Muito do que Lula tem dito sobre o trabalho da imprensa não só faz bastante sentido como, temos de admitir, está correto.
Como num evento com catadores de papel, na semana passada, quando o presidente disse que a mídia “já não decide mais, porque o povo não quer mais intermediários”.
Eu não diria nem que não quer, mas a verdade é que ele não precisa. O avanço tecnológico e a comunicação em rede permitiu isso, a comunicação direta entre governante e governado. Ou não foi essa a mensagem transmitida por Barack Obama na campanha eleitoral do ano passado?
No mesmo evento, Lula pediu aos repórteres que não interpretassem fatos. Outra recomendação, direcionada a um repórter, que parece correta, não?
Interpretar (diferente de fazer sinapses e mostrar situações) é um papel um pouco mais acima na cadeia produtiva do jornalismo.
Agora, quando diz que o papel da imprensa não é fiscalizar, mas informar, como em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Lula extrapola o bom-senso. É ambos, senhor presidente.
Mas não acho que devemos atirar pedras pelo conjunto da obra de suas opiniões sobre nossa profissão. Pelo contrário, elas estão alinhadas com o planeta Terra em 2009.
Tecnicamente, não estão erradas. Politicamente, que é a praia dele, o uso delas é para desqualificar a imprensa, especialmente a que publica material mais crítico.
Marcelo,
Sim, não entrei nesse mérito, mas todos nós já fomos vítimas desse discurso (especialmente em público) visando ao nosso constrangimento. Mas somos duros na queda. Pode bater, que a gente bate mais. Mas insisto que, na essência, o homem está certo.
abs
Sim, olhando por esse lado, na essência ele está correto.
Assim como na minha área o pessoal tem que se antenar e não ser apenas o bibliotecário que encontra o livro na estante para o usuário.
Abraços!
Ah, essa provocação está muito boa, Alec, vou meter o bedelho. Olha só, acho que não devemos desconsiderar o contexto político dessas afirmações. “Na essência”, acredito que o papel político do jornalista, de fiscalizar poderes, interpretar fatos (ou conectar; é uma discussão semântica) e criticar nunca esteve tão em voga em tempos de internet. Disseminar informações é que não é mais o core business, digamos, da profissão. O ponto em que acho que o Lula está correto é quando ele pede que as empresas sejam mais honestas nos editoriais, ao invés de editorializar o conteúdo. Abs!
Renato,
A ideia foi exatamente essa, provocar, hahahaha. Vc já conhece os propósitos camuflados do Webmanario, pô! Mas olha só, não excluo a contextualização política dos pitacos do presidente não, pelo contrário. Mas ainda acho que a gente não pode perder de vista o relato da jornada. Lula (e você) talvez tenham pensado apenas no jornal impresso e diário, mas temos o ambiente on-line e (esse sim) com a obrigação de cravar o hard news nosso de cada dia.
Obrigado pela visita!
abs