A entrevista foi em abril, mas um pequeno trecho da conversa com o goleiro Rogério Ceni publicada pela edição brasileira da revista da ESPN me fez pensar de novo se o jornalismo deveria tratar de vez o esporte com olhar prioritário no aspecto entretenimento _suscitado pelo evidente caráter lúdico do que está em jogo.
Sou adepto do rigor jornalístico, como em qualquer editoria, mas será que estou certo? Realmente precisa? Melhor: é o que o público quer? Não estaríamos, em vários momentos, levando a coisa a sério demais?
Numa resposta ampla dentro do contexto da repercussão do que diz diariamente, Ceni afirma que a área esportiva (em geral) “deveria ser entretenimento”, ou seja, que palavras e atitudes mereciam ocupar menos destaque.
É verdade que os atletas viveriam todos mais felizes se o mundo da crônica esportiva fosse uma grande Globo _não só ela, pra não ser injusto e repetitivo: veículos jornalísticos que sobrevivem da cobertura do dia a dia, do rame-rame, não conseguem fugir muito da agenda positiva.
Um pouco como acontece com intensidade nos cadernos de turismo, carros e cultura.
Uma aresta para a gente aparar.
Acho que o Esporte tem que ser tratado como entretenimento em alguns casos (relatos de jogo, por exemplo) e como “coisa séria” em outros (investimentos para a Copa 2014). Há matérias que permitem uma abordagem leve e outras que devem ser feitas de maneira séria.
O discernimento quanto a isso deve ser feito pelo jornalista de esportes, e é isso o que me preocupa. Permita-me compartilhar um texto que achei genial: http://anivelde.org/premioosso/2010/07/03/pelo-menos-o-vannucci-so-bebe-1.htm (não sei porque o nome do link está assim, mas o título do texto é outro).
Esporte é entretenimento para o espectador, mas deixa de ser algo lúdico, para usar uma palavra do texto, quando dinheiro público (e em uma grande quantidade) é colocado em jogo.
Ou a corrida da Indy em São Paulo foi só entretenimento? Claramente teve motivações políticas. É bom lembrar que uma grande empresa de comunicação virou parceira da prefeitura da cidade para a realização do evento. Assim tudo isso deixa de ser brincadeira.
E, com a proximidade de Copa e Olimpíada no Brasil, o esporte nunca foi tão importante quanto agora para o país. Está cada vez mais se distanciando do entretenimento _ao menos no que diz respeito à enorme interferência do poder público.
Pingback: O polvo Paul e o ridículo no jornalismo « Webmanario