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E se o homem chegasse hoje à Lua?

A Slate, um produto bem representativo da era da web (a revista de atualidades e cultura foi criada em 1996 e sempre teve como mérito cobrir as tendências da vida em rede), produziu um vídeo bem divertido sobre como teria sido a repercussão (especialmente na internet) caso o homem tivesse chegado apenas hoje, não há 40 anos, à Lua.

Imagine, claro, o Twitter “baleiando”, Youtube e Flickr forrado de imagens e até manchete no Huffington Post (o site/blog de Arianna Huffington que é outro exemplo emblemático da era da conversação e troca de informações via computador).

A ficção não está muito distante da realidade. Basta lembrar a morte de Michael Jackson, um acontecimento com alcance global como seria a conquista da Lua hoje.

(via Tiago Dória)

A verdadeira muralha da China

Direto de Pequim, a jornalista Janaína Silveira desafiou a blitzkrieg do governo chinês à internet. “Hoje, não temos aqui Youtube, Blogger, WordPress, Google Reader, Twitter, Flickr, Ning, o recém-saído do forno Bing, sei lá o que mais”, conta.

O massacre da Praça da Paz Celestial fará dois anos amanhã, e o regime quer se prevenir banindo os sites que melhor espalham as novidades _aliás, a BBC fez um ótimo media criticism sobre a cobertura dos eventos que moldaram muito a visão posterior do mundo sobre a China.

Leia mais notícias sobre a internet e os 20 anos do massacre de Tiananmen

Opine: um jornal precisa de manchete todos os dias?

É um aspecto tão nefasto quanto as ameaças da Arábia Saudita à liberdade do trabalho de repórteres, que abordei ontem.

O teto da igreja caiu, mas onde estava o jornalista cidadão que não viu?

Há três dias falávamos aqui sobre a agilidade do cidadão jornalista (e até sua disputa pelo furo, como se viu no caso do avião que pousou no rio Hudson, em Nova York), e então neste domingo cai o teto de uma igreja evangélica em área densamente povoada (e cercada de prédios), em São Paulo, e a colaboração dos usuários é próxima do zero?

Como reagir a isso?

Enquanto escrevo (são 2h18 da madrugada desta segunda), há um mísero registro fotográfico no Flickr _que nem sequer evidencia, devido ao ângulo, a extensão da tragédia_, enquanto mesmo sob apelos, os guetos de jornalismo participativo dos grandes portais (Eu-Repórter, Minha Notícia, VC no G1 e Vc Repórter) não têm material algum produzido pelo usuário para exibir.

Nos sites de microblog, ao menos, a primeira menção ao incidente surgiu antes que Paulo Henrique Amorim desse a notícia de última hora na TV Record _que foi, até onde sei, quem deu o furo na grande mídia.

No You Tube, maior site de compartilhamento de vídeos, aparentemente há um único arquivo original, afora os tradicionais repliques dos canais do mainstream.

Nesta segunda voltarei ao assunto atualizando as coisa. Se você souber de algo que passou batido nessa análise inicial, avise. Quem sabe limpamos a barra do jornalismo cidadão tupiniquim? Por ora, baita fiasco…

ATUALIZAÇÃO: Voltei, conforme prometido. Tarde, mas voltei. E não há nada a atualizar. De fato, a colaboração no caso do desabamento do teto da sede da Igreja Renascer não teve nenhum episódio novo, nem nas plataformas independentes nem nos portais que oferecem o “gueto colaborativo”. De prático, sobrou a troca de impressões, na caixa de comentários, com Ana Brambilla, que acrescentou ingredientes saborosos para tentar entender essa ausência de jornalismo entre os cidadãos que presenciaram o fato.

A primeira foto, na verdade, era a segunda…

A aeronave pousada no Hudson, antes da chegada de balsas que ajudaram no resgate _de onde jornalista cidadão fez a segunda foto do incidente em Nova York

A aeronave pousada no Hudson, antes da chegada de balsas que ajudaram no resgate _de onde jornalista cidadão fez a segunda foto do incidente em Nova York

Nada como um incidente urbano (ou seja, com várias testemunhas) para recolocar o jornalismo cidadão e a comunicação em rede sob os holofotes. Desta vez, foi por muito pouco: o pouso forçado do avião em Nova York teve, talvez, uma única incidência registrada por uma pessoa comum antes da chegada, em peso, da grande mídia.

Registrada não, corrijo: publicada on-line (no caso, numa página do Flickr). Parece-me óbvio que outras tantas pessoas focalizaram a cena, ocorrida em pleno rio Hudson, só na frente da Ilha de Manhattam, diante de centenas de prédios de escritórios e janelas forradas de curiosos munidos de celulares e câmeras digitais.

A maioria destes flagrantes, porém, não chegam à Web porque seus autores fracassam ao compartilhar o conteúdo. Sua colaboração para em obstáculos pessoais, técnicos e circunstanciais.

Quando surgiu a segunda foto pública do acidente (confundida por gente muito experiente na Web como a primeira), já existiam imagens de agências de notícias (a Associated Press capitaneando) e câmeras de TV a vivo transmitindo o resgate dos 150 passageiros, todos com vida _essa sim a grande notícia do quase desastre.

Claramente esse pouso bem-sucedido esteve no limiar de derrubar o paradigma que minha amiga Mindy McAdams tão bem decretou, com minha total concordância: o breaking news (a notícia de última hora) estará on-line, sempre, antes do rádio e da TV e será sempre coberto, inicialmente, por jornalistas não-profissionais.

Quase que essa afirmação cai. Por minutos (normalmente leva dezenas, e bota dezenas, deles).

Nosso velho conhecido, o jornalista português Alex Gamela montou uma linha do tempo do incidente do ponto de vista do Twitter, o site de microblog mais acessado do mundo. Ali, 140 caracteres bastam quando se preenche o espaço com links úteis. É a expansão da informação, algo que nossos sites noticiosos desconhecem por medo de levar o usuário alhures e nunca mais recuperá-lo _sendo que é exatamente a prestação desse serviço um dos mais potenciais agregadores de público.

Minha curiosidade, desta vez, foi notar amadores (nota: gente que não é jornalista) disputarem ombro a ombro um furo. A agilidade das pessoas está cada vez mais impressionante.

E quem deu a informação primeiro (ao menos em imagem publicada on-line, vamos especificar bem)? Esta foto, tirada antes que a chegasse a balsa de onde este aqui registrou o resgate dos passageiros.

Aliás, a própria linha do tempo de Gamela registra a aparição desta foto primeiro (por acaso, transmitida por mim).

O público que publica, mais uma vez, mostrou-se útil para a imprensa tradicional. Cabe a ela colocar essa gente de vez para dentro do noticiário.

A gestão de Barack Obama on-line

Foto do Flickr do gabinete de transição de Barack Obama

Foto do Flickr do gabinete de transição de Barack Obama

Saudada (corretamente) como um ícone do bom uso das novas ferramentas on-line de mídia social _eu me arrisco até a dizer que se estabeleceu um novo padrão_, a equipe de Barack Obama vai mostrando, em alguns aspectos, que a premência da eleição sobrevalorizou, em boa medida, esse suposto talento internético e propenso à interação.

O site do governo de transição parece manter firme o propósito de interagir com as pessoas. Um imenso quadro vermelho em posição de destaque na página o recepciona com um convidativo “Conte-nos a sua história“, habilitando funções de texto, foto e vídeo.

Esse material (certamente valioso) ainda não foi tornado público _e esse é o primeiro problema. É princípio da gestão de uma comunidade o compartilhamento imediato do material produzido por ela. Assim é o jogo na Internet. Eu colaboro, mas tenho direito à colaboração de meus pares.

O blog do Change.com tropeça em dois aspectos: desconhece o link para outras coisas bacanas da rede e esconde ou não-habilita temporariamente a caixa de comentários. Pode ser um método para tornar a moderação viável, mas não é transparente. Só o blog exibe a galeria de fotos de Obama e seu vice, Joe Biden, no Flickr (por sinal, atualizadíssimas, mereciam melhor destaque na home).

A sala de imprensa virtual é modesta, mas funciona. E, melhor, não é restrita a “pros”. O público adora acessar seções do tipo e se sentir proprietário de notícias em primeira mão (apesar de todo mundo saber que não são).

A promessa de usar o You Tube também foi cumprida: há um canal bastante ruidoso e bem-cuidado. O que levava o nome de Obama (não de uma campanha eleitoral, notem) foi abandonado. E sem contar para onde se mudou…

No Twitter, de novo há a mesma sensação de que só queriam o seu voto: o último scrap é de 5 de novembro, dia seguinte à eleição, quando a vitória de Obama Barack foi confirmada.

Déjà vu no Facebook: uma mensagem de agradecimento e, aparentemente, última atualização em 10 de novembro. Ah, claro: há uma postagem de anteontem convidando os fãs a doar ao menos US$ 5 para a festa de posse, que está sendo vendida pela equipe de Obama como a primeira na história dos EUA que não é patrocinada por lobistas. Detalhe: ainda não existe a página Changedotgov, nova morada das coisas on-line do futuro mandatário dos EUA.

No Twitter, o “domínio” já foi registrado, mas jamais divulgado ou atualizado.

Por enquanto, ainda fica difícil saber se a destreza no poluído mar da mídia social era uma estratégia de governo ou simplesmente de campanha. No mínimo, falta padronização e gentileza na condução dos fiéis seguidores.

O que os futuros jornalistas deveriam aprender na faculdade?

Com a palavra, a professora americana Amy Gahran, que tem defendido (assim como eu) uma forte ênfase nas novas ferramentas on-line _e na habilidade gerencial dos alunos em admistrar idéias e negócios na rede.

O aspecto “econômico” das idéias de Gahran foi muitíssimo bem comentado pelo jornalista José Renato Salatiel.

A parte jornalística deixa comigo: a professora aponta, por exemplo, que simulações com ferramentas de administração de conteúdo são indispensáveis (como o trabalho com blogs que desenvolvemos em Jornalismo On-line).

Sua sugestão é que os alunos, reunidos em grupo, passem ao menos dois semestres alimentando e melhorando seus blogs _notadamente integrando-os a serviços como Flickr e Delicious.

Imersão em mídias portáteis, como estamos fazendo com o Twitter e com o Telog, é outra exigência atualíssima e indispensável.

Gahran cita como exercícios a inscrição a serviços de SMS disponíveis no mercado (para que possam ser criticados e avaliados pelos alunos) e também incentiva a participação em canais de colaboração dos grandes portais. Exatamente como fiz, pregando no deserto…

Outro ponto importante é o uso das mídias sociais (Facebook, Myspace, Orkut -arghhhhh!!!!) como instrumento de pauta e apuração, promoção do próprio trabalho e possibilidades de alcance externo.

Finalmente, entender a notícia como ponto de partida de um diálogo, não mais um discurso de mão única, é uma habilidade desejável no mundo jornalístico redesenhado pela tecnologia.

Agora, se você não souber como fazer um lide, meu amigo, desista.