Em entrevista a Sylvia Colombo publicada neste sábado pela Folha de S.Paulo (só para assinantes), Gay Talese, 77 anos admite que fala “como um velho da profissão”.
Expoente do new journalism (movimento que empurrou a não ficção em direção à literatura), Talese diz que os jornais ajudaram o valor-noticia a despencar para zero ao liberarem seus conteúdos on-line. “É preciso cobrar pelo que se publica. Porque se trata de uma tentativa de encontrar a verdade necessária para a sociedade, e que tem um preço”.
O escritor se esquece que o conteúdo, agora, não é distribuído apenas por quem o produz. Ele é compartilhado na rede. Pelo seu próprio público. A cada dia mais rápido e por mais canais. É uma situação que não se pode mais deter. Se você não o disponibiliza sem ônus, alguém o fará.
Mas Talese (autor de célebres reportagens travestidas de obras literárias) mostrou conhecer muito bem a noção de filtragem, fundamental nestes tempos de informação tão abundante. “Não é possível dar um google em tudo e achar que assim se está informado. A internet está cheia de lixo”, afirma, com razão, ainda que a frase pareça da lavra de Andrew Keen, o ex-crítico número um da web.
Mas como, então, evitar o gradual desinteresse do público pelas publicações impressas? “Não sei”, encerra Talese.
“verdade necessária para a sociedade”? Não sabia que o jornalismo tinha essa intenção…
O problema de muita gente, mais notadamente os mais velhos, é que esquecem que a internet é fruto do homem e que, com isso, leva tudo de bom e ruim que o homem produz. Por isso a internet tá cheia de lixo, assim como a vida “real”.
Rodrigo,
Também achei o “verdade necessária para a sociedade” presunçoso. Tipo, quem disse?
Sobre a internet: assino embaixo. Ela não é extraterrestre. Blame on us.
abs
Concordo, está mais do que na hora de abolir esse discurso que aponta a internet como a lixeira moral da humanidade. Toda vez que um meio ou um suporte ganha notoriedade, lá vem a balela. A internet é só a vítima da hora. Por quanto tempo ouvimos que a TV era puro lixo? Na década de 80, quando houve um boom de publicações de literatura infantil no Brasil, se falava a mesma coisa, que havia muito lixo, que se deveria publicar menos. Seletividade vale pra tudo, para o controle remoto, pra banca da esquina e, claro, para a internet, mas há uma riqueza nisso (e até no lixo): a diversidade.
Adorei o “não sei”.
Em alguns tipos de discussão, acho que é mais fácil encerrar dessa forma que dar palpites demais.
É o caso do “futuro” do jornal impresso.
Fico me perguntando como devia ser quando a TV surgiu.