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Como cobrir a crise econômica: os conselhos do Vaticano

Viram que o porta-voz do Vaticano (e pensar que todo aquele luxo começou com um reles presepinho…) deu conselhos aos jornalistas que cobrem a casa sobre como cobrir a crise econômica?

É assim: os jornalistas devem ter uma visão realista, mas o gancho da cobertura não pode “destruir a esperança das pessoas, mas ajudar a reconstrui-la”.

Ah, tá.

A retração dos jornais gratuitos

Acabou a sanha dos jornais gratuitos?

Pelo menos na Espanha, sim. Ali os diários distribuídos de graça têm perdido leitores de forma consistente, como na Dinamarca e na Holanda.

Tem sido assim no hemisfério norte, com exceções.

Um cenário esperado no contexto de uma economia dilapidada _os gratuitos, lembremos, sobrevivem exclusivamente de publicidade, mercado que se retrai automaticamente em momentos de crise.

O modelo de negócios é bom, mas precisa vir acompanhado de um país em que as oportunidades pululem. Tipo um gigante da América do Sul que conhecemos muito bem…

Datablog: uma base de dados colaborativa

datablog_guardianO Guardian tem um produto muito bacana, o Datablog.

A ideia é reunir, numa plataforma com ordem cronológica reversa e diálogo via comentários, toda quantidade de dados que possam ser úteis para a interpretação de uma notícia _papel que o jornalismo se atrasou em assumir.

Dados atualizados sobre a epidemia de gripe suína, o mercado global da pesca, as reservas de combustível, o tamanho do buraco na camada de ozônio…

É tudo open source, ou seja, pode ser copiado e aperfeiçoado pelos usuários, que por sua vez são convidados a compartilhar as descobertas que fizeram partindo do conteúdo postado no blog, gerenciado pela redação do jornal britânico.

Seu índice remissivo, porém, é pouco amigável e cumpridor de seu papel.

Mas já que o assunto são bases de dados, lembrei do jornal holandês NRC Handelsblad e seu ótimo mapa interativo da crise econômica. Tudo disposto de forma simples e bem rápida de achar.

São dois ótimos exemplos de boas respostas de jornais impressos às possibilidades da produção de conteúdo na web.

Feitos e vendidos por sem-teto, eis os jornais que dão certo nos EUA

Nos Estados Unidos, jornais produzidos e vendidos por sem-teto a US$ 1 viram suas tiragens crescer desde a eclosão da mais recente crise econômica mundial. O movimento vai na contramão do que experimenta a imprensa, digamos, formal.

A explicação, ao mesmo tempo trágica, é inspiradora: melhorou o nível cultural de colaboradores e vendedores do produto nas ruas (muitas vezes, a mesma pessoa). Claro, é cada vez maior a incidência de desempregados (e sem lar) com melhor formação educacional.

Esses novos excluídos, vítimas dos despejos que compõem o cenário da depressão mundial, vivem em albergues públicos (ou sob tendas em terrenos baldios) e tentam recolocação. Vários descobriram em veículos como Street Roots, de Portland, Real Change, de Seattle, e Street Sense, de Washington, uma possibilidade real de tentar voltar ao patamar de vida anterior.

Todos estes jornais funcionam como instituições sem fins lucrativos, por sinal uma das saídas consideradas viáveis para os jornalões nestes tempos bicudos. Como tal, essas entidades estão habilitadas a receber verbas públicas e doações _embora venha da venda nas ruas a maior parte de sua subsistência.

O New York Times conta que vários desses produtos marginais estão vendendo mais exemplares depois da crise. Sua pauta, bastante parecida, relata dificuldades do dia a dia em regiões metropolitanas de notável concentração de desempregados.

Eles investem no treinamento de vendedores que compram o jornal a 25 centavos de dólar e os repassam aos leitores por um preço quatro vezes maior.

São os únicos produtos jornalísticos impressos que aumentaram sua circulação até aqui, em 2009, nos EUA.

A cara da crise

Na foto vencedora, de Anthony Suau, um policial checa, após despejo nos EUA, se os moradores efetivamente deixaram a residência

Na foto vencedora, de Anthony Suau, um policial checa, após despejo nos EUA, se os moradores efetivamente deixaram a residência

Saíram os vencedores do World Press Photo 2008, o Oscar do fotojornalismo. A imagem ganhadora é um retrato da crise econômica que assusta o mundo.

Confira todos os vencedores.

Quem precisa ser salvo: o jornal ou o jornalismo?

A busca “save” + “journalism” + “newspapers” é o hype da nossa profissão. A mídia repercute o apelo de Walter Isaacson pela salvação dos jornais americanos publicado na Time e também no Huffington Post, belíssimo exemplo de mídia independente nascida na Internet e que ajudou a confrontar o monopólio da imprensa em papel (note a “sutil” diferença entre os títulos do artigo numa e noutra publicação).

O próprio HuffPo, em outro texto bastante lúcido, pontua corretamente que quem precisa ser salvo são os jornais, não o jornalismo. O advento da tecnologia e novas mídias, pelo contrário, só trouxe benefícios à função de apurar/filtrar/difundir notícias.

De novo, e para não perdermos o foco, esse cenário de guerra todo diz respeito, no momento, a Estados Unidos e alguns países europeus, notadamente os mais desenvolvidos. Em Londres, o Times acaba de promover um passaralho. Na Espanha, jornais gratuitos (um sucesso nas ruas, mas um fracasso comercial) fecham as portas.

No Brasil (assim como em outros países emergentes), ainda há bastante espaço para o jornalismo impresso crescer. Milhões de pessoas atravessaram há pouco a linha da pobreza e, certamente, ainda haverá mercado (arrisco a dizer por décadas) para esse tipo de produto.

É por isso, talvez, que por aqui a discussão sobre o fim do jornal impresso ainda seja tão incipiente. Nossos veículos se escoram em pequenas vitórias _como uma desaceleração menor do que a esperada no faturamento, por exemplo_ para justificar o adiamento do debate.

A crise econômica chega ao jornalismo

A crise econômica bateu à porta da indústria jornalística, como era de se esperar. No exterior, num cenário em que cortes de pessoal (os famosos passaralhos) já vinham acontecendo nos Estados Unidos, a agência de notícias Associated Press, a mais antiga do mundo (tem 162 anos), anunciou um corte de 10% em suas redações.

A AP abriga mais de 4 mil jornalistas (entre editores, repórteres e fotógrafos). A medida de contenção de despesas, portanto, deverá atingir pelo menos 400 deles. Em 2008, a empresa já tinha adotado a estratégia de congelar vagas. Não resolveu.

O problema de uma agência deste porte balançar é que suas matérias ajudar a encher páginas e mais páginas de pequenos jornais espalhados pelo mundo. Com menos material sendo produzido via agências, naturalmente o caminho destes veículos é diminuir de tamanho _e dispensar mais gente, num trágico efeito dominó.

No Brasil, os principais meios de comunicação ainda não partiram para as demissões coletivas como forma de encarar a provável redução de faturamento. Por ora, o que tem acontecido é um recrudescimento da fiscalização rigorosa sobre os gastos da redação, como viagens ou uso de veículos. Espera-se mais.