Depois de comprar 28 jornais nos últimos 15 meses nos Estados Unidos, o multimilionário Warren Buffet, em carta aos acionistas de sua empresa, diz que continuará a fazê-lo mesmo admitindo que “a circulação, faturamento publicitário e lucro do setor jornalístico como um todo estão destinados a cair”.
À parte o romântico “eu amo jornais” no texto, Buffet apresenta os reais motivos de seu investimento: a aposta na mídia regional, o bom e velho conceito hiperlocal que, dizemos há anos, parece ser de fato a saída mais interessante para um produto que perdeu a primazia de ser o arauto do noticiário.
“Se você deseja saber o que está acontecendo em sua cidade – notícias sobre o prefeito, impostos locais ou o resultado do time de futebol americano da escola secundária -, não há substituto para um jornal local que esteja fazendo bem o seu trabalho. Um leitor pode facilmente se entediar depois de ler dois parágrafos sobre as tarifas canadenses ou os desdobramentos políticos no Paquistão, mas uma reportagem que fale sobre ele e seus vizinhos será lida até o fim”, pontua a carta.
Porém Buffet não menciona um aspecto crucial (e óbvio) para se fazer “bem o seu trabalho” em jornalismo hiperlocal: é preciso jornalistas. Não há agências de notícias ou sites na internet cobrindo o time de várzea de seu bairro e oferecendo material pronto para republicação a respeito da quitanda da esquina.
Portanto, diferentemente do mau jornalismo de caráter nacional (onde cabeças são cortadas impiedosamente, e as redações se desidratam dia após dia), para apostar no hiperlocal é preciso contratar repórteres e editores.
Buffet irá na contramão do mercado?