Caio Túlio Costa pode ter acertado ao dizer que sem a internet não haveria segundo turno na eleição presidencial, mas certamente errou ao creditar essa avaliação à expressiva votação de Marina Silva (PV), que ficou em terceiro na disputa ao Planalto.
A equipe da verde tem participado de alguns encontros para fazer as pessoas crerem que seu trabalho na internet foi determinante para o resultado das urnas. Enganoso.
Além de única campanha com mobilização em rede pré-existente, a candidatura ainda virou natural beneficiária da polêmica religiosa ocorrida entre primeiro e segundo turnos (Marina não apenas parece, ela realmente crê nessa coisa retrógrada que relaciona punição divina a quem pratica o aborto).
Costa, uma referência em gestão editorial, diz orgulhoso que “nem Leonel Brizola teve 20 milhões de votos”.
Claro: a última vez que o caudilho gaúcho-carioca se submeteu ao escrutínio do eleitor foi em 1998, o que elimina qualquer possibilidade de comparação.
A “onda verde” foi uma entrada a preceder o banquete, fomentado pelo jornalismo impresso, que culminou com a queda de Erenice Guerra da Casa Civil.
Ao mesmo tempo a internet estava sendo usada da forma mais baixa, mas como sempre houve na humanidade, para espalhar mentiras e bobagens em correntes de e-mail e sites de redes sociais _tendo como pano de frente o detestável caráter religioso.
O spam do mal teve muito mais reflexo no resultado da urna do que propriamente o propalado sucesso da equipe de Marina na rede.
Aliás, o oposto: quem tuitava pela senadora causou problemas ao repassar mensagem em que a morte do escritor José Saramago foi reduzida ao passamento de alguém “que blasfemou contra deus a vida toda” e por causa disso não deveria ser lamentado.
Nunca antes neste país a expressão “devagar com o andor” fez tanto sentido.