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Precisamos falar de propósito

Pra minha geração propósito profissional certamente passava pela construção de uma carreira longa e estável (no setor privado ou público) com o objetivo de deixar o quanto antes a casa dos pais e acumular riqueza para garantir o futuro – por futuro leia-se uma combinação dos termos “poupança”, “fundo de garantia” e “casa própria”.

Isso certamente significava concordar com uma série de códigos que, vistos pela perspectiva de hoje, seriam gatilhos fáceis de evasão no mundo corporativo. Hoje as pessoas falam não e recusam imposições no ambiente de trabalho com muito mais facilidade do que fazíamos – e você não sabe como fico feliz com isso.

É preciso contextualizar: sou de 1969, nascido dois dias após a internet – a primeira conexão entre computadores, lado a lado, é de 29 de outubro daquele ano. Fora o telefone, os únicos comunicadores a distância que conhecia ao iniciar minha aventura no mundo do trabalho eram as ondas curtas (a internet do meu tempo) e o walkietalkie (esse com um alcance bem limitado, a metros).

Compreensível, portanto, o zelo do patronato da época com o presenteísmo, aquele fenômeno que exige sua presença física ainda que as tarefas possam ser desenvolvidas com mais eficiência em outras circunstâncias – nunca é demais lembrar da cultura da interrupção e seu efeito devastador para a produtividade humana.

Mas não é só isso. Propósito profissional, diferentemente do entendimento de quando tive de construir essa estrada, agora está diretamente associado ao propósito pessoal. Essa foi a principal transformação. Houve atalhos, é verdade – agradeça à globalização, que diminuiu as distâncias do mundo e nos deu acesso a oportunidades de migração e empregos locais antes inimagináveis.

Para contextualizar de novo, ir para o exterior não era uma opção – ou melhor, era, mas só pra gente muito abastada. Ou então pros meus colegas religiosos do Batista Brasileiro, fundado por americanos e com ligações muito fortes com aquele país. Eu não era batista e sei como temporadas fora do Brasil transformaram culturalmente esses colegas.

Com nobres exceções, minha geração também não entendia muito bem o conceito de doação. Principalmente a de tempo, hoje uma das moedas mais importantes para as corporações quando estão recrutando profissionais. Doar era um ato, não uma atitude. E ainda por cima reservado a missionários.

Do ponto de vista de RH, não havia outra via possível: éramos todos tratados de forma homogênea, sem personalidade. Demonstrar a personalidade era um incômodo, queria-se gerenciar iguais. E aceitávamos bovinamente. Desculpe, não fiz por mal.

O conceito atual de propósito permite fazer uma provocação que, na minha máquina do tempo, não faria qualquer sentido: ganhar mais significa ter mais dinheiro no bolso?

Propósito não é sobre dinheiro. É sobre você.

O jornalismo no Guia do Estudante

Nunca tinha pensado nisso, mas outro dia resolvi conferir o que diz o Guia do Estudante (talvez a principal publicação brasileira sobre carreira) sobre a nossa profissão.

Importante: estão lá nossos sucateados pisos salariais, que é pra ninguém dizer depois que não sabia.

De resto, bem… dá uma olhada aí.

E ainda tem muita gente que quer ser jornalista

Ainda ontem nos perguntávamos se você gostaria que seu filho fosse jornalista, e agora me deparo com a relação candidato/vaga na Fuvest.

Com tudo o que está ocorrendo com a profissão, jornalismo ainda é a sexta carreira mais disputada no principal vestibular do país _ são quase 40 postulantes para cada vaga.

Como recuperar a ilusão de querer ser jornalista?

Ser jornalista é diferente de estudar jornalismo. Vem antes, quase nasce com a gente.

A frase “pra você, de quem todo mundo ri quando diz que quer ser jornalista” é o ponto de partida de uma experiência interessante do coletivo espanhol 1001medios _encontrado, como sempre, pelo solerte Gerardo Albarrán e o seu Sala de Prensa.

Dez jornalistas relembram seu começo (conversas com os pais na hora de decidir a carreira, por exemplo) e falam sobre a paixão que move quem se dispõe a trabalhar nisso.

Aos 21 anos de profissão, não me arrependo de nada. Queria fazer isso desde muito novo (não desde sempre).

A verdade é que tive o que mereci.

Como se procurava emprego numa redação em 1965

Um achado: como se procurava emprego em jornalismo em 1965. Tem de olhar com calma porque se trata de uma espécie de “guia do estudante” norte-americano que tem muita bobagem _e muita coisa datada também. Uma megadescoberta.

‘Jornalcídio’ ameaça dedicação à profissão

Pelo menos 15 mil jornalistas já perderam o emprego neste ano nos EUA. A cifra está bastante próxima de igualar (ou até mesmo superar) o banho de sangue do ano passado, quando 16 mil colegas foram para o olho da rua.

Alan Mutter, autor de brilhante estudo que relaciona a penetração da banda larga residencial ao declínio das tiragens dos veículos impressos, faz uma reflexão não sobre quem já estava no mercado, mas que diz respeito a toda uma geração de jornalistas que está saindo das universidades e, agora, encontra muito mais dificuldades para começar na profissão numa única função _é a profusão de frilas substituindo o trabalho regular numa redação.

Para ele, a sociedade como um todo sentirá essa lacuna. “Essa perda”, diz ele, “privará, no futuro, os cidadãos dos insights que só podem ser entregues por profissionais que se dedicam a um trabalho”.