Arquivo da tag: demissões

Demissões e qualidade devastada: um retrato do jornalismo

Por que as pessoas deixam de consumir conteúdo informativo dos produtos nos quais costumavam se informar?

O Pew fez essa pergunta nos EUA e chegou à conclusão de que um terço dos americanos abandona seu ex-veículo predileto porque ele se tornou incapaz de provê-lo com notícias e informação no mesmo nível que antes.

Sinal óbvio de que a desidratação, especialmente no jornalismo hardnews, é devastadora do ponto de vista da qualidade.

E agora, Buffet?

Depois de comprar 28 jornais nos últimos 15 meses nos Estados Unidos, o multimilionário Warren Buffet, em carta aos acionistas de sua empresa, diz que continuará a fazê-lo mesmo admitindo que “a circulação, faturamento publicitário e lucro do setor jornalístico como um todo estão destinados a cair”.

À parte o romântico “eu amo jornais” no texto, Buffet apresenta os reais motivos de seu investimento: a aposta na mídia regional, o bom e velho conceito hiperlocal que, dizemos há anos, parece ser de fato a saída mais interessante para um produto que perdeu a primazia de ser o arauto do noticiário.

“Se você deseja saber o que está acontecendo em sua cidade – notícias sobre o prefeito, impostos locais ou o resultado do time de futebol americano da escola secundária -, não há substituto para um jornal local que esteja fazendo bem o seu trabalho. Um leitor pode facilmente se entediar depois de ler dois parágrafos sobre as tarifas canadenses ou os desdobramentos políticos no Paquistão, mas uma reportagem que fale sobre ele e seus vizinhos será lida até o fim”, pontua a carta.

Porém Buffet não menciona um aspecto crucial (e óbvio) para se fazer “bem o seu trabalho” em jornalismo hiperlocal: é preciso jornalistas. Não há agências de notícias ou sites na internet cobrindo o time de várzea de seu bairro e oferecendo material pronto para republicação a respeito da quitanda da esquina.

Portanto, diferentemente do mau jornalismo de caráter nacional (onde cabeças são cortadas impiedosamente, e as redações se desidratam dia após dia), para apostar no hiperlocal é preciso contratar repórteres e editores.

Buffet irá na contramão do mercado?

 

EUA discutem ‘Ley de Medios’ ao contrário

Enquanto na Argentina a presidente Cristina Kirchner compra briga com os principais grupos de mídia e faz passar a Ley de Medios que, na prática, obriga essas empresas a se desfazerem de negócios, os EUA estudam relaxar norma de 30 anos atrás que previa a mesma coisa.

Evidente que, num cenário de fechamento de veículos e demissões em massa de jornalistas, restringir as operações em nome de uma suposta “diversidade de vozes” não parece ser um bom negócio – ao menos para os profissionais deste combalido ofício.

Não vou entrar no debate sobre o controle social da mídia porque você já conhece meu ponto – em nosso país, por exemplo, quem acena com esse tipo de dispositivo o faz com um único objetivo: domesticar a mídia e torná-la compulsoriamente um veículo oficial. Aí acaba a profissão como a conhecemos.

E a revisão nos jornais ainda resiste…

Incrível: só agora o Denver Post anunciou o fim de seu departamento de revisão.

E pensar que eu, quando comecei, lá pelos idos de 1990, já não havia mais revisão nos grandes jornais de São Paulo!

Foto da redação vazia no NYT: passaralho ou manipulação?

O The Nytpicker é um blog que sempre traz informações de insiders sobre o The New York Times, o jornal que todo mundo quer saber como funciona no duro _ou seja, nas internas.

A foto de uma redação vazia às 21h, que o blog tenta relacionar a mais um passaralho ocorrido recentemente no jornal, está provocando uma enorme polêmica por lá. Há quem diga que se trata da editoria de variedades, que não trabalha nesse horário.

Enfim…

‘Jornalcídio’ ameaça dedicação à profissão

Pelo menos 15 mil jornalistas já perderam o emprego neste ano nos EUA. A cifra está bastante próxima de igualar (ou até mesmo superar) o banho de sangue do ano passado, quando 16 mil colegas foram para o olho da rua.

Alan Mutter, autor de brilhante estudo que relaciona a penetração da banda larga residencial ao declínio das tiragens dos veículos impressos, faz uma reflexão não sobre quem já estava no mercado, mas que diz respeito a toda uma geração de jornalistas que está saindo das universidades e, agora, encontra muito mais dificuldades para começar na profissão numa única função _é a profusão de frilas substituindo o trabalho regular numa redação.

Para ele, a sociedade como um todo sentirá essa lacuna. “Essa perda”, diz ele, “privará, no futuro, os cidadãos dos insights que só podem ser entregues por profissionais que se dedicam a um trabalho”.