O dia 5 de outubro também tem, a exemplo do Brasil, uma importância histórica para os chilenos (país onde estou desde hoje, e até o dia 9, antes de seguir viagem a Buenos Aires). Prometi que ia falar um pouco mais de jornalismo e comunicação nos tempos de Internet nestes países, né? Então lá vamos nós.
Amanhã completam-se 20 anos que o povo do Chile deu um rotundo não à ditadura do general Augusto Pinochet, que governava o país com mãos de ferro desde 1973 à custa de muito sangue e da morte do presidente legalmente constituído, Salvador Allende _para nós, a data marca os 20 anos da promulgação da atual Constituição (motivo de orgulho ou de muxoxo? Sei não…)
Pois bem: a política ainda é um tema tabu no Chile. Basta virar os olhos para a blogosfera. O maior diretório de blogs do país apertado entre o Pacífico e os Andes não aponta uma única bitácora sobre o tema (nem o blog jornalístico mais engajado, o Cuarto Poder, parece se ocupar como deveria do tema). Estranho, não? Nem tanto, ainda mais se levarmos em conta que, desde Pinochet, política é um assunto resolvido para os chilenos.
Resolvido graças à Concertación, aliança de centro-esquerda criada para enfrentar a ditadura e que, desde o citado plebiscito de 1988 (que negou a Pinochet a possibilidade de permanecer no poder, propiciando eleições livres), ganhou absolutamente todas as disputas eleitorais (dos concejales _os vereadores deles_ à presidência).
Até hoje, escreve o diário local La Tercera neste sábado, o plebiscito influencia o comportamento do eleitor chileno. Aqui, a questão segue sendo dizer apenas “sim ou não”. E os candidatos da Concertación têm recebido o polegar afirmativo há duas décadas, numa letargia de discussão de propostas que desemboca na mais modorrenta previsibilidade eleitoral.
Mais triste para a oposição (e este blog, que parece saído da década de 70, revela bem esse sentimento) é a
constatação de que os sucessores de Pinochet seguiram ipsis litteris sua cartilha na condução da economia, para alguns estudiosos um ponto fundamental no salto qualitativo que deve levar a nação ao Primeiro Mundo em mais uma década, quando o plebiscito que sacou o general completará 30 anos e, provavelmente, a dominação da Concertación também.