Arquivo da tag: era da publicação pessoal

‘O jornalista está perdendo cada vez mais o valor’

Alfredo Relaño, diretor do diário esportivo AS, faz declarações importantes nesta entrevista ao povo de jornalismo da Universidade Europeia de Madri. Entre elas, que “o jornalista está perdendo cada vez mais valor”.

Essa é uma verdade irrefutável da profissão, mas que saída da boca de um veterano repórter, ganha outra conotação. O exemplo dele é direto: “No meu tempo tinha muito menos jornalistas. Num treino do Real Madrid éramos dois, hoje esse número pode chegar a 80”. A conclusão, inevitável: “Aumentou a distância entre o jornalista e o protagonista da notícia”.

Não peguei o tempo de dois (a não ser no Diário do Grande ABC, quando, entre outros, fui setorista de São Bernardo e São Caetano), mas fui bem anterior aos 80. Afora o processo de pasteurização da cobertura (e isso se aplica a todas as editorias, não só ao esporte), houve um distanciamento natural entre entrevistador e entrevistado por conta do próprio avanço tecnológico.

Hoje, todo mundo publica, e não precisa da mediação de um veículo jornalístico para dar seu recado.

Pressionado por policiais, blogueiro deleta posts

O autor de um blog na Inglaterra foi constrangido por dois policiais e acabou por deletar de sua página posts que acusavam o padre da cidade de antissemitismo. Rory Cellan-Jones conta a história na BBC.

Joseph Wiseman, autor do blog Seismic Shock, investia contra o vigário Stephen Sizer _segundo ele, o anglicano fazia sermões culpando Israel por crimes de guerra e sugeria até que empresas britânicas desfizessem parcerias com companhias israelenses.

Como parte dos textos eram postados dentro da Universidade de Leeds, onde Wiseman estuda, ele acabou rastreado. Foi investigado na instituição e, dias depois, recebeu a visita de uma dupla de policiais, quando resolveu apagar os posts. Ele não foi processado.

Efeitos colaterais por termos uma imprensa própria na era da publicação pessoal. Hoje, todo mundo publica. E está sujeito a ações (legais e ilegais, caso da inglesa) do tipo.

Duas coisas realmente novas no webjornalismo nacional

A home page da ESPN Brasil: a busca é a rainha

A home page da ESPN Brasil: a busca é a rainha

Tenho falado isso reiteradamente em aulas, palestras e eventos, mas só agora me dei conta de que nunca publiquei aqui: duas experiências ótimas que estão em curso em sites brasileiros e que, verdadeiramente, representam um oásis na paisagem de mesmice das páginas noticiosas da web nacional.

Foi minha colega Daniela Bertocchi quem me chamou a atenção, há meses, para essas “inovações” _as aspas se justificam porque não são grandes descobertas, mas em se tratando de Brasil, são boas iniciativas.

São duas home pages. A primeira, da ESPN Brasil, que conseguiu se livrar da amarra da página inicial manchetada e cheia de texto e, valorizando acima de tudo a busca _que é a forma como as pessoas navegam na internet, se você ainda não percebeu isso_, apresenta um visual limpo e, ao mesmo tempo, bastante gráfico (as chamadas são fotos, repare).

A outra coisa bacana, e que já está no ar há tempos, é a capa do caderno Link, de O Estado de S.Paulo, que destaca antes de qualquer outra notícia uma nuvem de tags _aqui questiono apenas a escolha das palavras-chave, uma das atribuições do jornalista atual, que poderia ser mais refinada.

Estes dois assuntos estiveram na pauta da visita que fiz, nesta semana, aos alunos do sexto semestre da PUC de Campinas, a convite do “duplo colega” (como ele bem próprio definiu) Edson Rossi, o professor da turma e comandante do Boeing chamado portal Terra.

Na visita, aconteceram algumas coisas extraordinárias.

Pela primeira vez fui confrontado, pelos estudantes, com textos que escrevi aqui no Webmanario. Isso deu um outro caminho à discussão que, como sempre, tratava da importância da conversação com o público para a manutenção de um jornalismo moderno e saudável.

Houve diálogo e troca de impressões e insights _exatamente como eu, e tanta gente, sugere ao ainda arrogante e retrógrado jornalismo profissional praticado hoje.

A conversa começou justamente exibindo a imagem de um ferido nos atentados de Madrid-2004 (como você pode conferir nos slides do papo) checando seu celular, a plataforma do presente (e do futuro) para quem, como a gente, trabalha com distribuição de conteúdo.

Falamos da crise dos jornais e de Alan Mutter, que detectou a “quebra” da circulação dos jornais quando a penetração de banda larga residencial num país atinge 30%, um assunto em que os alunos de Rossi mostraram estar bastante bem informados.

Foi mais uma chance incrível de trocar experiências.

Espero voltar em breve a Campinas e ao agradável campus da PUC.

A home do Link, canal (e caderno impresso) de tecnologia do Estadão: bom exemplo de navegação temática e comandada pelo público

A home do Link, canal (e caderno impresso) de tecnologia do Estadão: bom exemplo de navegação temática e comandada pelo público

Mais conversas sobre a publicação pessoal

Na sexta-feira encerrei mais um pequeno curso (uma conversa, na verdade) sobre a era da publicação pessoal para a 48ª turma de trainees da Folha de S.Paulo.

É um pessoal que me pareceu bastante ciente sobre os novos desafios que a tecnologia impôs à profissão.

Os slides da aula (agradecimento especial ao amigo Sérgio Lüdtke)

O roteiro de links

Depois de uma sessão mais teórica, na semana passada, desta vez nos agarramos a exemplos (bons e ruins) de conversação e abertura para participação do público no mainstream.

Delícia lembrar o dia em que a ex-plateia, revoltada com o descaso e a ineficiência do veículo que acompanhavam, deu o troco e fez uma grande organização pagar muito caro.

Ou ainda perceber que, na lógica das redes sociais, as pessoas vêm sempre antes das instituições (algo que já virou um corolário, né?).

Mais: que o Twitter, diferentemente de todas as outras mídias sociais, não é construído com base em relações de afetividade e amizade. Todo o oposto: seu inimigo pode estar seguindo você.

Enfim, temos muito a aprender.

A segunda queda de Dan Rather

Dan Rather, último âncora clássico da TV e primeiro jornalista a ser desmascarado pelo poder da publicação pessoal e da mobilização na internet, perdeu em primeira instância a causa milionária que movia contra seu empregador por mais de 50 anos, a rede CBS. Vai recorrer.

Ele é a pessoa por trás da reportagem de 2004, que dava conta de uma gazeteada do então garotão George Walker Bush no serviço militar. A matéria tinha por base memorandos de um superior do menino Bush condenando e, ao mesmo tempo, compreendendo a maracutaia.

Internautas comprovaram que os documentos, batidos a máquina, eram incompatível com os espaçamentos e entrelinhas existentes na época da suposta dispensa do exército do ex-presidente _que, daquela forma, se viu livre de combater no Vietnã.

Rather caiu em desgraça, ganhou um cargo figurativo como repórter investigativo que não tinha pautas e acabou se demitindo em 2006. À Justiça, pediu US$ 70 milhões de indenização da CBS por danos morais.

“Objetivamente, o caso acabou”, festejou Louis J. Briskman, o “advogado-geral” da emissora americana.

Rather já tinha acabado faz tempo.