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O exemplo de um jornalista de verdade

A primeira vez que fui a Santo André, em abril de 1992, foi para uma entrevista de emprego no Diário do Grande ABC, que viria a ser meu empregador pelos oito anos seguintes.

Ali pude conviver com Fausto Polesi, um dos fundadores do jornal, que morreu nesta semana aos 81 anos.

Não é preciso puxar pela memória para lembrar o quanto este homem, um jornalista de alma e corpo, valorizava um aspecto fundamental para o exercício da profissão: a independência.

Ex-presidente do clube de futebol da cidade, Polesi jamais me fez um pedido relacionado à cobertura do time nos cinco anos em que comandei a editoria de Esportes do jornal.

Nos anos 90, o Diário viveu sua época de ouro, abrigando uma geração brilhante de jornalistas como Vera Magalhães (hoje repórter especial da Folha de S.Paulo), Antonio Prada (diretor do portal Terra para a América Latina), Cuca Fromer (diretora editorial do Diário de Guarulhos), Edson Rossi (diretor de conteúdo da Elemídia) e Claudio Souza (editor de Carros do UOL) _paro por aqui apenas para não me alongar, a lista é extensa.

Dá muita saudade daquela redação. O jornal era respeitado, rivalizava com os “grandes da capital” em várias coberturas, tornou-se uma referência e atraiu vários talentos.

A propósito, aquela entrevista de emprego que introduziu o DGABC em minha história foi feita por Reinaldo Azevedo, outro que relata o compromisso incondicional do doutor Fausto (e seu indefectível terno branco) com a imparcialidade.

A paúra da entrevista

Minha temporada de bancas de TCC encerrou-se ontem, na Fiam (instituição pela qual, aliás, me formei em Jornalismo em 1992). Lá pelas tantas, no meio do debate, o jornalista e professor Edson Rossi pôs o dedo na ferida. “A universidade precisa perder a paúra da entrevista”.

Era um recado ao aluno que apresentava seu trabalho, pobre no quesito, mas também a todos os estudantes e faculdades que tentam preparar gente para esta profissão. As gerações que estão chegando, em parte por causa da benevolência da universidade, acham que a pesquisa substitui a conversa com pessoas.

Não, não substitui.

A pesquisa é um importante trabalho de produção antes da fase de conversas com entrevistados que podem elucidar um assunto, contar versões, analisar fatos, contextualizar notícias. E também depois, como complemento e elucidação do tema tratado. Ponto.

Agora tem um outro detalhe nessa história, que é o reverso da moeda: a supervalorização da entrevista, que desemboca no que conhecemos como “jornalismo declaratório”.

O fato de termos a obrigação de conversar com a maior quantidade possível de pessoas não significa que estas declarações precisem ser publicadas. A entrevista é, antes de tudo, um processo da apuração, uma forma de ficar por dentro das coisas, saber o que se passa.

As fontes nos dão informação, não frases. Em alguns casos, o uso de aspas numa reportagem se transforma apenas na válvula de escape para um texto pobre e vazio. Repare como isso é comum, por exemplo, no caderno de esportes. Frases e mais frases, uma pior do que a outra. Do tipo “queremos ganhar” ou “vamos conquistar os três pontos”. Absurdo.

Eu adoro matérias sem declarações. Significa que o texto foi burilado, e as aspas, compiladas, condensadas e transformadas em algo palatável.

Pena que ainda não encontramos o meio termo. Nas faculdades, fecham-se os olhos para a ausência de fontes por trás dos trabalhos dos alunos. Nos jornais, idem para o “aspismo juramentado”.

Mas quem disse que é fácil fazer jornalismo?

Projeto em Jornalismo Impresso I – Aula 11

Nesta sexta (14/11), os alunos do curso de Projeto em Jornalismo Impresso I conversarão com o jornalista Edson Rossi, que recentemente assumiu o cargo de diretor de conteúdo do portal Terra. O evento começa às 8h30.

O papo, é evidente, não tem como foco o jornalismo on-line, recém-abraçado por Rossi, mas sim sua vasta experiência como “revisteiro” _por anos, dirigiu (e levou ao topo) publicações da Editora Abril_ e também no jornal em papel.

Falaremos sobre o mercado editorial brasileiro e os desafios de quem, como os alunos, precisam lançar um novo produto nas bancas. Rossi, por sinal, participou diretamente do lançamento da revista Fut!, produto com ênfase em futebol internacional do jornal Lance.

Projeto em Jornalismo Impresso I – Aula nove

Nesta sexta-feira (24/10), a volta de quem não foi: após 15 dias de ausência física, nos revemos em carne e osso na nossa sala 103 às 8h para preparar a próxima _e não menos importante_ visita que receberemos em 14 de novembro: Edson Rossi, que comandou várias revistas da Abril e agora está à frente do lançamento de mais um produto impresso: a revista Fut!, da mesma editora do jornal Lance.

Em nossa aula desta semana vamos atualizar alguns números sobre o mercado de jornais e perspectivas para o futuro do negócio. Afinal, não sei se vocês perceberam, há uma crise econômica em curso _e certamente o comportamento dos leitores e os investimentos no setor sofrerão alterações.

Caberá a Rossi, em novembro, contar essa mesma história sob o ponto de vista de quem, exatamente neste momento de turbulência, colocou nas bancas um novo produto impresso.

Voltando ao nosso encontro de amanhã, será que os países emergentes terão fôlego para manter em alta a tiragem dos jornais? E os investimentos em jornalismo on-line, não tenderiam a ganhar com a crise por causa da própria plataforma, muito mais barata (lembrem-se que o processo industrial de um jornal, ou sua impressão e logística de distribuição, consomem pelo menos 40% do dinheiro disponível).

Hora de discutir também, com mais detalhe, nossas idéias para o produto impresso do semestre que vem. Temos três sugestões de noticiosos gerais, e cinco projetos segmentados. A coisa vai chegando ao seu final, hora pensar nas respostas às indagações sobre propósito/público/conteúdo/nome.

Enfim, ainda dará tempo de, como inspiração, avaliarmos a catastrófica “capa promocional” do Banco do Brasil que emprestou as primeiras páginas dos principais jornais brasileiros há 15 para, ainda por cima, cometer um erro de informação crasso em sua manchete fake fabricada por uma agências de publicidade.

Para quem ainda não terminou o livro “O Destino do Jornal”, última chamada: teremos uma aula inteira só para discuti-lo, e seu resumo será ainda o trabalho de final de semestre (com pelo menos 10 mil caracteres).

Até lá.