A queda de mais um ditador tendo o povo mobilizado nas ruas como ator principal suscitou outro pacote de análises sobre como a vida conectada e as redes sociais são imprescindíveis para o triunfo de rupturas desta envergadura.
Ao mesmo tempo, dezenas de analistas realçam coisas como “se a internet é mesmo tão poderosa, como explicar movimentos revolucionários e populares que se deram em épocas em que nem sequer havia telefones fixos?”.
Óbvio que Hosni Mubarak não caiu porque Mark Zuckerberg criou o Facebook _nem a internet inventou o protesto político.
Mudanças assim acontecem num país porque a sociedade, num longo processo de maturação que não caberia num tweet, passou a pensar de forma diferente.
Nesse contexto, as redes sociais e sua incontestável capacidade de mobilização e difusão de notícias são o ingrediente perfeito para catalisar e amplificar os anseios de um povo em ebulição.
Mubarak desligou a internet no Egito. Em vão: feita pelas pessoas, a rede só reproduz nossas atitudes. São elas que fazem revoluções.
Pois é. O que derrubou o Mubarak foi o povo na rua. O povo se organizou pra ir à rua conversando. O meio utilizado pra essa conversa é quase irrelevante – precisa ser o mais eficiente que estiver à disposição.
O que eu costumo dizer é que, na época das revoluções clássicas, a rede social da vez tinha outro nome: café. Ou bar. Ou universidade. Ou clube. Ou barbearia, sei lá. Ou qualquer espaço em que as pessoas possam trocar ideias e se articular, que seja relativamente público o suficiente pra entrar na conversa quem quiser e relativamente privado o bastante pra não dar na cara dos alvos assim tão fácil.
As redes sociais eletrônicas de hoje atendem a esses dois critérios. Fora as ferramentas, que permitem que esse tipo de conversa “conspiratória” ocorra sem dar na vista, numa ditadura, se reunindo nas esquinas, nada de novo sob o sol.
(OK, há algo de novo, sim. O que há de novo é que os interessados, em qualquer parte do mundo, podiam acompanhar as articulações e os registros feitos da rua. Isso é fabuloso e possivelmente aumenta a articulação do movimento. Mas o que derrubou o Mubarak não foi o Twitter, foram os tuiteiros na rua.)
Os marketeiros adoram dizer que é tudo por causa das mídias sociais, mas se esquecem de que a tecnologia, o suporte, de nada serviria se não fossem as pessoas, a situação política, etc. Não vamos nos esquecer, por favor: o que está acontecendo está nas mãos das pessoas, não das mídias.
Concordo! Estou lendo o livro “The net delusion” do Evgeny Morozov e acho que estamos perdendo a noção do papel da tecnologia. Estão, de propósito, inventando um protagonismo que não existe e que depende, como sempre foi, das mobilizações sociais. Óbvio que a circulação da informação FACILITA as coisas, mas não podemos mais cair nessa fetichização tecnológica vendida pelas empresas. Também andei escrevendo sobre o assunto:
http://azulouverde.blogspot.com/2011/02/boa-bill-clinton.html
http://azulouverde.blogspot.com/2011/01/nada-disso-al-gore.html
Claro! A internet só ajuda a organizar as revoluções, divulgando ideias, data e horário do movimento.
Como você me respondeu ontem, a internet facilitou muitas coisas na nossa vida. Entre elas, os happy hours revolucionários.
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Considero suas opiniões sempre importantes… abrem questionamentos…
Sobre o papel das redes, claro que elas sempre dependerão de pessoas…
E é justamente por ter pessoas do outro lado que elas têm a existência garantida…
Portanto, nem AS REDES e nem NADA DE REDES… acho que a conjugação da mobilização com oportunidades de interação e compartilhamento de ideias comuns fizeram com que as PESSOAS (sim, sem elas nada seria possível) pudessem amplificar seu desejo de mudança!
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Não pude participar desta discussão por absoluta incompatibilidade do dia de 24 horas. Mas o papo está bom, lembrar do café como espaço de convivência, conspiração e mobilização é uma ótima pedida.