Ainda dá pra ver até março, na sede paulista do instituto Moreira Salles, a exposição As Origens do Fotojornalismo no Brasil: Um Olhar Sobre ‘O Cruzeiro’, que foca na revista de informação que circulou entre 1928 e 1975 e detém, até hoje, os recordes absolutos de tiragem (versus população do país) com várias edições acima de um milhão de cópias.
Por mais importante que O Cruzeiro tenha sido para o mercado editorial brasileiro, em particular, e para o fotojornalismo nacional, em especial, não se pode perder jamais de vista o caráter chapa-branca da publicação. Assim como Manchete, turbinada pela ditadura militar, O Cruzeiro nasceu patrocinada por um ditador, Getúlio Vargas, e boa parte de seu sucesso e furos de reportagem podem ser creditados a favorecimentos mil.
Era uma época romântica do jornalismo: repórteres tinham autonomia para fretar aviões, e jornalistas em geral tinham liberdade para mentir (ficou o famoso o caso do “disco voador” na Barra da Tijuca, claramente uma manipulação deliberada da revista).
Fotógrafo da publicação, Flávio Damm fala sem rodeios sobre as armações de David Nasser (repórter venal e simpático à ditadura) e companhia em busca de mais vendas nas bancas.
Isso não significa que O Cruzeiro não tenha exercido sua importância e que ela não deva ser reconhecida. Mas não se pode esquecer de que forma, em boa medida, foi construída.
Boa dica! Tinha me esquecido desta mostra. Valeu.