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A redação e a cultura da interrupção

Se há uma coisa que o avanço tecnológico fez pelo jornalismo, com tantos dispositivos de conexão instantânea (e ainda contando), foi dispensar a presença física do jornalista num ambiente que comumente chamamos de redação.

É verdade, o jornalismo é uma obra coletiva e, para tal, torna-se essencial trocar insights, informações e impressões o tempo todo. Mas isso não precisa necessariamente ser feito cara a cara – as reuniões de pauta, por exemplo, são facilmente substituídas por conferências no Skype.

É uma pena que grande parte dos nossos gestores ainda não entenda assim, colocando o presenteísmo como uma virtude essencial ao trabalho jornalístico – não importa o que você esteja fazendo, se é que está fazendo, mas quero vê-lo perto de mim o tempo todo. Em alguns casos a presença física chega a ter mais valor do que a produtividade.

O empreendedor Jason Fried cunhou a expressão definitiva para explicar porque é impossível trabalhar em antiquados ambientes de trabalho como nossas redações. Nelas, impera a cultura da interrupção. O tempo todo somos distraídos por brincadeiras de colegas, telefonemas, reuniões inúteis, ruídos e conversas fora de contexto.

Locais de trabalho assim podem ser adequados a um monte de coisas, menos a trabalhar.

É por isso que o presenteísmo, numa atividade intelectual, não necessariamente significa melhores pautas ou reportagens. É o tipo de tarefa que exige concentração e, principalmente, continuidade. Mas não, adoramos interromper. O tempo todo.

Será que um dia isso muda? Aí sim o avanço tecnológico terá completado seu legado de melhorias na profissão.

O jornalismo cidadão não morreu

A academia trocou o estudo do jornalismo cidadão pelo de mídias sociais (onde as pessoas também fazem jornalismo cidadão), mas isso não significa que a participação do público no processo de apuração, análise e difusão de notícias tenha entrado em declínio.

Trabalho recente do Open Society Media Program, a cargo da pesquisadora Nadine Jurrat, reforça o papel de democratização que  meio digital e avanço tecnológico  vêm jogando atualmente.

Mapping Digital Media: Citizen Journalism and the Internet.

Por onde anda o primeiro cyborg de verdade?


Professor de cibernética, Kevin Warwick tornou-se o primeiro “cyborg” ao instalar um microchip em seu próprio corpo em 1998. Agora, a revista Time revisitou o professor e mostra a quantas andam os seus experimentos.

Livro analisa mudanças que a tecnologia impôs ao jornalismo

Numa era em que o avanço tecnológico deu uma imprensa particular para cada um, é impossível falar de jornalismo on-line sem abordar a participação do público.

O fim da fronteira entre mídia formal e a ex-plateia, como muito bem teorizou Jay Rosen (professor da Universidade de Nova York), é apenas um dos aspectos que a jornalista Magaly Prado aborda no livro “Webjornalismo”, lançado nesta semana pela Editora LTC.

Apesar de muitos jornalistas não terem percebido que seu trabalho mudou com a vida em rede, é óbvio que instâncias pessoais de manifestação (como os blogs) e a capacidade de vigilância e mobilização que a internet proporcionou às pessoas tornaram o fazer jornalístico um exercício de conversação.

Vivemos a época dos “‘produsers” _o termo é uma junção de produtor e usuário e foi cunhado em 2005 por Axel Bruns, autor de uma obra importantíssima para se compreender a transformação da profissão, “Gatewatching”, jamais traduzida para o português.

Com proposta didática e voltada para a sala de aula, Magaly discorre sobre essa nova e auspiciosa fase do jornalismo profissional, agora tocado a muitas mãos.

Mas é claro que a internet, onde a colaboração entre profissionais e amadores é muito mais evidente, também abriga práticas de jornalismo, digamos, tradicionais.

Com linguagem fácil e fragmentada (às vezes, fragmentada até demais), Magaly aponta boas práticas, mostra caminhos adotados no país e no exterior e, por meio de depoimentos de importantes profissionais da web brasileira (algumas vezes sem edição e publicados na íntegra), refaz a trajetória da plataforma desde 1995, quando desembarcou comercialmente por aqui.

Com cerca de 150 imagens, quase todas impressões de tela, o livro de Magaly também discorre sobre a chegada do iPad e sua influência na produção de conteúdo.

Ainda faltam, em português, obras que consigam abarcar toda a complexidade que a rede trouxe para o jornalismo. Mais difícil ainda é resumir, em papel, as vastas possibilidades do meio on-line nesta profissão tão antiga. O livro de Magaly é, nesse aspecto, uma boa tentativa.

WEBJORNALISMO
AUTORA Magaly Prado
EDITORA LTC
QUANTO R$ 40 (272 págs.)

(resenha que publiquei na edição de sábado da Folha de S.Paulo)

Há vida fora da redação

Eu costumo dizer que se no meu tempo houvesse as armas tecnológicas de hoje, que nos deram uma capacidade de difusão de informação praticamente no mesmo patamar das corporações jornalísticas pré-estabelecidas, jamais teria ido parar numa redação.

Paul Bradshaw cristaliza isso ao sugerir que os novos jornalistas não devem esperar uma oportunidade, mas criar as suas.

Submeter-se a um grupo crítico e de confiança (seus nós numa rede social, por exemplo) colabora bastante com o progresso profissional.

Hoje a imprensa somos nós, qualquer um publica.

Mas somos o que opinamos e divulgamos.

Resumo: o conteúdo ainda é o que vale.

Dentro ou fora do mainstream.

Finalmente uma guerra que vale a pena

Finalmente o exército dos Estados Unidos entrou numa guerra que vale a pena: a guerra contra o uso indiscriminado de apresentações de Power Point.

Transposta para a nossa realidade (compreensão do futuro do jornalismo e o que fazer com ele na era da publicação pessoal), é uma briga bastante boa de se comprar. Também em nossa área há uma disseminação de diagramas que, muitas vezes, nada significam.

Tudo começou com o slide acima, que gerou comentário hilário de um general (“Quando nós entendermos esse slide, vamos ganhar a guerra”).

A verdade é que o general está certo. Os problemas do exército dos EUA, assim como as questões que nós jornalistas enfrentamos diariamente no desafio de desbravar uma profissão moldada pelo avanço tecnológico, não são todos explicáveis por meio de apresentações.

Lá, em algumas unidades o exército já barrou o uso desse recurso, considerando que eles nos torna “mais estúpidos”.

A refletir.

Índios mapuches fazem seu próprio jornalismo no Chile

Jornalismo hiperlocal. Para uma comunidade específica. Falando inclusive em sua própria língua.

É a proposta do Azkintuwe, o jornal/site/agência de notícias da comunidade Mapuche, o principal povo indígena do Chile.

Para ver e aprender.

Entendendo o ‘RT’: a distribuição de notícias nas redes sociais

O uso informacional das redes sociais (que a mídia parece ter descoberto só agora, e só com o Twitter, depois que foi atropelada e “furada” por personagens do noticiário) é um dos aspectos mais importantes de mudanças no exercício do jornalismo precipitadas pelo avanço tecnológico.

Raquel Recuero, pesquisadora brasileira mais plugada nessas modificações, traça uma ótima relação de hipóteses sobre a propagação de informação via sites desde Orkut/Facebook até o próprio messenger, sistema limitado porém eficiente de distribuição de informação.

Para jornalistas e empresas jornalísticas pensarem um pouco mais sobre a qualidade de sua atuação on-line.

Lembrando, como eu digo sempre, que uma coisa é presença, outra é atuação. Não basta criar perfis (muito menos alimentados por feeds), há que se gerenciar comunidades.

A notícia sou eu

O episódio da demissão de Vanderlei Luxemburgo do Palmeiras mais uma vez exibiu um aspecto importante do avanço tecnológico que provocou mudanças profundas no exercício do jornalismo.

É, talvez, a principal consequência da era da conversação e da publicação pessoal: cada cidadão possui, agora, sua própria imprensa. E pode se dirigir ao público sem a necessidade de utilizar a imprensa como filtro dos acontecimentos.

Foi assim com o ex-treinador do Palmeiras: à 0h44 de sexta para sábado, ele decidiu tornar a dispensa pública num canal pessoal (no caso, seu blog) _pouco depois, recorreu também ao microblog para dar a mesma informação.

A partir daí, foi a imprensa, vendida, quem saiu correndo atrás da bombástica informação.

Só para se lembrar que hoje não possui mais o monopólio sobre a notícia.

A tecnologia avança, mas sempre haverá um ser humano

A sanha da criação de mashups (junção entre dados originados em softwares para dar origem a outro, com viés analítico) tem seus poréns. Ou será que vc nunca viu uma mapa do estado norte-americano da Geórgia onde deveria estar o do país homônimo numa nota da AP ou da Reuters?

Automatismos são benéficos, mas ao mesmo tempo podem ser catastróficos para o jornalismo. Lembrem-se do #completeog1, movimento de leitores que desmascarou o microblog do portal de notícias de Globo _ele tinha erro de programação e interrompia, frequentemente, os títulos enviados via Twitter.

A professora Amy Gahran, a dama da persuasão, conta uma história legal detectada pelo Los Angeles Times (que outro dia @tdoria veio me dizer que é “ruim” _conceito absolutamente pessoal e intransferível): um erro num mapa de criminalidade gerado automaticamente estava bombando crimes em regiões onde eles não haviam ocorrido.

O lance era o seguinte: o mashup criado pela LAPD (a polícia local), sempre que não identificava um endereço, jogava a ocorrência do crime para um ponto default do mapa, criando uma aberração estatística.

Serve para a gente ficar atento que não, os dados gerados automaticamente também não possuem confiabilidade até que possamos atestar que estão corretos. Ou seja: sempre haverá um ser humano por trás.