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Com pensata sobre evangélicos, revista da Uerj está no ar

Saiu a Edição 16 (Vol.8) da revista Contemporânea, produto on-line do grupo de pesquisa Comunicação, Arte e Cidade da Faculdade de Comunicação Social da UERJ.

Neste número, o dossiê Comunicação e Linguagens Audiovisuais (em PDF).

Curti “O telejornalismo na construção da identidade social: os evangélicos em série especial do Jornal Nacional”, de Hideide Brito Torres e Iluska Coutinho. Sempre bom a academia se debruçar sobre o trabalho jornalístico profissional. Ajuda ambos os lados.

A reportagem de Flávio Fachel que o Jornal Nacional mostrou em 2009, se por um acaso você não viu ou não se lembra (eu não tinha visto).

A tempo, é o mote para a análise acadêmica.

Agnóstico, estudei no Colégio Batista Brasileiro em São Paulo.

Curioso ver essa doutrina retratada pelo jornalismo anos depois _e legal ver que ela mantém a ligação com a música, que marcou minha formação.

A tecnologia de ponta em 1995

“O Windows 95 chega para revolucionar. Adeus à tradicional espera para acessar os programas. Você pode trabalhar na mesma tela com quatro programas de uma só vez”.

É Cesar Tralli, num Jornal Nacional de 1995, falando sobre as maravilhas da tecnologia de ponta da época.

As forçadas de um telejornal no meio do feriado

Feriado é aquela seca de notícias, mas na quinta-feira o Jornal Nacional exagerou: primeiro, colocou no ar uma reportagem capitaneada por Pedro Bassan, de Lisboa, dando conta de que os remédios custam muito mais caro no Brasil do que em Portugal (o título era “A cada R$ 3 pagos em remédio, R$ 1 é de imposto“, com um suposto levantamento dos preços de medicamentos em 23 países).

Só que forçaram a mão. Primeiro: o princípio ativo Captopril, para controlar a pressão alta, não tem preço médio de R$ 44, como a reportagem vendeu. Pode até ser que esse valor seja cobrado em alguma parte, mas é pura ladroeira. Fora que a matéria em nenhum momento citou o Farmácia Popular, programa do governo federal que faz alguns remédios (como vários de pressão) custarem na casa de um dígito e alguns centavos.

Tinha mais: “Fique atento se seu cartão vencer num feriado” relatava cuidados com a data de vencimento nos feriados. O alerta, falso, era o de que deixar para pagar depois do vencimento transformaria a conta em multa. O personagem, uma vítima de erro e de cobrança abusiva, que após ter protestado _é claro, afinal de contas se os bancos não abrem, não há como pagar contas_ teve o valor cobrado a mais estornado.

Pior é que a melhor história do dia não entrou no JN (vi no Brasil TV, o SPTV de quem não tem praça fixa de televisão): moradores de dois barros de Contagem (MG) são obrigados a encarar quase 1h30 de ônibus para buscar a correspondência numa central dos Correios. Contagem, diga-se, tem quase 700 mil habitantes e é o segundo maior município mineiro.

Calma com o andor, minha gente.

O direito de resposta mais célebre da história do jornalismo nacional

Visivelmente constrangido, Cid Moreira lê direito de resposta de autoria de Leonel Brizola

Visivelmente constrangido, Cid Moreira lê direito de resposta de autoria de Leonel Brizola

Fez 15 anos, praticamente incógnito, o direito de resposta mais célebre da história do jornalismo brasileiro: em 15 de março de 1994, visivelmente constrangido, Cid Moreira (que por 27 anos esteve à frente da bancada do Jornal Nacional) leu texto de 440 palavras que a Justiça obrigou a TV Globo a divulgar em seu telejornal mais nobre.

Foram cerca de três minutos nos quais Cid, a cara do JN, incorporou Leonel Brizola, então governador do Rio de Janeiro, que atacou duramente a emissora.

A ação de direito de resposta, obra do advogado Arthur Lavigne, foi inédita e abriu caminho para que os cidadãos buscassem amparo legal contra barbaridades cometidas pela imprensa _neste caso específico, num editorial, Roberto Marinho, o dono das Organizações Globo, havia chamado Brizola de “senil”.

Leia, abaixo, a íntegra do texto. E divirta-se com o vídeo deste momento histórico que minha amiga @fergiu me ajudou a relembrar dia desses.

“Todo sabem que eu, Leonel Brizola, só posso ocupar espaço na Globo quando amparado pela Justiça. Aqui, citam o meu nome para ser intrigado, desmerecido e achincalhado perante o povo brasileiro. Ontem, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar o editorial de O Globo, fui acusado na minha honra e, pior, chamado de senil.

Tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador, Roberto Marinho. Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que use para si. Não reconheço na Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e, basta, para isso, olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura que por 20 anos dominou o nosso  país.

Todos sabem que critico, há muito tempo, a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou ontem, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípio. É apenas o temor de perder negócio bilionário que para ela representa a transmissão do carnaval. Dinheiro, acima de tudo.

Em 83, quando construí a Passarela, a Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar, de todas as forma, o ponto alto do carnaval carioca. Também aí, não tem autoridade moral para questionar-me. E mais: reagi contra a Globo em defesa do Estado e do povo do Rio de Janeiro que, por duas vezes, contra a vontade da Globo, elegeu-me como seu representante maior. E isto é o que não perdoarão nunca.

Até mesmo a pesquisa mostrada ontem revela como tudo na Globo é tendencioso e manipulado.

Ninguém questiona o direito da Globo mostrar os problemas da cidade. Seria, antes, um dever para qualquer órgão de imprensa. Dever que a Globo jamais cumpriu quando se encontravam no Palácio Guanabara governantes de sua predileção. Quando ela diz que denuncia os maus administradores, deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante de seu poder. Se eu tivesse pretensões eleitoreiras de que tentam me acusar não estaria, aqui, lutando contra um gigante como a Rede Globo. Faço-o porque não cheguei aos 70 anos de idade para ser um acomodado.

Quando me insultam por minhas relações administrativas com o Governo Federal, ao qual faço oposição política, a Globo vê nisso bajulação e servilismo. É compreensível. Quem sempre viveu de concessões e favores do poder público não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesmo.

Que o povo brasileiro faça seu julgamento, e, na sua consciência lúcida e honrada, separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis e gananciosos”.

Um dia de Michael Jackson

Michael Jackson morreu. Isso sim é notícia. É seguramente o morto mais ilustre (no sentido de alcance global) da minha existência como jornalista, iniciada em 1990. Gênio e louco, teve uma relevância incrível.

E foi uma morte, apesar de inesperada, lenta. Começou com a notícia da internação às pressas, após o cantor ser socorrido “sem respirar” por paramédicos. Às 18h06 já havia matérias sobre o assunto, que bombou na web nos minutos seguintes.

Leia notícias sobre a morte de Michael Jackson

Às 19h20, o site norte-americano TMZ, que cobre celebridades, cravou o passamento (é o pior eufemismo possível para morte). O Twitter, essa máquina de rumores que espalha o mal e o bem, tornou celébre o desconhecido TMZ _propriedade da Warner Bros., um cachorro grande do entretenimento.

Eu diria que foi chute, mas tecnicamente tem de ser considerado furo. E coube ao TMZ a primícia. O site, criticado por incentivar o trabalho de paparazzi mas que possui no currículo outros furos, foi quem noticiou primeiro a tragédia.

Em 17 minutos, o Los Angeles Times, em post publicado num blog de música do jornal, dava a mesma informação. O LA Times ainda tentou, numa sacanagem clássica da internet, se apropriar do furo, atualizando a matéria que falava da internação _publicada uma hora e catorze minutos antes (repare no link da URL, que traz o título original e entrega o truque).

Depois, como ficou feio, o jornal colocou um “update” logo após o título (modificado) que sentenciava a morte do astro do pop.

Só quando o LA Times deu, a CNN virou seu título na tela, citando o jornal e falando em morte (até então, o máximo que se tinha chegado era “coma”). Eram 19h43.

Mas faltava a confirmação oficial. Não, não a de médicos ou legistas, num comunicado oficial. Faltava a chancela da imprensa formal. Ela veio apenas às 20h22, quando a CNN confirmou o óbito com fontes próprias e, enfim, assumiu a informação.

O Jornal Nacional já estava no ar, com os apresentadores fazendo o possível para manter em voo um Boeing sem combustível. Só às 20h29, um minuto antes de entrar no ar o programa gratuito do PSDB (escancarando a vocação do partido em ser figurante), William Bonner, citando a CNN, deu a notícia da morte de Jackson.

A parada do telejornal se mostrou providencial. Às 21h01, entrou no ar último bloco do programa, editado de forma bem satisfatória. Repare no final: Fátima Bernardes errou, dizendo que a emissora daria novas informações “a qualquer momento ou no Jornal Nacional”, no que foi socorrida pelo marido, “no Jornal da Globo”, disse Bonner, que foi além: “Estamos todos abalados com a notícia de última hora”.

Pano rápido.

Hoje é o dia de ver como os jornais impressos vão se sair. Minha única certeza é que quem não manchetou com o assunto cometeu um erro grotesco. Dois jornalões não tinham feito isso até a hora que vi… E outro, ainda aguardo confirmação porque só acredito vendo, teria perpetrado “Peter Pan morreu”.

Se você leu essa manchete em algum lugar, me avise com urgência.