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Nossas matérias ainda são longas demais?

Outro dia contamos aqui que a quantidade de reportagens de mais de 2.000 palavras despencou 86% no Los Angeles Times.

Há, ainda, gente que considere isso pouco. Ou melhor, que aponte que persiste nos jornais a cultura da matéria longa.

O motivo, explica Alan Mutter, é que não usamos os complementos que a tecnologia nos deu, como infográficos e vídeos, para contar as histórias melhor e de maneira mais prática.

Faz sentido.

Banda larga residencial, uma ameaça aos jornais impressos

E atenção: turbinada pelo governo Dilma Rousseff, a penetração de banda larga residencial chegou a 40% dos domicílios do país.

Isso significa que ultrapassamos com sobras o cabalístico número de Alan Mutter, que relacionou a queda inexorável da circulação de jornais a uma penetração de banda larga superior a 30%.

Interessante lembrar que Dilma começou seu governo com 27% dos brasileiros dispondo do serviço.

Mas e então, será que agora sim nossos jornais estão fadados aos caixão? Muita calma nessa hora: o que o estudo de Mutter certamente não levou em consideração – por óbvio que deveria ser – é a velocidade da banda.

A nossa, é certo e sabido, muitas vezes oferece tanto ou menos que a boa e velha conexão discada, por mais incrível que possa parecer. Logo, aqui cabe observar o cenário dos próximos meses.

Design de notícias e o declínio do jornalismo impresso

O veterano jornalista Alan Mutter (que se autointitula newsosaur _na minha tradução, “noticiossauro”) faz uma observação interessante: em 1995, a Society of News Design destacava 12 jornais americanos entre os melhor diagramados e com visual eficiente no mundo. Em 2010, não havia mais nenhum.

Mais: desde 2000, só três publicações impressas norte-americanas ganharam o prêmio principal da entidade que reconhece a excelência no design de notícias e no jornalismo visual _porque não dizer, também na usabilidade, que não é um conceito restrito a produtos on-line (facilitar a tarefa do leitor é um problema de todos nós, em rede ou off-line).

E daí? E daí que “um bom design é mais do que um simples doce para o leitor”, diz Mutter. Ele aponta essa crise (mais uma) na indústria do impresso como outro motivo para o declínio alarmante das circulações no hemisfério Norte.

O bom design é bom para o leitor e para os negócios, finaliza Mutter, que posta uma interessante palestra do designer Jacek Utko, um dos paladinos da ideia de que arquitetura da informação e desenho de notícias podem, efetivamente, colaborar com a modernização (e perpetuação) do produto impresso.

Em tempo: Mutter é o autor da “regra dos 30%”, uma das constatações mais interessantes sobre papel e on-line e que relaciona o declínio das circulações ao momento em que o acesso à banda larga residencial chega a 30% da população de um país. Não foi desmentida até agora, com exceção do Japão, que é exceção para tudo.

Nem deciframos a web, vêm os aplicativos…

Falava em sala de aula na semana passada que nós, jornalistas, nem sequer aprendemos a exibir nossa produção na web e já aparece outra coisa, o aplicativo para dispositivo móvel, mais um lugar em que definitivamente o jornalismo precisa estar.

No mesmo dia, Alan Mutter (nosso velho conhecido) escrevia sobre o tema com uma detecção que me parece real: os jornais começaram ocupando muito mal essa nova fronteira, repetindo soberba e noviciato demonstrados quando da chegada deles à web.

A certeza nessa história toda é que começou outra guerra, como novas armas e estratégias que desconhecemos. E que o avanço tecnológico é interminável.

A ridícula adesão à assinatura de conteúdo on-line pago

Lembra que encerrei 2009 falando que 2010 era o ano em que cobraríamos por conteúdo? Faltou abordar o outro lado da moeda: pagaremos por ele?

Saiu uma pesquisa bem fresca sobre o tema, trazida por Alan Mutter (o mesmo a ter detectado a quebra do negócio jornal impresso quando o acesso à banda larga residencial atinge 30% num país): os usuários que pagam aos jornais generalistas por informação on-line representam apenas 2,4% das pessoas que bancam uma assinatura de jornal impresso. É o caminho do fracasso, ainda mais que a comparação é feita com um produto há muito fadado ao fracasso comercial.

A pesquisa completa pode ser comprada por U$ 500.

Ela tem um lado esperançoso: que essa gente que banca para ler antes na web não parece muito preocupada com o custo (lembre-se: nos EUA).

É importante por ser a primeira detecção de indiferença no ano em que decidimos cobrar por conteúdo. A ver como termina essa patacoada.

‘Jornalcídio’ ameaça dedicação à profissão

Pelo menos 15 mil jornalistas já perderam o emprego neste ano nos EUA. A cifra está bastante próxima de igualar (ou até mesmo superar) o banho de sangue do ano passado, quando 16 mil colegas foram para o olho da rua.

Alan Mutter, autor de brilhante estudo que relaciona a penetração da banda larga residencial ao declínio das tiragens dos veículos impressos, faz uma reflexão não sobre quem já estava no mercado, mas que diz respeito a toda uma geração de jornalistas que está saindo das universidades e, agora, encontra muito mais dificuldades para começar na profissão numa única função _é a profusão de frilas substituindo o trabalho regular numa redação.

Para ele, a sociedade como um todo sentirá essa lacuna. “Essa perda”, diz ele, “privará, no futuro, os cidadãos dos insights que só podem ser entregues por profissionais que se dedicam a um trabalho”.

As lan houses ameaçam o futuro dos jornais impressos?

Lan House num bairro brasileiro qualquer: acelerando a lei de Mutter?

Lan house num bairro brasileiro qualquer: acelerando a lei de Mutter?

Alan Mutter relacionou a queda da circulação dos jornais ao avanço da banda larga residencial. Segundo seus estudos, é fato: quando essa penetração ultrapassa 30%, os jornais estão definitivamente feridos de morte.

Daí vejo fotos como a acima, tirada de uma apresentação do publicitário Michel Lent, e fico pensando se o buraco não é bem mais embaixo.

Explico: será que o acesso localizado à web, digo na rua, não pode acelerar esse processo?

Bem possível.

Sim, a culpa é toda da internet

Alan Mutter tem um contraponto muito bacana à tese de Jeff Sonderman, que sustenta que as notícias sempre foram de graça e, por isso, a culpa pela crise dos jornais não é da Internet e seu modelo de distribuição gratuita de informação.

Mutter, jornalista veterano e editor de um dos blogs mais relevantes sobre o futuro do jornalismo (Reflections of a Newsosaur), realizou um levantamento que liga, e diretamente, o uso da rede ao declínio da circulação dos produtos impressos.

Pelo seu estudo, países em que a adesão à banda larga residencial supera 20% da população assistem, simultaneamente, à queda de tiragem e faturamento publicitário de seus veículos de papel. Quando o número chega a 30%, o sinal vermelho se acende e a redução passa a ser brutal.

Nos Estados Unidos, ressalta Mutter, o forte movimento para baixo das circulações começou a ser notado em 2003, quando o acesso à banda larga nas casas americanas já era de 23%, e se intensificou a partir do ano seguinte, quando bateu em 31%.

Hoje, 60% dos americanos (eu atualizei o dado do texto original de Mutter, escrito em maio de 2008) possuem uma conexão rápida em seu domicílio. E os jornais, que alcançavam um terço dos habitantes dos EUA em 1946, agora têm um share de apenas 18%.

Mutter não se restringiu aos Estados Unidos: segundo ele, a tendência do “de 20% para cima em banda larga residencial, menos jornais na rua” se repete em países como Alemanha, Canadá, Holanda e Reino Unido.

Preço alto e limitação de acesso à internet em países pobres ou em desenvolvimento explicam, de acordo com ele, porque o negócio jornal ainda está no azul em lugares distintos como Brasil, China e Índia _além da franca expansão econômica, que tirou cidadãos da linha de pobreza e deu às suas economias uma nova classe de consumidores.

É questão de tempo, diz Mutter.

No Brasil, falta pouco para testarmos a regra dos 30% (porcentagem em que a coisa, de fato, fica feia para os impressos): hoje, 16% dos brasileiros possuem banda larga em casa. Até o final de 2009 eles deverão ser 20%. Estima-se que alcançaremos a “linha de Mutter” em 2011.

Está chegando a hora.