
A aeronave pousada no Hudson, antes da chegada de balsas que ajudaram no resgate _de onde jornalista cidadão fez a segunda foto do incidente em Nova York
Nada como um incidente urbano (ou seja, com várias testemunhas) para recolocar o jornalismo cidadão e a comunicação em rede sob os holofotes. Desta vez, foi por muito pouco: o pouso forçado do avião em Nova York teve, talvez, uma única incidência registrada por uma pessoa comum antes da chegada, em peso, da grande mídia.
Registrada não, corrijo: publicada on-line (no caso, numa página do Flickr). Parece-me óbvio que outras tantas pessoas focalizaram a cena, ocorrida em pleno rio Hudson, só na frente da Ilha de Manhattam, diante de centenas de prédios de escritórios e janelas forradas de curiosos munidos de celulares e câmeras digitais.
A maioria destes flagrantes, porém, não chegam à Web porque seus autores fracassam ao compartilhar o conteúdo. Sua colaboração para em obstáculos pessoais, técnicos e circunstanciais.
Quando surgiu a segunda foto pública do acidente (confundida por gente muito experiente na Web como a primeira), já existiam imagens de agências de notícias (a Associated Press capitaneando) e câmeras de TV a vivo transmitindo o resgate dos 150 passageiros, todos com vida _essa sim a grande notícia do quase desastre.
Claramente esse pouso bem-sucedido esteve no limiar de derrubar o paradigma que minha amiga Mindy McAdams tão bem decretou, com minha total concordância: o breaking news (a notícia de última hora) estará on-line, sempre, antes do rádio e da TV e será sempre coberto, inicialmente, por jornalistas não-profissionais.
Quase que essa afirmação cai. Por minutos (normalmente leva dezenas, e bota dezenas, deles).
Nosso velho conhecido, o jornalista português Alex Gamela montou uma linha do tempo do incidente do ponto de vista do Twitter, o site de microblog mais acessado do mundo. Ali, 140 caracteres bastam quando se preenche o espaço com links úteis. É a expansão da informação, algo que nossos sites noticiosos desconhecem por medo de levar o usuário alhures e nunca mais recuperá-lo _sendo que é exatamente a prestação desse serviço um dos mais potenciais agregadores de público.
Minha curiosidade, desta vez, foi notar amadores (nota: gente que não é jornalista) disputarem ombro a ombro um furo. A agilidade das pessoas está cada vez mais impressionante.
E quem deu a informação primeiro (ao menos em imagem publicada on-line, vamos especificar bem)? Esta foto, tirada antes que a chegasse a balsa de onde este aqui registrou o resgate dos passageiros.
Aliás, a própria linha do tempo de Gamela registra a aparição desta foto primeiro (por acaso, transmitida por mim).
O público que publica, mais uma vez, mostrou-se útil para a imprensa tradicional. Cabe a ela colocar essa gente de vez para dentro do noticiário.