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A ilustração e seu papel no jornalismo

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Relegada ao último plano, a ilustração tem, sim, seu lugar no jornalismo _provavelmente, até como gênero. Nunca teorizei isso, mas talvez valhesse a pena.

Transformar palavras em imagens é, claro, uma arte, mas uma arte comprometida com o noticiário e seu timing. Repare como os jornais, em geral em suas páginas de opinião, recorrem ao recurso.

É um luxo que só as publicações impressas podem fazer por você: traduzir artísticamente notícia e opinião (só pra não perder a piada e puxar a brasa para a minha sardinha, vou relembrar frase de Millôr que mostra o quão difícil é fazer o contrário: “Uma imagem vale mais do que mil palavras. Agora transforma essa frase em imagem”).

O ótimo La Buena Prensa entrevistou um ilustrador de jornais e revistas, Rafael Ricoy, para falar um pouco do metiê. E o cara é excelente ao dizer, logo de cara, que uma das principais características do ilustrador de veículos jornalísticos é a rapidez.

Aliás, eu acrescento que trabalhar sob pressão, e rápido, são dois dos itens mais relevantes num jornalista, seja qual função ocupe num diário.

As fotos certas na ordem certa

Já me perguntaram algumas vezes o que é mais difícil, editar um bom texto (e seu conjunto, incluindo o título) ou escolher uma boa foto. Minha resposta padrão costuma ser “editar um bom texto vendido com um ótimo título e aliado a uma boa foto”.

Os jornalistas que trabalham no fechamento sabem bem do que estou falando. Os prazos para a conclusão das edições, cada vez menores, não dão muita chance para diagramar as páginas com as fotos já na mão _compatíveis, portanto, com a mensagem noticiosa e, melhor, passíveis de serem trabalhadas de forma harmoniosa na composição do design.

Nas editorias de esportes, em que se fecha via de regra 15 minutos após o encerramento das partidas, a escolha de fotos é quase aleatória. Entra a que couber no corte (às vezes entram mesmo as que não cabem) por um imposição insolúvel da etapa industrial (impressão + distribuição) que ainda fazem do jornal em papel o mais lento e atrasado produto de mídia.

Quando se consegue a combinação perfeita entre o que se diz no texto e o que se vê na imagem, sua tarefa de editor foi bem-sucedida. É o que aconteceu na edição de anteontem do espanhol El Periodico.

Há, claro, um truque genial de edição: na capa, um Obama que entra. Na contracapa, um Bush que sai. Ambas as imagens acompanhadas de um minieditorial sobre o governo que começa e o que terminou.

uma aula de edição

Contracapa e capa do espanhol El Periodico: uma aula de edição

Nada como ter agilidade e, também, tempo para refletir melhor sobre o que mostrar ao público, e de que forma. Ainda é uma vantagem de jornalismo impresso sobre qualquer outro.

Preto no branco, jamais o inverso

Finalmente hoje o utilíssimo La Buena Prensa traz um exemplo do que não deve ser feito por um jornal impresso. É a página aí de cima, ou deste hiperlink aqui, do Diário de Burgos (Espanha).

Tome note: jamais, num jornal, use fundo escuro com letras brancas. Você pode estar simplesmente dizendo a seu leitor “não leia esse texto”.

Explico: não só o papel jornal tem qualidade ruim como, via de regra, a impressão no Brasil a torna ainda pior. Por isso, erros de registro são comuns. No caso de letras brancas, a leitura fica absolutamente impossível.

A recomendação não vale para revistas e produtos que utilizam papel com gramatura maior _portanto, com chance de mais qualidade na impressão.

A página do Diário de Burgos fica bonita aqui porque o que estamos vendo é um PDF. Pega o jornal na banca para você ver que bicho que pode sair…

Páginas que nos inspiram

Já falei numa outra oportunidade sobre o La Buena Prensa, único blog que conheço que analisa páginas e projetos especiais do jornalismo impresso _notadamente o espanhol.

Acompanhá-lo, a partir de agora, passa a ser primordial para os matriculados no curso de Projeto em Jornalismo Impresso I, que começamos em agosto.

Como veremos logo mais, o design tem a ver com a personalidade que pretendemos impor a uma publicação. Daí que, analisar vários dos casos mostrados pelo La Buena Prensa vai nos ajudar, de alguma forma, a ter mais “inspiração”.

Enquanto o jornal impresso não acaba…

A apocalíptica previsão do professor Philip Meyer de que a última edição de um jornal impresso irá às ruas no primeiro trimestre de 2043 fica martelando na cabeça daqueles que, como eu, têm bastante tinta correndo nas veias.

Meyer é um cara que entende das coisas (seu livro, traduzido no Brasil para “Os Jornais podem desaparecer?“, deixa isso claro), mas este tipo de previsão costuma ser chute tipo o pênalti do Baggio na final da Copa de 94. No caso de Meyer, hoje aos 78 anos, é até confortável, porque ele não estará aqui para ver.

O declínio do jornal imprenso, porém, é flagrante. Desde 1984 ele vem perdendo leitores e vê dizimado seu poder de angariar anunciantes.

Por isso que trabalhos como os mostrados agora no blog espanhol La Buena Prensa são bacanas. Ali, valorizam-se soluções espertas de diagramação, a grande companheira do conteúdo, da clareza e do leitor, claro.

Uma página como a abaixo mostra que tem coisas que só o jornalismo impresso pode fazer por você.

 

Página especial do El Correo