Acaba de sair um estudo na Suécia que coloca sobre a mesa uma porção de questões interessantes sobre a nossa profissão. A conclusão é que os jornalistas vivem um eterno conflito existencial entre o interesse do público e o que consideram verdadeiramente notícia.
Recentemente conversei com Pablo Pereira, editor-executivo na web de O Estado de S.Paulo, sobre o quesito audiência. E a posição dele é clara: que o jornalista não pode estar preocupado com o alcance do que relata, ou melhor, em entrar numa disputa clique a clique nas matérias que escreve.
O que deve prevalecer, diz Pablo, é nossa noção profissional do que é relevante e deve ser destacado e priorizado.
Há uma pontinha de arrogância numa declaração como essa, mas eu tendo a concordar em grande parte com ela. Valorizo como poucos a importância de se ouvir a audiência e dialogar com ela, mas isso não exclui nossa responsabilidade de, sim, e enquanto houver esse modelo de distribuição de notícias, apontar o que é importante.
Ulrika Andersson, do Departamento de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade de Gotemburgo, resume bem a situação. “Geralmente, os jornalistas sentem que é importante responder àquilo que a audiência quer, mas ao mesmo tempo eles frequentemente não sabem realmente do que se trata”.
Para muitos, bastam os dados de acesso às notícias on-line do dia anterior.
E eu pergunto: será?
os portais descobriram que o que dá audiência é bizzarice, e ficam cozinhando tabloide inglês. Aí você tem um reportagem, com fontes, entrevistas, foto, infográfico, relevância jornalística e perde espaço para um despacho de agência de 300 caracteres ou uma tradução mal-feita do daily mail.
Renan,
isso sem contar que a cozinha ou a tradução malfeita são muito mais baratas de fazer. É uma questão que envolve vários ângulos mesmo, difícil de solucionar.
abs
Bah! A moça de Gotemburgo sim foi arrogante demais! O brabo é que já ouvi essa mesma colocação de vários jornalistas… “NÓS dizemos o que é importante porque o público, coitadinho, não sabe o que realmente importa.”
Importa PARA QUEM, cara pálida?
Ana,
Nessas horas sempre lembro de Paulo Francis e uma frase lapidar de arrogância jornalística (porém deliciosa): “eu sou editor, sou pago pra isso e escolho o que o leitor vai ler. Se ele não gostar é porque é um idiota”.