Imagine cobrir um acidente de trânsito e ser capaz de resgatar, passo a passo, o comportamento e a percepção do gato causador da capotagem _que deixou quatro feridos, dois deles em estado grave.
Foi o que fez um repórter do Diario de Aysén, de Coyhaique, na Patagônia chilena. A matéria dele deixa claro: o cara sabia exatamente o que fazia e “pensava” o felino ao atravessar inocentemente uma avenida e cruzar o caminho de um Jeep Cherokee.
“O gato escutou o motor do carro, à distância, rompendo o silêncio, chegando cada vez mais rápido. Então, assustado, decidiu daquilo que parecia ameaçá-lo. O motorista do carro mal viu a negra silhueta que cruzava o seu caminho”, diz a reportagem, que informa em primeira mão: “O gato, do outro lado da rua, girou a cabeça e observou por um segundo o jardim da praça destruído, com as flores espalhadas pelo chão, e desapareceu”.
Senhores, esse repórter entrevistou o gato. É um fenômeno.
PS: Capaz de os defensores do jornalismo literário (essas duas palavras que não se bicam) acharem legal. O webfanzine Disorder já decretou o autor da pérola “o pior jornalista do Chile“.
Eu adoro o Gay Talese, mas tudo o que é criado como substantivo lá fora chega aqui como adjetivo. O que lá é esmero na carpintaria do texto chega em terras cucarachas como desculpa pra não apurar. Triste. Quando alguém me fala que faz jornalismo literário, trato de esconder minha carteira.
Marcelo,
Eu continuo com a minha definição, que em muito corrobora a sua: jornalismo e literatura são palavras que não se misturam…
abs
Pois é. Uma coisa é o sujeito escrever bem o que apura. Mas isso é mérito, não necessariamente método. E firulas pouco têm a ver com isso.
Fora que não pode inventar. Pelo amor de deus, tem de falar isso ainda hoje?