Há tantas bobagens entre as 6.094 sugestões debatidas que nem mesmo a internet suportaria a íntegra. Coisas do naipe da “criação do tribunal da mídia para julgar a impunidade dos crimes cometidos pelos oligopólios”, “coibir a exploração fantástica, principalmente, de fatos trágicos” ou ainda “que nas faculdades de jornalismo hajam conteúdos específicos ao chamado jornalismo social, para capacitar os profissional de comunicação a entender e transmitir o sentido das problemáticas sociais que vivemos”.
Tenho certeza que o documento final da conferência deve limpar em boa parte essa coleção de asneiras (pra não ficar tão feio). Mas é importante saber em que nivel anda o debate sobre a nossa profissão: escoando pelo ralo e capitaneado por entidades financiadas pelo governo arrotando regras que, fosse em outra situação política, seriam taxadas de autoritárias e descabidas.
Não reconheço nessas pessoas (há exceções, claro) autoridade para debater o tema. Pior, para politizá-lo. Muito triste.
Antes que eu profira palavrões, encerro o texto endossando as palavras de Paulo Tonet, da ANJ (Associação Nacional de Jornais), para quem o controle social da mídia já existe: “É o controle remoto e o jornal na banca. Fora disso é censura”.
ATUALIZAÇÃO: A Confecom terminou com a aprovação de 672 propostas. Não é possível que alguma não seja imprestável.
Será que essa estirpe não se dá conta que vira anedota?
Alex, não sou lá um dos grandes defensores da Confecom. Mas me assusta muito essa sua última frase. Muito mesmo. Pelo controle remoto da tv só assistimos a formação de massas que recebem o que é dito pelos jornais como fatos (e não com versões do real) e esperam ansiosamente pelo domingo pra ver a dança dos famosos. Você critica a regulação estatal, e eu estou contigo nessa. Mas defende a regulação da liberdade de expressão pelo mercado? Daí não é mais o estado dizendo quem fala e quem não fala, é só ter capital de investimento. Essa era já passou… creio que você precisa de posicionar um pouco melhor.
Thalles,
O controle remoto da TV não é mais o mesmo, assim como o poder dos jornais e revistas nas bancas. É engraçado que a gente passa ano após ano analisando a perda de relevância da grande mídia e, numa situação como essa (e só nessa), a mídia é apresentada como uma máquina devoradora de mentes, um monstro que precisa ser controlado?
Vá às lan houses de periferia e veja que o público já faz a sua própria programação, sem interferência do malévolo mainstream.
abs
Por mais que penerem as ideias estúpidas, não tem como uma conferência dessas ser proveitosa. Pelo contrário, com tantas entidades dúbias e xiitas envolvidas, como a Fenaj e a CUT (?), não existe a menor chance de um documento desses ser levado a sério.
Pior que isso só as instituições de ensino superior – particulares, na maioria – apoiarem esse balbúrdia, usando seus centros acadêmicos para fantasiar alguma representação, quando, na verdade, só estão morrendo de medo de que os cursos vagabundos de comunicação espalhados por aí fechem suas portas.
Fabio,
Concordo integralmente com vc. Numa mesa em que se sentam, por exemplo, CUT e Fenaj para falar de jornalismo, só pode sair bobagem. Essa conferência mostra o triste nível em que se encontra o debate a respeito da profissão no Brasil.
abs
O problema é que comunicação não é vista como direito. O mercado reduziu a um serviço, por isso a tese do cabra da ANJ. O que me assusta muito, por sinal, a sua defesa.
Sobre as propostas aprovadas que você comentou acima…lembre que a sociedade civil participou da formulação e aí p/ mim fica a lição. Se a turma quer criar um tribunal de mídia é sinal que perceberam a influência que os media exercem na sociedade.
Aqui na Bahia não foi diferente. Quando a sociedade falava ficava claro que o povo não é bobo e cobrava esse tal controle social. Por outro lado, os empresário pensam diferente. Até pq, se comunicação é um serviço, dane-se o consumidor. Quem não gostou mude de canal ou compre o jornal concorrente. O problema é que TV, por ex, é concessão pública e assim como água, energia e telefone devem contar com qualidade em seus produtos.
Yuri,
E o direito à liberdade de expressão? Parece-me que estamos discutindo estratégias de cerceamento do trabalho da mídia, nada mais do que isso, em benefício de uma turma que, além de tudo, propõe a recriação de uma série de cabides de empregos públicos inúteis (outra proposta aprovada pela Confecom). Para mim isso se chama aparelhamento.
Quanto à influência da mídia, para mim isso não cola mais. Aliás, essas mesmas pessoas não se cansam de bradar que ela perdeu a relevância num tempo em que todo mundo publica, todo mundo participa do processo de coleta/apuração/análise/difusão da informação. De novo, eu acho que estamos entrando num terreno pantanoso e enlameado de, na verdade, fiscalizar aquilo que vai contra (e apenas isso) os interesses do grupo político no comando.
Felizmente a Confecom é apenas uma curiosidade, não tem poder deliberativo. Sob qualquer ponto de vista, é um absurdo o tipo de discussão que se propôs no evento. Um esgoto de péssimas ideias.
abs
Discordo do senhor. Aliás, não o vi por lá, para dar muito crédito a este pois e um link do G1 descredita ainda mais…
As 6 mil propostas da Confecom foram uma consequência do regulamento “possível” de que toda proposta, de quem quer que seja, pudesse ser encaminhada para a etapa nacional.
Mas, nos quatro dias, históricos e únicos para o debate da comunicação no país, as negociações e embates foram muito positivos. Negar debate sobre a comunicação é que é uma asneira com a qual sempre convivemos.
Sobre “o controle da tv e o jornal na banca”, isso sim é uma asneira. Acreditar na historinha contada pelo Bonner. Mudar de canal é ter um controle ínfimo, negando o controle ideológico e econômico de quem faz o que quer na mídia.
A Confecom entrou na cozinha da mídia. Houve algumas inconsistências em propostas, mas o todo é um grande documento que precariamente tenta represar uma enxurrada de décadas de silêncio.
Sinta-se convidado a construir a 2ª Confecom, pois é sabido que ainda faltará muito.
Marcelo Igor,
Ainda vejo tudo isso como se fosse um concurso de escola de samba. O que as pessoas querem é se classificar para a próxima eliminatória.
É querer avançar um tentáculo em algo que deve ter autonomia (e ser questionado judicialmente e severamente quando comete erros).
Ainda mais numa época em que cada cidadão tem uma imprensa pessoal, e pela primeira vez nós, os cidadãos, que sempre fomos vigiados pelas instituições, podemos vigiá-las e nos mobilizarmos para exigir conduta reta.
E, não, obrigado, eu não posso participar de um fórum que tem como prerrogativa estabelecer restrições ao exercício da minha profissão.
Tendo posto isso, é evidente que sua opinião é importantíssima para se debater a questão. Até por que vc me conhece e sabe bem que sempre estive ao lado da participação e da colaboração.
Discorde sempre, faz muito bem.
abs
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A Confecom é um começo
A primeira Conferência Nacional de Comunicação venceu as limitações originais e terminou como exemplo histórico de democracia participativa. Foi um marcante revés para os setores da sociedade que se locupletam do eterno colapso de representatividade política, origem de monopólios e privilégios em qualquer área.
As grandes empresas jornalísticas boicotaram o evento, demonstrando que seu conceito de liberdade equivale a um monólogo sem discordantes, à concessão de bens públicos isenta de contrapartidas. E se pensavam que sua ausência afetaria a legitimidade dos debates, devem estar decepcionadas.
Mas parece prudente evitar regozijo demasiado. O documento elaborado pela Confecom servirá apenas como base hipotética e parcial para medidas legislativas. Nem todas as mais de 600 propostas resultantes são plausíveis ou positivas (por exemplo, a exigência de diploma jornalístico). É impossível que o Congresso atual aprove um emaranhado de mudanças drásticas em ano eleitoral. E é improvável que qualquer legislatura contrarie o poderosíssimo lobby da indústria midiática.
O tempo das evoluções é longo. Se, daqui a dois ou três anos, um pequeno conjunto de idéias se transformar em modesta lei que demorará mais uma década para ser cumprida, já teremos avançado muito. Fica, no entanto, o símbolo do poder transformador da mobilização popular. Alguns o vêem como ameaça: pior para eles.
É mais fácil ficar em casa escrevendo asneiro num blogue, não é?
Gustavo,
Asneira por asneira, prefiro as legítimas e democráticas, não as persecutórias e patrulhadoras.
abs
Alecduarte,
e pescar meia duzia de proposta ruim dentro de 6 mil não é patrulhador e persecutório?
Gustavo,
É que o simples fato de se debater restrições ao trabalho jornalístico já me parece um despropósito. O Código Civil dá conta do recado e garante punição a quem avançar o sinal e for irresponsável.
abs
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