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Redes sociais e descompromisso com a acuração

A história que nos conta meu duplo colega Alvaro Liuzzi é frequente nas redes sociais: “informação” distribuída sem critério algum e que acaba virando verdade.

No caso, uma foto (abaixo) de Jorge Mario Bergoglio dando a comunhão ao ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla. Há um detalhe que salta aos olhos logo de cara: a idade dos personagens. Nos anos 70, o agora Papa Francisco tinha por volta de 40 anos – claramente o padre que aparece na imagem é uma figura mais velha (outra coisa, dar a hóstia é uma obrigação clerical, não?).

A apuração, até a descoberta da verdade, rolou pelo Twitter num interessante exemplo de “apuração distribuída” que Liuzzi trouxe a público.
Former Argentine military dictator Jorge

O organizador do caos informativo

A revelação de que quase 60% do tráfego de grandes sites noticiosos nos EUA provém de homepages e capas internas é uma forte evidência de que o critério jornalístico ganha, não perde, relevância quanto mais a tecnologia permite a todo mundo ser seu próprio editor.

A expertise jornalística na hierarquização e avaliação de notícias é algo que interessa e muito aos que estão envolvidos com a nova esfera pública de manifestação. Ainda que seja para discorrer negativamente em seus foros de discussão.

Nosso trabalho caminha celeremente nessa linha: um organizador do caos informativo.

Kony 2012: lições de uma manipulação grosseira

Não é possível que mais uma mobilização que tem a desinformação como mola-mestra na internet passe incólume. Sem deixar lições? Não pode.

Estou falando do viral Kony 2012, vídeo visto 100 milhões de vezes que reorganiza aleatoriamente e sem contextualização fatos ocorridos há mais de uma década em Uganda para fazer uma denúncia ainda válida: um criminoso está livre.

A ONG Crianças Invisíveis pretendia mostrar ao público as atrocidades de Joseph Kony, líder de um tal Exército de Resistência do Senhor – que cooptava crianças para sua guerra santa nas décadas de 80 e 90 e hoje está reduzido a um grupo de párias que não passa de 400 e não tem qualquer importância política ( as crianças que não morreram em combate já são adultos).

A trajetória de Kony mobilizou o mundo, e a ONG conseguiu arrecadar muito dinheiro com o buzz todo.

Tirando a desonestidade intelectual de se distorcer fatos, a entidade é muito séria e está na linha de frente de uma série de ações em prol das crianças africanas. Mas seu principal papel, de fato, é produzir vídeos que chamem a atenção para o problema, jamais resolvê-lo.

Ninguém deveria se sentir lesado pela campanha Kony, mas certamente é preciso parar para pensar de que forma nos engajamos em qualquer coisa que apareça on-line, sem o menor critério ou informação. Isso sim é gravíssimo e aponta para a existência de uma gigantesca massa de manobra altamente manipulável.

Pense nisso.

ATUALIZAÇÃO: Na Folha de S.Paulo de hoje, Nizan Guanaes fala do fenômeno Kony 2012 sob o ponto de vista da publicidade – um evidente case de sucesso.