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Internet, velocidade e controles de qualidade

A internet não será um bom lugar para praticar o jornalismo até que existam controles editorais de qualidade.

O debate entre David Simon e Aaron Sorkin, roteiristas de séries e filmes de sucessos como The Wire ou A Rede Social, foi um dos pontos altos da semana passada em Cannes (a cidade francesa abrigou mais uma edição do festival de criação publicitária).

A conversa era sobre produção de conteúdo e, tenho de deixar claro, discordo da sentença que abre este texto, citada no papo.

Não existe lugar bom ou ruim para praticar o jornalismo, ele está posto, e em todas as fronteiras.

Simon (ex-jornalista) foi o mais crítico de todos à velocidade de ferramentas como o Twitter _hoje absolutamente dominados pelo jornalismo. Ele pediu mais critérios e profundidade.

É, aquele velho problema da superficialidade e rapidez. Mas jornais impressos têm o timing de 24 horas e estão forrados de erros e informação ligeira (também faço um e sei do que falo).

Talvez a maior curiosidade da conversa tenha sido Sorkin revelar que tinha ouvido falar do Facebook “como sabia sobre um carburador” antes de adaptar o roteiro que ganharia o Oscar.

Ah, e Piers Morgan absolutamente deslumbrado com o poder de drive de audiência (para a TV) que o microblog possui.

A arte de enganar os outros

Engraçado _e absolutamente correto_ como o jornalismo caga e anda para esse mundinho da publicidade.

Brasileiros ganharam o Leão de Ouro em Cannes, como sempre (e são vários desde que me conheço por gente), e não se nota nos jornalões uma cobertura consistente da atividade de dourar a pílula _sim, publicidade é o oposto do que eu sempre quis fazer, e creio hoje fazer.

Pra mim, publicidade é tudo aquilo que aparece pra roubar espaço e tempo, utilizando mentiras e estratégias de enganação mil.

Impossível não lembrar do filme  “A Primeira Página“, quando o experiente repórter casa com a filha do dono da bem-sucedida agência de publicidade e muda de lado. “Vai lá fazer poeminhas pra lingerie e sabonete, seu maricas”, provocam os colegas na redação.

Quando ganhamos um Leão de Ouro, significa que fomos melhores na arte de engabelar alguém.

Já que há de engabelar (seria ridículo discursar contra a publicidade e seus métodos), ninguém segura esse país.

ATUALIZAÇÃO: Sérgio Lüdtke, no Interatores, analisa publicidade e jornalismo por outro ângulo, bem menos severo do que o meu. Muito interessante.