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Jornalismo sem jornalistas

O polêmico Jorge Lanata, um Michael Moore do jornalismo, conduziu há dias um bom programa sobre o ofício na era dos governos “progressistas”. Ele é o titular do programa de TV que, além de pedra nos sapatos da presidenta Cristina, já bateu em audiência até clássicos de futebol (programados para o mesmo horário por ordem de… Cristina).

“Só percebemos o que é a liberdade de expressão quando a perdemos”, diz Lanata.

O assunto, claro, é a Ley de Medios, o “controle social da mídia” que nossos vizinhos põem em marcha. E que admitimos debater no Brasil.

A partir de uma declaração da presidenta numa videoconferência que marcou a incorporação de um canal de TV russo (!!!) à grade da TV argentina, o programa discute o “jornalismo sem jornalistas”.

Daí aparece uma atriz representando a mandatária e põe tudo a perder. Como fica a discussão e a apuração jornalística ao lado dessa pantomima?

África do Sul torna crime jornalismo investigativo

Reproduzo matéria publicada ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

Preocupante, mas distante do tal “controle social da mídia” que, sabiamente, a presidente Dilma Rousseff engavetou em nosso país.

“O Parlamento da África do Sul deixou de lado objeções de líderes históricos da luta contra o apartheid e aprovou ontem, com maioria esmagadora, uma nova lei de sigilo que, segundo críticos, foi elaborada para proteger a elite corrupta do país do jornalismo investigativo. A nova legislação determina, por exemplo, pena de até 25 anos de prisão aos responsáveis pela publicação de informações de Estado consideradas sigilosas.

O partido governista Congresso Nacional Africano (CNA) usou sua maioria para garantir a aprovação por 229 votos a favor e 107 contra. Opositores da Lei de Proteção da Informação afirmaram que tentarão derrubá-la na Corte Constitucional, assim que o presidente Jacob Zuma sancionar o texto, como é esperado.

O críticos da nova lei, entre eles Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu, batizaram a sessão parlamentar de ontem de “terça-feira das trevas”, em alusão a uma lei similar contra a liberdade de imprensa aprovada nos anos 70, sob o apartheid.

Tutu, que recebeu o Nobel da Paz em 1984 por seu papel decisivo na luta contra a segregação racial, afirmou que, para os sul-africanos, “é vergonhoso pedir que aceitem uma lei que pode ser usada para tornar ilegais as denúncias e o jornalismo investigativo”.

Autorregulamentação, uma saída para melhorar os jornais

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) aprovou a adoção, por seus filiados, de uma série de medidas que ajudarão _e muito_ os veículos a se aproximarem mais de sua audiência (e, principalmente, se tornarem mais transparentes).

Medidas como a instituição do cargo de ombudsman (só Folha de S.Paulo e O Povo possuem essa figura importante para criar atalhos entre redação e leitores, além de importante filtro de controle de qualidade dos jornais).

A ANJ estabeleceu um prazo para que essas recomendações (entre elas, a criação de um espaço fixo com correções de reportagens, coisa que incrivelmente, entre os grandes, só a Folha possui) sejam adotadas.

Apesar de ter sido uma reação à ameaça do “controle social da mídia”, balela introduzida na agenda no governo Lula e que Dilma Rousseff deixou adormecer, se cumpridas, as medidas ajudarão a melhorar bastante a combalida qualidade de nossas publicações.

Fiscalize a consulta pública sobre o marco regulatório da internet

Está aberta até o dia 23 a consulta pública sobre o Marco Civil Regulatório da internet no Brasil.

Importante a participação de todo mundo que usa a rede. Afinal de contas, são essas propostas que ajudarão a definir as “regras propostas para garantir direitos, determinar responsabilidades e orientar a atuação do Estado no desenvolvimento da rede mundial de computadores”, como diz o site da iniciativa.

Vem muita polêmica por aí e, como no geral esse tipo de consulta é dominada por movimentos alinhados ao atual governo, proposições absurdas de controle de conteúdo e vigilância “social” da mídia certamente entrarão de contrabando, ajudando a tornar a consulta, em princípio séria e fundamental, numa comédia pastelão.

Mais do que participar, vamos fiscalizar e denunciar a sanha de pessoas que querem limitar nossa profissão, esquecendo-se que ela já está sujeita às penas prevista pela legislação penal e cível.

Comentário de leitor vira pretexto para controle da web na Venezuela

A censura cibernética, com um batalhão de “espiões” que perscrutam a web e eliminam ou bloqueiam conteúdo indesejado (como ocorre na China e no Irã), não parece ser suficiente para ameaçar a liberdade na internet.

Na Venezuela, país há muito afastado dos princípios democráticos, um comentário de leitor num portal de notícias foi usado como pretexto para a criação de uma comissão para controlar a web.

“Os meios de comunicação devem contribuir para a formação do cidadão e paz pública” é o trecho da Constituição citado pela Câmara para justificar a decisão.

O pepino foi a publicação da (falsa) informação da morte do ministro de Obras Públicas e Habitação, Diosdado Cabello, e do apresentador de TV Mario Silva. Tudo numa caixa de comentários que, algum tempo depois, foi moderada _a mensagem foi excluída, e seu autor suspenso permanentemente.

Subjetiva, a decisão do Parlamento fala em “punir quem não cumpra a lei”, e pede que se investigue os sites que usem de forma “indevida e antiética” a web.

Mais um passo para ameaçar a liberdade de expressão.

Uma aberração chamada Confecom

Felizmente as deliberações da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que termina hoje, em Brasília, não têm qualquer efeito prático _ servirão apenas como “sugestões” ao governo, empenhado em mudar o marco regulatório do setor (a seu favor, diga-se de passagem).

Há tantas bobagens entre as 6.094 sugestões debatidas que nem mesmo a internet suportaria a íntegra. Coisas do naipe da “criação do tribunal da mídia para julgar a impunidade dos crimes cometidos pelos oligopólios”, “coibir a exploração fantástica, principalmente, de fatos trágicos” ou ainda “que nas faculdades de jornalismo hajam conteúdos específicos ao chamado jornalismo social, para capacitar os profissional de comunicação a entender e transmitir o sentido das problemáticas sociais que vivemos”.

Tenho certeza que o documento final da conferência deve limpar em boa parte essa coleção de asneiras (pra não ficar tão feio). Mas é importante saber em que nivel anda o debate sobre a nossa profissão: escoando pelo ralo e capitaneado por entidades financiadas pelo governo arrotando regras que, fosse em outra situação política, seriam taxadas de autoritárias e descabidas.

Não reconheço nessas pessoas (há exceções, claro) autoridade para debater o tema. Pior, para politizá-lo. Muito triste.

Antes que eu profira palavrões, encerro o texto endossando as palavras de Paulo Tonet, da ANJ (Associação Nacional de Jornais), para quem o controle social da mídia já existe: “É o controle remoto e o jornal na banca. Fora disso é censura”.

ATUALIZAÇÃO: A Confecom terminou com a aprovação de 672 propostas. Não é possível que alguma não seja imprestável.