A incrível história da brasileira Paula Oliveira, que disse ter sido agredida por skinheads numa estação de metrô de Zurique, só não é mais incrível do que a sucessão de correções que os jornais brasileiros (seja em papel ou on-line) serão obrigados a fazer caso se confirme a inacreditável hipótese de autoflagelo levantada pela polícia suíça.
Não é preciso ir longe para observar que a imprensa brasileira assumiu como se fossem dela as informações de Paula. Foi ela quem disse estar grávida de gêmeos e ter perdido os bebês no ataque (isso, segundo as autoridades suíça, já é fato: ela não estava grávida). Apenas isso, a falsa gravidez, já poderia ser objeto de correção. Agora, e se nem mesmo o ataque for real?
Como seria o título “Brasileira grávida de gêmeos é agredida na Suíça e perde bebês” sem assumir as informações dadas pela personagem da notícia? “Brasileira acusa skinheads de agressão na Suíça”. Claro, tirar a gravidez, este componente emocional, do título seria um erro. Afinal, ela sabia o que estava dizendo, não? Eu, fechando as matérias desse caso, teria ido pelo mesmo caminho. No calor dos acontecimentos, faria tudo igual
Mas aqui sou engenheiro de obra pronta: o importante do caso é a reflexão que ele sugere. Como bem lembrou Leopoldo Godoy, “as pessoas mentem”.
Como saber isso?
Ainda que no caso de Paula não fique comprovado que de fato aconteceu (apesar da informação sobre a falsa gravidez), fica a lembrança de atribuir, sempre, a informação. Aliás, o jornalismo na Internet faz muito isso _e é bastante criticado, diga-se de passagem.
Sim, a atribuição tem a desagradável função de lembrar ao leitor que não somos nós, os jornalistas, que asseguramos a veracidade da informação. É chato, por que de certa forma revela ausência de fontes e incapacidade para se confirmar um fato.
Mas, como mostram algumas situações, indispensável para escapar de uma grande patinada.
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