Na sexta-feira, revelei aqui que o governo brasileiro tem procurado a indústria editorial extremamente preocupado com a saúde financeira do setor – e que, na outra mão, empresas importantes “em estado pré-falimentar” (segundo emissário do próprio governo) acenaram pedindo socorro.
Num momento em que (ainda) se discute o controle social da mídia, bandeira do partido que governa o país há uma década, imaginar que o governo, e não a sociedade, ponha a mão no bolso para garantir a atividade jornalística não deixa de ser um paradoxo.
O Brasil já usou dinheiro público (e muito, quase R$ 38 bilhões em valores da época) para capitalizar mais de 70 instituições financeiras nos anos FHC, no programa que ficou mais conhecido pela sigla, Proer.
O BNDES (de onde sairia o eventual crédito agora) esteve metido no complicado processo de negociação da dívida que quase levou NET, Globo.com e Editora Globo à falência no início da década.
A grita foi grande, mas o banco público fez mais do que emprestar dinheiro à holding da família Marinho: tornou-se sócio de uma das empresas, o que se mostrou, anos depois, um péssimo negócio. A Editora Abril, para se livrar com vida da aventura da TVA, também foi assídua frequentadora dos corredores do banco.
Naquele momento, a mídia nacional já havia cortado 17 mil empregos e acumulava dívidas de R$ 10 bilhões. Consequência da farra do dólar e a desvalorização do real, que transformou compromissos contraídos na moeda americana em contas impossíveis de se pagar.
O debate de 2004 – ir ou não ir ao BNDES – pode estar se repetindo nove anos depois, e sem a desculpa do câmbio. O que é, certamente, muito mais grave.