O Webmanario perguntou nas últimas três semanas a seus leitores se um jornal impresso precisa ter manchete sempre. Trocando em miúdos: se é obrigatório, a quem faz jornalismo em papel, determinar que um assunto é mais importante do que outros na construção de uma primeira página.
A maioria absoluta (61%) optou pelas duas alternativas que se complementavam, “Depende: desde que tenha uma informação realmente relevante”, que recebeu 34% das escolhas, e “Não, a manchete é uma convenção. O importante é distribuir bem os assuntos na primeira página”, com 27% _registre-se que a alternativa “Claro, jornal sem manchete está incompleto” alcançou 26% das preferências (“Não sei, nunca tinha pensado nisso” bateu em 13%).
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Quando eu respondo “não” ou “depende” à indagação “um jornal impresso precisa ter manchete sempre?”, eu claramente estou refutando um modelo que vigora desde que o jornalismo é jornalismo. Seria hora da tal da reinvenção?
Já houve jornal sem manchete, mas era dia 26 de dezembro, pleno Natal. Conta como ousadia, claro, mas reforça bastante a citação do colega Roger Modkovski de que “os jornais partem do falso pressuposto de que todos os dias há acontecimentos a serem noticiados”.
Tudo bem, ousado. Mas porque prescindir de um assunto capaz de chamar mais atenção e, portanto, ser mais promissor como produto?
Tanto é verdade que os jornais não podem navegar ao sabor dos acontecimentos como é mais que sabido que é preciso possuir na agulha material especial/investigativo para tirar o veículo da agenda. São esses os tais “diferenciais” que, além de pautar o jornalismo eletrônico, seguram uma manchete.
Mas ok, a pergunta da enquete _criticada por conter poucas opções e respostas muito fechadas_ era ainda mais existencial. Precisamos viver sob o domínio da manchete? E, além disso, qual a autoridade de quem manchetou?
Vinicius Bruno me lembrou que o “gatekeeping”, ou a escolha do que entra na edição, é meramente subjetivo. Quem é você para me dizer o que é mais importante? “Eu sou o editor, sou preparado e pago para isso, e se o leitor não gostou é porque ele é um idiota”, respondeu, certa vez, Paulo Francis.
Brilhante, mas talvez só Francis tivesse essa autoridade _acho que nem ele.
A semana de reflexão sobre o aconteceu ontem termina hoje. Foram dias de intenso debate e troca de informação. Em todas as frentes on-line.
Onde, aliás, esta conversação prossegue.