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O Spotlight britânico

‘Attacking the Devil’ (disponível na Netflix) é uma espécie de Spotlight britânico. O documentário reconstrói a primeira grande campanha de um jornal do Reino Unido, liderada pelo editor Harry Evans, que revelou a barbárie provocada pela prescrição de medicamentos a base de talidomida, outro triste legado do nazismo.

Evans colocou à disposição do assunto a equipe Insight, editoria de investigação do Sunday Times (ainda hoje o jornal mais vendido do país), para expor ao público os horrores da má-formação de crianças cujas mães se submeteram a tratamentos com o uso da talidomida – então prescrita como ‘milagrosa’ contra os enjoos das primeiras semanas de gravidez.

Disclaimer: Evans é, ele próprio, uma das vítimas (sua filha foi afetada pela substância).

O trabalho do grupo de jornalistas desafiou a justiça britânica, que havia colocado o tema em sigilo – o que impedia, na prática, sua divulgação pelos jornais – e evidentemente chocou a Grã-Bretanha, jogando luz nos procedimentos nada íntegros da indústria farmacêutica.

A propósito, a editoria Insight existe até hoje, colecionando outros grandes furos no currículo.

A sátira de Jobs

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Caso você tenha perdido, tire o dia para ver iSteve, filmete de 80 minutos feito a toque de caixa que resume de forma satírica a biografia de Steve Jobs, representado pelo ator Justin Long (que você vê acima reproduzindo a já clássica imagem que ilustra a capa da biografia oficial do gênio maldito).

Outro filme sobre o personagem, jOBS, já foi apontado como equivocado na representação dos personagens.

Nas asas da Panair

Clique e veja mais fotos do Museu da Aviação, mantido pela TAM em São Carlos (SP)

Quem conhece bem o Webmanario (daqui a pouco vamos para quatro anos no ar, acredita?) sabe que aviação é o único off-topic tolerado aqui. Nem Corinthians eu consegui transformar num tema eventual de meu próprio site.

Aviões apareceram certo dia nesta página por causa da Vasp e de suas agruras _e aqui permaneceram, para sempre, porque uma legião de fãs e ex-colaboradores da companhia de alguma forma transformou essa esquina onde se discute jornalismo num ponto de encontro para falar da empresa, de memórias, de bons tempos.

Esta semana tirei mais poeira da minha memória da aviação brasileira: fiz uma visita ao espetacular museu mantido pela TAM em São Carlos (a 250 km de São Paulo), onde um Lockheed L-049 Constellation domina o cenário.

Fabricada em 1946, a aeronave estava há mais de 30 anos “congelada” no Paraguai por conta de um imbróglio tributário.

Nas mãos da TAM, foi meticulosamente restaurada e, como homenagem, ganhou as cores da Panair, primeira grande companhia aérea do Brasil, que operou entre 1929 e 1965 e introduziu o maravilhoso Constellation no país _teve 14 equipamentos do tipo na frota.

A Panair é do tempo em que voar significava ser servido com copos de cristal, talheres de prata e pratos de porcelana (o museu tem tímido acervo disso, exibido aos pés do Constellation _não é o caso de se juntar mais coisa para um digno registro de um marco do aviação nacional?).

A trajetória da empresa também foi muito mal contada pelo jornalismo. O episódio da abrupta interrupção de seus serviços, há 46 anos, jamais foi explorado como deveria (ATUALIZAÇÃO: o livro “Pouso Forçado”, de Daniel Leb Sasaki, foi lançado em 2005 e reconstitui os fatos).

A falência da companhia foi decretada pelo governo Castelo Branco sem sustentação judicial que justificasse a extrema medida. Forjada nos Anos JK, perseguido pelo regime militar, a Panair pagou uma conta pesada demais.

Só o documentário “Panair do Brasil” (2008), de Marco Altberg, tentou pôr os pingos nos iis.

E, num trabalho arqueológico de pesquisa, resgatou imagens sensacionais de, por exemplo, os Lockheed L-049 Constellation da aérea em pleno voo – o avião foi idealizado pelo visionário Howard Hughes, que o grande público conhece pela atuação de Leonardo DiCaprio em “O Aviador“.

A Panair merece um museu só pra ela.

Circo midiático e os mineiros do Chile

Pelo menos 1,5 mil profissionais de 350 veículos globais estão credenciados para acompanhar o resgate dos 33 mineiros soterrados há mais de dois meses em Copiapó, no norte do Chile.

Texto da Columbia Journalism Review conclama os profissionais a refletirem sobre como não transformar a cobertura num grande circo midiático.

Difícil quando já se tem notícias de que os mineiros têm um pré-contrato para a divisão dos direitos sobre entrevistas, livros, filmes etc.

Filme de 1982 sugere ‘inovações’ ao jornalismo de hoje

Koyaanisqatsi, filme de 1982, é uma lição de colagem de imagens e edição de trilha sonora.

Muita coisa a se aproveitar no jornalismo, mas especialmente a câmera fixa, conceito antigo que consiste em monitorar por várias horas determinado lugar com a intenção de exibir transformações.

Insisto nisso como algo supermoderno.

Um mito do fotojornalismo desaparece

Capa memorável da revista National Geographic em 1985. A foto, de autoria Steve McCurry, foi feita com um Kodachrome

Capa memorável da revista National Geographic em 1985. A foto, de autoria Steve McCurry, foi feita com um Kodachrome

Quem é das antigas no fotojornalismo certamente vai ficar um pouco chocado ao saber que o Kodachrome, que acabou se tornando uma espécie de ícone do jornalismo visual, deixará de existir.

O filme cromo era o mais antigo produto fabricado pela Kodak, que anunciou nesta semana o fim da linha. Afinal, o Kodachrome respondia por apenas 1% do faturamento da empresa, hoje calcado (evidentemente) no mercado digital, que lhe fornece 70% de sua arrecadação.

“A preservação do Kodachrome é seu maior legado. Tenhos cromos tirados por meu avô nos anos 40 que estão perfeitos. Da maneira como o filme era processado, era praticamente um original eterno, que nunca desbota”, me disse Gustavo Roth, editor-adjunto de Fotografia da Folha de S.Paulo.

Lembrando que o cromo, ao contrário do filme, não permite correções durante a ampliação/revelação. Se errou na hora de fazer o clique, já era. É por isso que  acabou identificado com alguns dos maiores fotógrafos da história _particularmente, tive a oportunidade de manusear cromos no Diário do Grande ABC, que no início da década de 90 usava o processo.

Engraçado que trabalhos feitos com o filme são tema de exposição cuja abertura é hoje, em Washington.

Para os saudosistas, a Kodak conta, em seu blog corporativo, um pouco da história da película, com depoimentos, por exemplo, de Steve McCurry (autor da foto acima que compôs uma das maiores capas de revista de todos os tempos, ajudando a tornar o Kodachrome um mito).