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Allende, JB e coragem, 40 anos depois

No dia em que a deposição do presidente chileno Salvador Allende completa 40 anos, é sempre bom relembrar a aula de coragem e jornalismo que Alberto Dines, comandante do finado Jornal do Brasil, deu na edição do diário que relatava o golpe.

A notícia sobre a manobra que jogou o Chile num período sombrio com nome e sobrenome, Augusto Pinochet, não poderia ser o título principal da capa do periódico, ordenou a censura pilotada pela ditadura brasileira.

Pois bem, Dines criou o jornal sem manchete.

jb_allende

Jornal do Brasil, um veículo colaboracionista?

Colunista da Folha de S.Paulo, Janio de Freitas trouxe há alguns dias um tema (para mim) inédito: o Jornal do Brasil, que ele ajudou a revolucionar anos antes, teria se beneficiado – e muito – do período conhecido como ditadura militar, entre 1964 e 1985.

“Durante os 21 anos sem nem sequer os seus mínimos componentes da democracia, a imprensa brasileira (vamos englobar assim jornais, TV, revistas e rádio) teve lucros e outros enriquecimentos maiores, muito maiores, do que em qualquer fase anterior na sua história”, começa o jornalista.

Mais: “Mais importante jornal em todos aqueles anos, o “Jornal do Brasil”, como principal órgão criador de opinião pró iniciativas do regime (“milagre brasileiro”, “Brasil grande”, a designação de “terroristas” para os oposicionistas, nem todos armados, e muito mais) proporcionou o exemplo definitivo da ligação ideológica-econômica dos meios de comunicação com a antidemocracia.”

Estranho em se tratando do veículo que tratou o AI-5 com chacota jamais vista e que, anos depois, ameaçaria a censura com a primeira página sem manchete dando conta da queda de Allende no Chile.

Para a academia se debruçar.

Um passeio pelo acervo do JB


Já foram digitalizadas pelo Google (e há algum tempo) quase todas as edições do saudoso Jornal do Brasil.

Entre elas uma das mais célebres, a de 14 de dezembro de 1968, que anunciava o AI-5, decreto que endureceu a ditadura militar e, consequentemente, diminuiu as liberdades civis (fora o “recesso” forçado do Congresso).

A previsão do tempo (que você vê acima) é talvez a peça mais clássica da capa da edição, que tem ainda uma série de fotos non-sense com legendas sensacionais (como a de Garrincha na semifinal da Copa de 1962 sob o título “A hora dramática”.

A não perder.

(a dica é de outra viúva do Jota, o repórter Bernardo Mello Franco).

O obituário on-line do Jornal do Brasil

Alunos da disciplina Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa II de Jornalismo da Uerj, sob a coordenação do professor Marcelo Kischinhevsky, produziram uma espécie de obituário do Jornal do Brasil que, como todos sabemos, deixou neste ano de circular em papel e sobrevive apenas na versão on-line (onde, aliás, foi pioneira entre os veículos de comunicação nacional).

Trabalho interessante que merece ser visitado.

Desce a última página do Jornal do Brasil

Texto de Joaquim Ferreira dos Santos publicado originalmente em O Globo, reproduzido pelo Observatório de Imprensa.

“Penteia o teu último nariz de cera, JB, pede ao Joaquim Campelo para copidescar uma pirâmide invertida que está na página três, diz ao Gabeira para pesquisar a capa que o Alberto Dines fez do AI-5 – e desce a página para o túmulo dos grandes jornais.”

Mas tem o caminho apontado pelo repórter velho de guerra (meu contemporâneo setorista de seleção e quetais) Jorge Cordeiro.

“Transferir o jornal de mala e cuia para o meio digital, em vez de fechá-lo, é a meu ver pra lá de sensato _e estimulante!”

Acho auspicioso o rumo que o JB decidiu (por via das circunstâncias) tomar: transformar-se em 100% on-line.

Agora, tenho sérias dúvidas se o motivo de tanta empolgação (a possibilidade de se entregar de vez às delícias multiplataforma e à interação com o público) será realmente aplicado no novo JB.

Pra isso, é preciso mais do que disposição ou conhecimento técnico, mas retaguarda tecnológica e, principalmente, de mão de obra.

Justamente o que faltou, por ausência de verba, ao velho JB.

Veremos.

Uma parte do acervo do JB, pelo menos, está preservada

O fim da edição impressa do Jornal do Brasil é triste, mas pelo menos parte de seu acervo está preservado, como todas as colunas políticas de Carlos Castello Branco, o Castelinho, jornalista que marcou época pelas informações e influência que possuía junto aos protagonistas do noticiário.

No JB, Castelinho escreveu todos os dias entre janeiro de 1963 e abril de 1993.

Não vou falar sobre Nelson Tanure, senão a minha pressão sobe.

A dica é da Kika Castro.

Jornais sem primeira página vão para a banca

Os principais jornais da Eslováquia foram para a rua hoje sem notícias na capa, com a primeira página praticamente em branco, com um pequeno editorial acompanhado de uma moldura preta.

Capa do SME, de Bratislava

Foi um protesto contra lei aprovada na quarta-feira pelo parlamento do país que, entre outras coisas, tornou o direito de resposta generalizado e sumário, o que vai encher os jornais de lamentáveis desmentidos.

Daí eu me lembrei de Alberto Dines e seu “Jornal do Brasil” sem manchete.