Sim, a culpa é toda da internet

Alan Mutter tem um contraponto muito bacana à tese de Jeff Sonderman, que sustenta que as notícias sempre foram de graça e, por isso, a culpa pela crise dos jornais não é da Internet e seu modelo de distribuição gratuita de informação.

Mutter, jornalista veterano e editor de um dos blogs mais relevantes sobre o futuro do jornalismo (Reflections of a Newsosaur), realizou um levantamento que liga, e diretamente, o uso da rede ao declínio da circulação dos produtos impressos.

Pelo seu estudo, países em que a adesão à banda larga residencial supera 20% da população assistem, simultaneamente, à queda de tiragem e faturamento publicitário de seus veículos de papel. Quando o número chega a 30%, o sinal vermelho se acende e a redução passa a ser brutal.

Nos Estados Unidos, ressalta Mutter, o forte movimento para baixo das circulações começou a ser notado em 2003, quando o acesso à banda larga nas casas americanas já era de 23%, e se intensificou a partir do ano seguinte, quando bateu em 31%.

Hoje, 60% dos americanos (eu atualizei o dado do texto original de Mutter, escrito em maio de 2008) possuem uma conexão rápida em seu domicílio. E os jornais, que alcançavam um terço dos habitantes dos EUA em 1946, agora têm um share de apenas 18%.

Mutter não se restringiu aos Estados Unidos: segundo ele, a tendência do “de 20% para cima em banda larga residencial, menos jornais na rua” se repete em países como Alemanha, Canadá, Holanda e Reino Unido.

Preço alto e limitação de acesso à internet em países pobres ou em desenvolvimento explicam, de acordo com ele, porque o negócio jornal ainda está no azul em lugares distintos como Brasil, China e Índia _além da franca expansão econômica, que tirou cidadãos da linha de pobreza e deu às suas economias uma nova classe de consumidores.

É questão de tempo, diz Mutter.

No Brasil, falta pouco para testarmos a regra dos 30% (porcentagem em que a coisa, de fato, fica feia para os impressos): hoje, 16% dos brasileiros possuem banda larga em casa. Até o final de 2009 eles deverão ser 20%. Estima-se que alcançaremos a “linha de Mutter” em 2011.

Está chegando a hora.

8 Respostas para “Sim, a culpa é toda da internet

  1. O consumidor deixa de pagar para comprar o jornal, e paga pelo acesso a internet, com as vantagens de além de ler as noticias, pode assistir vídeos, conversar, navegar em geral.
    Se ver por esse lado, não é o jornal impresso em si que está ruim, é a facilidade de acesso as noticias que deixa o comprador de jornal em casa, se informando pela web, se as empresas jornalisticas se setorizassem em impresso e online cobrando ambos os serviços, o leitor da folha online só poderia ler as noticias de casa se pagasse uma assinatura, caso quisesse ler os chamados sem pagar iria comprar o jornal que cust amenos do q assinatura no portal.
    Bom até eu me perdi no raciocinio, mas e isso.
    Abs!

  2. A culpa é sim, da Internet, mas eu acho que o buraco é mais embaixo. A Internet afeta o modelo de transmissão da informação puramente na base da economia de escala – ou nesse cado, da economia fora-das-escalas.
    Na Internet, não existe escassez de recursos, então podemos publicar tudo, o bom e o ruim, o útil e o fútil, e confiar na própria estrutura da Internet para garantir que a informação certa chegue ao lugar certo.
    A função básica do jornalista era a de gerenciar recursos que possibilitariam a difusão das informações. Não existe mais recurso para gerenciar, portanto, não necessitamos mais do jornalismo “tradicional”.

    • Danilo,

      eu tenho uma outra visão sobre esse tema. Acho que a função do jornalista está a cada dia mais valorizada justamente por causa da distribuição caótica da informação. Contar com o trabalho de um profissional que hierarquize por relevância o noticiário, na minha opinião, será uma tarefa cada vez mais valorizada na era da conversação e da alta tecnologia.

      abs

  3. Alec,
    Concordo com você, pois também estão buscando analistas de informação (como costumam denominar bibliotecários também), para classificação, indexação de informações que são relevantes nesse mar de informações disponíveis na rede.
    Quando trabalhei em uma empresa de consultoria em engenharia mineral, capturar as informações relevantes e necessárias ao negócio da empresa era o ponto de partida para a construção de propostas e captação de novos clientes. Não tinha e não tem como confiar em tudo que está na rede, cada vez mais será necessário profissionais ligados à área de informação para melhor filtro e disseminação de informação relevante em tempos de convergência de mídias.
    Abraços!

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