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Microrrelato, esse gênero desprezado no jornalismo

Estebán Dublín fala com propriedade sobre o microrrelato, que não costuma ser associado a nenhuma forma de redação jornalística mas que, com a popularização de microblogs (Twitter e Tumblr à frente), bem que merecia um lugar ao sol.

Dublín lembra o maior exemplo de microrrelato conhecido: os versículos bíblicos, que contextualizados acabam por contar uma história única.

Bem interessante.

Gêneros Jornalísticos na Faap em 2011

Começo hoje, na nova turma da pós em Jornalismo Esportivo da Faap, mais um curso de Gêneros Jornalísticos, disciplina que marcou minha estreia no mundo acadêmico no já longínquo 2006, no Unifai.

Saudades daquela turma da qual vários ex-alunos já estão no mercado, buscando seu espaço.

A ideia, agora, é traçar um panorama da história do estudo dos gêneros desde a Grécia Antiga até Lia Seixas, a pesquisadora brasileira que tem se debruçado recentemente (e com muita propriedade) sobre o tema.

O objetivo? Saber identificar e classificar os gêneros é o primeiro passo para usá-los corretamente _e, assim, se dirigir ao leitor/usuário da forma mais otimizada possível.

Programa e bibliografia já estão on-line.

A caminho de uma nova teoria dos gêneros jornalísticos?

Ana Mancera Rueda explica, no Sala de Prensa, a quantas anda a compreensão e a discussão, na Espanha, sobre as formas pelas quais nos manifestamos jornalísticamente (reportagem, entrevista, editorial, artigo etc, os famosos “gêneros”).

É uma das disciplinas que atualmente ministro na Faap. Aqui no Brasil, infelizmente, estamos muitíssimo atrasados com relação ao assunto.

Desde Marques de Mello, os gêneros cresceram _e não vão parar de crescer graças ao avanço tecnológico.

Caminhar na direção de uma nova teoria dos gêneros, como esboça Mancera, é tarefa complexa, porém altamente necessária.

ATUALIZAÇÃO: Por uma omissão imperdoável (quem me deu o puxão de orelha foi o colega Rogério Christofoletti), esqueci de mencionar o trabalho da pesquisadora Lia Seixas, referência importante na bibliografia do próprio curso mencionado acima, da mesma forma que a tentativa comparativa de Manuel Chaparro em “Sotaques d’aquém e d’além-mar – Travessias para uma nova teoria de gêneros jornalísticos”, que tenta observar semelhanças e diferenças entre o jornalismo praticado no Brasil e em Portugal.

O poder arrasador de uma boa charge

“E se tudo isso for um grande boato e a gente criar um mundo melhor por nada?”

É por trabalhos como o acima, de Joel Pett, que a charge, esse gênero jornalístico às vezes esquecido como tal, precisa ser mais valorizado _se você boiou, saiba mais sobre o climagate.

Cuidado: pessoas imitando jornalistas

Hoje um amigo jornalista me contou o pedido de socorro de um colega de trabalho da área de tecnologia de informação, instado em sua faculdade a entrevistar alguém para uma tarefa acadêmica.

Curioso, mas as pessoas sempre querem agir como jornalistas. O colega do amigo, leigo, queria saber quais os formatos de entrevista e como fazê-las.

Meio chato, porque a mobilização sem vícios é, sempre, mais útil. E o que garante o mosaico que dá origem à verdadeira colaboração que está por trás do conceito de jornalismo participativo.

O que você, cidadão, quer realmente saber? Sempre renderá mais do que simplesmente reproduzir hábitos e indagações de repórteres profissionais. Repórteres ganham a vida pra perguntar, você não. Pergunte o que quiser saber, de verdade. Funcionará bem melhor. Não há liturgia, apenas pergunta boa e pergunta ruim.

No geral, o jornalista tem um propósito: seu lide. A informação ou frase que resolverá a principal tarefa do dia.

O restante da humanidade, que também diariamente analisa, apura e difunde informação), não tem essa amarra formal. Ideias preconcebidas sobre o que são perguntas ou respostas, definitivamente, nada acrescentam ao processo.

Amador ou profissional, o jornalismo é, e faz tempo, uma conversa em que se buscam versões, explicações e análises.

Deixem o lado chato e protocolar com a gente e cuidem do resto.

A ilustração e seu papel no jornalismo

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Relegada ao último plano, a ilustração tem, sim, seu lugar no jornalismo _provavelmente, até como gênero. Nunca teorizei isso, mas talvez valhesse a pena.

Transformar palavras em imagens é, claro, uma arte, mas uma arte comprometida com o noticiário e seu timing. Repare como os jornais, em geral em suas páginas de opinião, recorrem ao recurso.

É um luxo que só as publicações impressas podem fazer por você: traduzir artísticamente notícia e opinião (só pra não perder a piada e puxar a brasa para a minha sardinha, vou relembrar frase de Millôr que mostra o quão difícil é fazer o contrário: “Uma imagem vale mais do que mil palavras. Agora transforma essa frase em imagem”).

O ótimo La Buena Prensa entrevistou um ilustrador de jornais e revistas, Rafael Ricoy, para falar um pouco do metiê. E o cara é excelente ao dizer, logo de cara, que uma das principais características do ilustrador de veículos jornalísticos é a rapidez.

Aliás, eu acrescento que trabalhar sob pressão, e rápido, são dois dos itens mais relevantes num jornalista, seja qual função ocupe num diário.

A blogagem como gênero jornalístico

No primeiro plano de ensino que concebi para um curso acadêmico, de gêneros jornalísticos, cometi a desfaçatez (foi o que ouvi de colegas) de incluir a narração ao vivo (ou “live blogging”, como queiram) na lista que incluía os já manjados texto noticioso, reportagem, entrevista, editorial, artigo, coluna etc…

Polêmico, mas hoje o assunto já é discutido com mais maturidade. Afinal, as narrações ao vivo de eventos (sejam quais for, de partidas esportivas a seminários corporativos) pululam e não deixam de ter o seu quê de estilo e funcionalidade. Isso sem contar a explosão do microblog, que na época daquele modesto curso era um prematuro na incubadora.

Agora Paul Bradshaw, do Online Journalism Blog, insinua a possibilidade de a blogagem em si entrar no rol das vertentes jornalísticas capazes de merecerem o carimbo de gênero.

E por que não?

Desde que sejam blogueiras, né? Aquela velha história: não adianta transpor colunismo em papel para o on-line emprestando para isso, apenas, a ordem cronológica inversa de publicação. O texto jornalístico, para ser considerado blog, tem de incitar a conversação, promover o diálogo, apresentar o que a blogosfera (ou alguma parte dela) fala sobre o assunto.

Se for assim, estou dentro.

Reportagem sem produção dá nisso…

Aos sábados, é claro que o Mc Donald's judaico de Buenos Aires estaria fechado...

Num sábado, é claro que o Mc Donalds judaico de Buenos Aires estaria fechado...

Não há motivo para que reportagens frias, aquelas em que se tem tempo para preparar o terreno, não tenham planejamento e pré-produção. Vou dar um exemplo bastante bobo, mas bem prático, do que estou dizendo.

Aqui em Buenos Aires funciona uma unidade kosher do Mc Donald’s, ou seja, um restaurante da rede onde os pratos são preparados sob a supervisão de um rabino e, portanto, dentro dos preceitos do judaísmo (no Brasil, a prática ocorre um domingo por ano numa lanchonete da cadeia multinacional na Barra Funda).

É a única loja permanente desse estilo localizada fora de Israel, onde a prática começou em 2006 _a população judaica na Argentina é estimada em 250 mil pessoas, a sétima maior do mundo. Não por acaso, o maior atentado contra judeus ocorrido fora da Europa e do Oriente Médio foi a explosão de uma bomba na Amia (Associação Mutual Israelita-Argentina), em 18 de julho de 1994, que matou 84 pessoas e deixou mais de 300 feridos.

No caso de uma comida pasteurizada como a do fast-food do palhaço Ronald, as regras kosher significam, entre outras coisas, servir Big Mac sem queijo (a religião judaica condena a mistura de carne e derivados de leite)  e pães produzidos de forma levemente modificada (outra vez, para eliminar derivados do leite da composição). Além disso, o gado que serve de matéria-prima para os hambúrgueres é abatido de forma distinta e com o acompanhamento de um rabino.

A idéia do repórter aqui era provar os sanduíches (quem já comeu diz não ter notado diferença alguma de sabor _se bem que não como um sanduíche da rede há pelo menos oito anos) e conversar com os clientes da lanchonete.

Pois bem. Hoje fui ao Shopping Abasto feliz da vida, criança a tiracolo, louco para achar esse Mc Donald´s e fazer minha reportagem. Sim, hoje, um sábado. Daí me deparei com a imagem que fotografei acima. Claro, é um sábado, o shabat, dia de descanso no judaísmo. O restaurante estava fechado.

Faltaram produção e planejamento a este desavisado e atabalhoado repórter…