coluna da direita) foi entrevistado pela Folha de S.Paulo e falou, além de seu livro “Little Brother” (disponível para download gratuito), sobre as pequenas liberdades da Internet _como baixar de graça um arquivo_ que estão sendo paulatinamente tomadas dos usuários.

“A Internet não é livre porque tem uma resistência inata à censura, mas porque as pessoas lutaram muito para mantê-la assim”, diz o jornalista canadense Cory Doctorow, 31 anos, no Boing Boing desde os tempos em que o produto era um fanzine em papel (1988).

Após migrar para a rede, em 1995, o Boing Boing virou um case de sucesso: tem, hoje, mais de 3 milhões de internautas cadastrados e pelo menos duas centenas de colaboradores fixos. Suas campanhas de conscientização de consumo tornaram-se famosas. Já deram, segundo o site, prejuízo milionário em contas canceladas ao Bank of America.

Agora, Doctorow alerta para a tendência de “autoritarismo crescente” na Web, rebatendo a conversa mole dos que pretendem controlar o tráfego de sites com conteúdo ilegal ou que disponibilizam downloads irregulares. Para o jornalista, é o primeiro passo para a censura integral da rede. Ele é um dos ícones do movimento que rediscute o valor dos direitos autorais no ambiente das novas tecnologias.

E é sempre legal ouvi-lo.

Jornais sem primeira página vão para a banca

Os principais jornais da Eslováquia foram para a rua hoje sem notícias na capa, com a primeira página praticamente em branco, com um pequeno editorial acompanhado de uma moldura preta.

Capa do SME, de Bratislava

Foi um protesto contra lei aprovada na quarta-feira pelo parlamento do país que, entre outras coisas, tornou o direito de resposta generalizado e sumário, o que vai encher os jornais de lamentáveis desmentidos.

Daí eu me lembrei de Alberto Dines e seu “Jornal do Brasil” sem manchete.